Pix impulsiona meios de pagamento digitais na América Latina (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Repórter do Future of Money
Publicado em 19 de julho de 2024 às 10h22.
Após o sucesso do Pix, o Banco Central trabalha agora para desenvolver o Drex, que promete ser a versão digital da moeda brasileira e com uso da mesma tecnologia por trás das redes blockchains. Entretanto, Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks, acredita que o sistema de pagamentos instantâneos do BC não teria um "ganho efetivo" se adotasse a tecnologia do Drex.
Em entrevista à EXAME, o executivo, cuja empresa é responsável pela criptografia usada no Pix, explica que o sistema "tem funcionado muito bem com um banco de dados centralizado, nunca ouvi alguma quebra de segurança ou de institucionalidade na gestão do BC desse banco de dados".
"Se o Pix fosse começar agora e escolhesse blockchain, não perderia nada que temos hoje, mas não vejo problema na gestão que o BC faz hoje, sem blockchain. Batemos outro recorde e provavelmente vamos continuar batendo recordes com as novidades, como o Pix com aproximação", avalia.
Zanini opina ainda que "o blockchain é uma tecnologia muito boa quando quer garantir um controle descentralizado, por algum motivo, como quando tem um banco central com força relativa do ponto de vista institucional, o governo não é um detentor grande de tecnologia e precisa terceirizar. A principal das características é que é um banco de dados imutável, não tem como mudar a informação, então para transferências de bens isso tem um valor imensurável".
Entretanto, ele acredita que esse não é o caso do Banco Central, que ajudou a criar um sistema financeiro moderno e desenvolveu uma infraestrutura própria capaz de lidar com recursos como o Pix.
"O Pix é um sucesso, nem o BC esperava o volume de transação que a gente tem, e tem um desafio do ponto de vista de segurança na fraude e na disponibilidade. Ninguém admite mais que o Pix fique 1 segundo fora do ar, são 2,5 mil, 3 mil transações ocorrendo por segundo hoje. É um desafio que a gente superou, e vira escola para as outras coisas que a gente vai fazer", diz.
O CEO da Dinamo explica que, do ponto de vista tecnológico, o Drex e o Pix tem naturezas "muito diferentes": "No Pix, tem a intermediação do Banco Central, que tem um banco de dados que correlaciona a chave Pix e a conta destino, e a base é do BC. Quando ouve falar de vazamentos, o que está falando é que teve um vazamento de chaves em algum banco que origina o pagamento, e na prática isso não compromete o usuário final".
Se, nesse sistema, o Banco Central é o "ente centralizador das transações", no blockchain essa gestão acaba sendo mais descentralizada. No caso do Drex, um caminho para ter menos descentralização foi a escolha de uma rede permissionada, em que o BC autoriza instituições financeiras a entrarem na rede e terem seus "nós", onde as operações são registradas.
Para Zanini, isso resulta em uma "estrutura mais forte e com uma segurança maior, porque ela é descentralizada e, se alguma transação não bater, é muito mais fácil rastrear. O conceito do blockchain permite que faça um contrato inteligente, e aí define para quem o dinheiro vai, para que vai ser usado, quando pode ser usado. São informações na transação que permitem ter um controle mais efetivo".
"São modelos de transação diferente, mas o Drex tem potencial pra chegar no que o Pix é hoje. O volume dele pode bater o do Pix sossegado", diz.
Por outro lado, o CEO da Dinamo ressalta que o projeto de CBDC brasileira também possui seus desafios. O principal, na sua visão, envolve a privacidade de dados. "Um banco não pode ter acesso ao volume de transação realizado. É uma privacidade do volume, do negócio bancário. Existem algumas propostas de solução que estão sendo testadas".
Zanini acredita que a garantia de privacidade terá uma solução, mas é preciso avaliar os custos de perda de performance ou adição de complexidade no projeto. "A segurança traz um conceito de restrição. Quanto mais aperta, mais difícil o negócio pode ficar. Acho que vamos ter uma solução consensual entre o tanto de privacidade versus a restrição no funcionamento".
Ele lembra ainda que, "do ponto de vista do consumidor, tem a privacidade das informações. Embora o sistema financeiro seja protegido por lei, com o sigilo bancário, quando necessário, o BC consegue ter acesso. A questão é proteger para um terceiro sem direito de acessar a informação".
Nesse caso, ele acredita que será preciso encontrar soluções de criptografia que englobem tanto o dado circulando na plataforma do Drex quanto os armazenados. "Acho que vamos resolver o problema. A gente tem ferramenta, tecnologia pra isso, então não vejo como um desafio impossível, a questão é a dosagem do quanto e quem pode acessar a informação", avalia.