Pix Crédito faz parte da agenda evolutiva do Banco Central (Banco Central/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 5 de julho de 2023 às 09h22.
Com menos de três anos no mercado, o Pix já se tornou um sucesso entre a população, superando formas de pagamentos mais tradicionais e, até então, consolidadas no Brasil. Entretanto, o Banco Central ainda possui uma agenda evolutiva em desenvolvimento, que vai resultar em novidades para o sistema de pagamentos instantâneos. E uma delas é o Pix Crédito.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Rodrigoh Henriques, diretor de Inovação da Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac) deu mais detalhes sobre os planos da autarquia para a novidade, que na verdade representa "várias funcionalidades em uma só". Até por isso, ele explica que o nome final da atualização pode mudar, mas que o objetivo será o mesmo: facilitar e ampliar o acesso ao crédito.
A medida pode ajudar a aumentar a inclusão financeira no Brasil e facilitar o uso do crédito pela população. Entretanto, ela também deverá trazer alguns desafios que precisarão ser enfrentados pela autarquia. Henriques pontua, porém, que esses elementos já estão no radar do Banco Central e fazem parte de uma agenda mais ampla, de digitalização econômica e inclusão financeira, da qual o Pix faz parte.
O diretor da Fenasbac define o Pix Crédito como uma novidade que vai trazer várias funcionalidades, mas com foco em complementar duas operações: agendamento e parcelamento de pagamentos. "Hoje, o Pix é um sistema de pagamentos simples, instantâneo, sem necessidade de um cartão. O que falta nele é poder agendar um pagamento, pré-datar o pagamento, outra coisa é o parcelamento".
Entretanto, a possibilidade de agendar e parcelar traz outro "benefício que a sociedade quer": "Essa transação pode ser garantida? Se eu parcelar para a pessoa no Pix, eu tenho a garantia que esse dinheiro vai entrar?". É nesse ponto, explica Henriques, que o conjunto de novidades passa a incluir o crédito, como forma de garantia para o vendedor ou recebedor do pagamento. Por isso, a ideia é que o Pix Crédito resolva essas questões.
"É uma das grandes promessas do Pix, e de qualquer meio de pagamento. Ser à vista, agendado e com crédito vinculado", diz o diretor. Nesse sentido, Henriques vê uma convergência dessa agenda com o modelo de crediário - o crédito usado para comprar bens de consumo -, que já "antiga e bem estabelecida" no Brasil. A consequência dessa opção seria o "buy now, pay later" (compre agora, pague depois, em tradução), que seria "o crediário com tecnologia de pagamentos eletrônicos e uma inclusão".
A expectativa dele é que o Pix Crédito permita que os produtos de crediário "cresçam muito" no Brasil. A novidade deve permitir que os agentes do mercado financeiro consigam "personalizar melhor a oferta de crédito, com foco em crediário, e especificando para diferentes produtos, serviços, gastos, e permitindo conceder crédito a uma taxa menor".
Segundo Rodrigoh Henriques, o Pix Crédito deverá ser um foco na agenda de desenvolvimento do Banco Central a partir do primeiro semestre de 2024. Antes disso, o sucesso da ferramenta depende de outras duas atualizações: O Pix Agendado e o Automático. O primeiro permitirá a realização de pagamentos agendados, e o segundo trará os pagamentos com recorrência automática.
O Pix Crédito começará a ser pensado apenas depois disso. "Quando olha essa agenda, até o começo do ano que vem ou fim desse vai ter a ideia do Automático, mais especificamente para pagamentos recorrentes, e aí a ideia é que possa ter uma central de pagamentos recorrentes usando o Pix, em que você consiga ver todos os pagamentos que faz e consiga gerenciar de uma forma melhor. O próximo passado depois disso é gerar a garantia para o pagamento, porque aí consegue crescer e passa a fazer a função de crédito", explica o diretor.
Para Henriques, um ponto de atenção no Pix Crédito é o efeito sobre outras alternativas do mercado voltadas para essa área. Ele explica que, como no caso do Pix, "ele pode ocupar espaço de quem já existia e fazer parte desse pagamento sumir, ou então pode criar espaços novos que não existiam, com pessoas que não faziam esse tipo de pagamento, transferência".
Ele pondera que o Pix teve um efeito mais próximo da segunda hipótese que da primeira, "aumentado o uso dele mesmo mais do que reduzindo o dos outros. O que ele gera é um impacto na curva de crescimento das outras opções de pagamento, vira uma curva de crescimento que não se realiza". O diretor da Fenasbac acredita que o impacto será semelhante no caso do Pix Crédito.
A tendência é que ele seja responsável por "estabilizar as outras opções, como o cartão". Além disso, ele ressalta que "uma coisa em que o Pix tem provado que é muito bom é reduzir as taxas para os clientes finais". Por isso Henriques espera que o Pix Crédito ajude em uma "correta precificação dos serviços de crédito", aumentando a competitividade, trazendo um produto mais eficiente e barato e, consequentemente, reduzindo as taxas médias das outras opções.
Ao mesmo tempo, Henriques acredita que a novidade vai facilitar o acesso a crédito no Brasil, o que também representa um desafio considerando a alta inadimplência de brasileiros e uma educação financeira deficitária. Mesmo assim, ele pontua que o Banco Central tem essa questão no radar, pensando em um incentivo à discussão sobre "o uso correto do crédito, e consciente".
O diretor da Fenasbac destaca que as iniciativas de maior inclusão financeira e de incentivo à educação financeira "têm andado juntas, mesmo que não ganhem o mesmo destaque". "Ofertar crédito é o momento mais crítico de intensificar o processo de educação financeira. Por isso o Pix Crédito não foi, e nem vai ser, a primeira coisa a aparecer. É toda uma construção de meio de pagamentos", diz.
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