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Pessoas serão substituídas por quem souber usar melhor IA, diz Martha Gabriel

Para especialista, é preciso perder preconceitos sobre inteligência artificial e aprender os diferentes usos para a tecnologia

Inteligência Artificial Geral traz benefícios e riscos para a sociedade (Reprodução/Reprodução)

Inteligência Artificial Geral traz benefícios e riscos para a sociedade (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 11 de junho de 2023 às 10h15.

Última atualização em 12 de junho de 2023 às 11h10.

Lançado há apenas seis meses, o ChatGPT se tornou uma grande vitrine do potencial de mudanças que as inteligências artificiais generativas poderão gerar na economia. Para Martha Gabriel, escritora, consultora e especialista em tecnologia, isso mostra também a necessidade de deixar preconceitos de lado e aprender a usar essas ferramentas, evitando "ficar para trás" dessa revolução.

Em entrevista exclusiva à EXAME após sua participação no evento NFT Brasil, a especialista destaca que o sucesso do ChatGPT ocorreu de uma mudança na forma de contato entre a inteligência artificial e a população em geral. "As IAs existem há 10 anos, mas antes nós éramos usuários secundários. Com o ChatGPT, você começar a ter uma IA democrática", explica Gabriel.

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Esse movimento permite que as pessoas tenham mais acesso à tecnologia, com suas vantagens e diferentes aplicações tanto no trabalho quanto em outras atividades do dia a dia. E a especialista ressalta que tudo isso "está só no começo. É a ponta do iceberg, uma mostra do que vai ser. As pessoas criticam os erros das IAs por exemplo, falam que vão burlar, mas a tendência é que, com o tempo, as IAs vão aumentar cada vez mais a precisão".

Por isso, ela defende que é importante que as pessoas acompanhem essa tecnologia e aprendam a usá-la. Para Martha Gabriel, "o único caminho para lidar com a inteligência artificial é aprender a usá-la. A IA já substitui atividades e vai continuar fazendo isso, porque é algo que ocorre ao longo da história da humanidade. Quando a tecnologia faz algo melhor que o humano, há a substituição".

Entretanto, ela pontua que "quem substitui uma pessoa no trabalho é o humano que sabe usar melhor a tecnologia", o que torna muito importante entender o que é uma inteligência artificial, qual o seu potencial, limites e casos de uso. Esse processo envolver "mudar a mentalidade" em relação à tecnologia e deixar preconceitos de lado, que muitas vezes acabam atrapalhando no contato com novidades.

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Educação sobre inteligência artificial

E a educação também deverá ter um papel essencial nesse processo, segundo Martha Gabriel. Para ela, uma melhoria no ensino é urgente, ajudando as pessoas a "saber qual ferramenta usar, quais estão usando por aí, os diferentes tipos. Sem isso, não entende a questão dos vieses, de entender se uma IA é realmente confiável. O que acontece se você estrutura a sociedade em cima de algo com falhas?".

Ao mesmo tempo, ela pondera que é importante pensar não apenas nos problemas do futuro, mas entender e solucionar os problemas do presente: "é preciso questões de vieses, trabalhar em desenvolvimentos, acordos, para resolver as coisas agora, porque se não resolver agora, a IA não vai ser ética no futuro, não vai ter essa base".

No caso do Brasil, Martha Gabriel vê um "sistema operacional ruim" que atrapalha tanto a área de educação quanto a de inovação. Mesmo assim, ela destaca um esforço recente de trabalhar mais conteúdos educativos sobre tecnologia, o que a deixa "otimista".

Outro ponto que ela considera importante é a carta divulgada recentemente e assinada por especialistas e executivos, como Elon Musk e Yuval Noah Harari, pedindo uma pausa nas pesquisas de inteligência artificial. "Eles não são ingênuos de acharem que ia efetivamente parar tudo, e existem interesses comerciais por trás, mas a carta foi incrível porque trouxe o assunto na mídia. As pessoas sabem que existem coisas que precisam ser pensadas, essa disseminação ajuda na educação", pondera.

E a regulação também é um tema necessário ao pensar em inteligência artificial, com os riscos dessa tecnologia. O cenário piorou na visão de Gabriel, já que, anteriormente, as IAs de ponta eram desenvolvidas em universidade e ambientes de pesquisa privada, mas agora estão surgindo na área de produção, com forte competição entre empresas.

"Todo algoritmo tem objetivo, viés, e a implementação também viés. Nessa correria por poder de mercado, os interesses são específicos de cada empresa, e várias das coisas que deveríamos parar pra pensar, entender as consequências, acabam sendo passadas por cima. As empresas estão sempre direcionado a tecnologia para competição de mercado, e não em soluções para a humanidade", afirma.

Para a especialista, a necessidade de investir mais em educação e de regular a nova tecnologia mostra a "responsabilidade enorme" dos governos. Ela destaca que "não é só regular. Você precisa de novas réguas para regulação, de formas de fazer, porque em 6 meses o ChatGPT já mudou de versão, e as leis não seguem isso, e não adianta regular sem fazer cumprir também".

"Com políticas públicas o Estado consegue isso, ações de órgãos públicos, não dependendo nem do governo central. Se o governo, de maneira sistêmica, mudasse o incentivo para tecnologia, inovação e educação muito rapidamente conseguiria começar a colher esses resultados. Se não tem políticas de cima pra baixo, não tem inovação sistêmica", diz a especialista.

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