Liderança diversificada é importante para a evolução das criptomoedas (Waitforlight/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 26 de fevereiro de 2023 às 10h05.
Última atualização em 9 de maio de 2023 às 19h56.
À medida que o mercado em baixa segue seu curso, o cenário de criptomoedas se modifica a olhos vistos e, embora a consolidação do setor seja necessária no curto prazo, devemos evitar monopólios. As corretoras centralizadas (CEXs) vêm se consolidando como o portão de entrada para o mercado de criptomoedas, e, na mesma medida, os guardiões desse portão vêm se tornando figuras importantes.
Celebridades à parte, monopólios raramente favorecem os usuários dos serviços. Como grande parte desse espaço é novo, precificação é uma etapa importante e um volume oscilante de clientes ajudará a definir os preços de referência para serviços como fiat on-ramps, taxas de negociação e transferências.
Os monopólios tornam o volume de clientes estático — eles não têm escolha, o que raramente lhes favorece. Na década de 1990, quando a Microsoft controlava cerca de 90% do mercado de computadores, ela distribuía o Internet Explorer gratuitamente, derrotando seu concorrente Netscape Navigator.
Posteriormente, a Microsoft acabou sofrendo um processo, no âmbito da legislação de defesa da concorrência, por criar um monopólio, dificultando tecnicamente a substituição do Internet Explorer por um navegador alternativo. A empresa também foi criticada por cobrar de seu público cativo altos valores por softwares essenciais, como o Microsoft Office.
No mercado das criptomoedas, não se sabe ao certo qual jurisdição rege as CEXs internacionais. Portanto, as ações movidas contra as primeiras empresas de internet podem não ser uma opção. Para que o nosso setor continue prosperando, precisamos incentivar a concorrência aberta para impulsionar a inovação.
Estou falando sobre o futuro da criptomoeda no longo prazo. Por enquanto, entendo que é necessário que o mercado em baixa faça seu trabalho, eliminando algumas empresas, e aquelas com má gestão de risco — como diz o clichê: só quando a maré baixa é que você descobre quem estava nadando nu.
Isso faz parte de um processo de consolidação. CEXs, protocolos e projetos que gerenciarem seus recursos com sabedoria e se prepararem para o futuro com cautela alcançarão uma posição de destaque, resultando em um seleto grupo de fortes sobreviventes capazes de construir o próximo mercado em alta.
Mas deve ser um grupo, e não um único gigante controlando o mercado, impedindo que novos projetos tenham a chance de prosperar com suas inovações. Na verdade, esse foi exatamente o cenário para o qual os princípios da descentralização foram criados para evitar.
Sou totalmente a favor do mercado livre e, embora o monopólio possa ser o resultado de uma empresa de sucesso derrotando seus concorrentes, a história mostra que empresas incontestadas sofrem de inércia e podem sufocar o mercado. Grupos muito bem-sucedidos podem acabar surgindo apenas para se perpetuar e sustentar sua liderança oligárquica.
Mas certamente uma concentração de poder pró-criptomoedas é necessária para defender o setor contra regulamentações hostis e moedas digitais emitidas por um banco central (CBDCs) questionáveis. Será que não é necessário que haja um campeão?
Eu não sei quanto a você, mas eu preferiria uma estratégia de “companheirismo no ringue” em vez de depositar as esperanças do nosso setor em algum personagem de James Bond que, cá pra nós, fosse basicamente um homem conflituoso com problemas de alcoolismo. Neste momento crucial do nosso setor, precisamos de um forte arsenal de defensores para evitar uma enorme concentração de poder.
De fato, enquanto os governos ponderam sobre o processo de regulamentação do mercado de criptomoedas, defensores do setor devem se articular com os órgãos reguladores a fim de decidir a melhor forma de aplicar as leis vigentes contra monopólios no mercado de criptomoedas. Afinal, as autoridades competentes devem proteger os consumidores dos monopólios, bem como de vigaristas especuladores.
É lamentável que recursos financeiros descentralizados ainda não sejam universalmente acessíveis, seguros e compreendidos, pois resolvem muitos desses problemas usando a governança das organizações autônomas descentralizadas (DAOs). Portanto, enquanto isso, é importante que o setor, os órgãos reguladores e a governança das CEXs evitem os perigos da formação de monopólios, que sufocam a inovação que é a principal contribuição das criptomoedas para o sistema financeiro.
*Nathan Thompson é redator chefe de Tecnologia da Bybit, uma das exchanges de criptomoedas que mais cresce no mundo. Antes disso, trabalhou como jornalista por mais de dez anos cobrindo o Sudeste Asiático.
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