Drex tem previsão de lançamento para o público no fim de 2024 (Itaú/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 14 de setembro de 2023 às 16h36.
Nas últimas semanas, o Itaú Unibanco despontou como uma das instituições mais ativas nos testes com o piloto do Drex, a versão digital do real. O banco criou o primeiro nó - um ponto de acesso - na rede de testes e também realizou a primeira transferência entre bancos nesse ambiente, com o BTG Pactual. E os trabalhos nessa área devem se intensificar.
É o que afirma Guto Antunes, head de digital assets do Itaú, em entrevista exclusiva para a EXAME. O executivo ressalta que o banco tem trabalhado para seguir à risca o cronograma estabelecido pelo Banco Central e tem focado nos aspectos centrais do piloto: escalabilidade, privacidade e segurança da rede escolhida. Com isso, a expectativa é "desenvolver a segurança da rede" e, posteriormente, avaliar estudos de caso para entender melhor o papel do Drex.
Antunes pontua que, no momento, ainda é cedo para determinar quais serão os casos de uso principais da moeda digital de banco central (CBDC). A clareza em torno desse aspecto deverá surgir apenas a partir de maio de 2024, quando o piloto chegará ao fim. Agora, "o foco é em testar a tecnologia. O Itaú pensa em alguns casos, conversa sobre, mas falta ainda essas orientações do Banco Central para termos casos mais concretos".
O Banco Central do Brasil está desenvolvendo uma nova versão digital do real, chamada Drex. Anteriormente conhecido como Real Digital, o projeto visa digitalizar e tokenizar a economia brasileira, trabalhando em conjunto com o Pix e o Open Finance.
Mas então, o que você precisa… pic.twitter.com/vUkDVTYqGB
— Future of Money (@futofmoney) September 13, 2023
Antunes destaca que "muita gente ainda confunde o Drex com o Pix", mas as diferenças entre os dois projetos do Banco Central são "bem peculiares": "No Pix, para comprar alguma coisa, é instantâneo, de pessoa a pessoa e é um sucesso, com recordes de transação. Já o Drex é um novo trilho de liquidação de operações e contratos que requerem uma inteligência e programabilidade um pouco maiores".
A ideia, portanto, é usar a CBDC brasileira para facilitar e simplificar "a vida do cidadão brasileiro". Nesse sentido, o Itaú tem estudo casos de uso como o de compra de carros, que envolve uma transação com liquidação entre duas partes. Com o Drex e a tecnologia blockchain, seria possível programar a troca e ter uma liquidação instantânea, criando "todo esse ambiente de contratos inteligentes e fluxos inteligentes".
Por isso, a CBDC brasileira é mais um "veículo de liquidação". Antunes afirma ainda que o "pulo do gato" do projeto é a tokenização, processo que representa a passagem de ativos tradicionais para redes blockchain. "Além das liquidações de contratos inteligentes, vai ter o Drex, que vai liquidar todo o mundo de tokenização de ativos", explica Antunes.
"Hoje, para liquidar, o mercado vem usando stablecoins ou tokens do proprietário da tecnologia, mas isso gera às vezes uma desconfiança no mercado. Você não sabe se o token usado realmente tem o valor que deveria ter. O Drex entra com a supervisão do Banco Central, sendo a CBDC de mercado que liquida todo esse ambiente de tokenização", afirma o executivo.
Com isso, é possível trazer a confiabilidade que, na visão de Antunes, ainda falta para que "mais empresas entrem tokenizando e façam a liquidação por um instrumento regulado". Ao mesmo tempo, "fica mais fácil para o Banco Central entender o fluxo dessas liquidações e para a CVM entender como o mercado acaba se desenvolvendo agora em adiante, colocando regras em comum para todos".
A expectativa do executivo do Itaú é esse processo resulte em "fluxos mais inteligentes", com oportunidades de atuação logo após o lançamento do Drex, hoje previsto pelo BC para o fim de 2024 ou início de 2025. Por outro lado, Antunes projeta que será necessário também ter um "trabalho de educação também com a população, para que entenda o papel dele".
O ideal, e a tendência, é que "você nem precise falar sobre depois de um tempo, com uma infraestrutura desenvolvida e natural que todos entendam como algo trivial no dia a dia. O real vai estar lá, quando tiver que entrar no ambiente de tokenização ele vira o Drex. É uma questão de adaptação de experiência do cliente e da jornada".
Apesar do Banco Central ter anunciado recentemente um adiamento do fim do piloto da CBDC brasileira, Antunes afirma que o Itaú está "bem confortável" com os prazos estabelecidos, e que a extensão é "é natural até pelo caminho de testes". Mesmo assim, ele vê testes avançados, simbolizados pelas transferências bem-sucedidas entre instituições.
O executiva avalia que está "tudo andando conforme o previsto. Segurança e escalabilidade têm que ser testada aos poucos, então precisa esperar que todos os participantes consigam subir os nós e aí naturalmente vai fazendo mais trocas entre os participantes. O piloto vai ganhando mais corpo".
Pensando no período de funcionamento do Drex, Antunes acredita que o Banco Central acabará optando por usar apenas uma rede blockchain, e não diversas redes conectadas à escolhida pela autarquia. Nesse sentido, o blockchain escolhido "vai ser a rede tanto para o Drex quanto para a tokenziação de ativos, porque o próprio projeto do Banco Central tem esse requisito da rede atender ativos financeiros e outros que são tokenziados".
Para Antunes, isso "facilita demais a nossa visão, de um mercado de capitais mais tokenizado". Por outro lado, o surgimento desse segmento também deve exigir mudanças regulatórias. Sobre o tema, o head de digital assets do Itaú vê uma "agenda regulatória bem intensa", com uma proatividade e vontade por parte dos reguladores de "colocar esse mercado digital para rodar da forma certa".
"Nas nossas conversas, e a nível mundial, dá para ver que eles estão muito avançados. Os reguladores querem um mercado mais inclusivo, sem participantes arbitrando na parte regulatória, e já vimos isso até pela Lei de ativos digitais que entrou em vigor em junho com o Banco Central definido como regulador de mercado. Isso já deu uma baita evolução", diz.
Ele acredita que os pontos que precisarão ser discutidos estão claros e "estão sendo endereçados do jeito certo para fazer o mercado crescer". Por isso, Antunes ressalta que o Brasil se tornou uma referência nesse mercado: enquanto bancos no exterior começam a criar seus blockchains e ter debates sobre padronizações e regras, inclusive com reguladores, no Brasil "já está tudo parametrizado pelo Banco Central".
Nesse sentido, ele destaca que a atuação da autarquia tem permitido uma união entre as finanças tradicionais, ou centralizadas (CeFi, na sigla em inglês usada pelo mundo cripto) e as finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês), que deve resultar no HiFi, um mercado financeiro híbrido que vai ser tornar um "caso de referência mundial". Com isso, o papel do Drex será garantir que "a população, os bancos, as fintechs, todo mundo fale a mesma língua", transformando essa tendência em realidade.
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