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O que esperar do Drex em 2025? Projeto entra em nova fase, mas privacidade ainda é maior desafio

À EXAME, bancos brasileiros indicam que próximo ano deverá dar mais clareza sobre o futuro do Drex e seus casos de uso

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 12h00.

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O Drex teve um 2024 agitado. O projeto do Banco Central para criar uma versão digital do real e uma nova plataforma para o sistema financeiro chega ao fim do ano com a conclusão da primeira parte dos testes com seu piloto e a perspectiva de um 2025 com novos avanços. Mas, também, desafios importantes que não foram resolvidos.

Neste ano, o BC passou a se referir à iniciativa a partir de uma visão mais abrangente e ambiciosa. O coordenador do projeto, Fabio Araujo, disse que o Drex será uma nova infraestrutura do sistema financeiro brasileiro e irá além do Pix. Nesse sentido, ele reconheceu que a meta "leva tempo, não vai acontecer da noite para o dia".

De saída da presidência da autoridade monetária, Roberto Campos Neto afirmou recentemente que o projeto "é o início da tokenização do sistema bancário", levando-o a uma nova fase de digitalização que promete ir além das vantagens e características da fase atual, mais centralizada.

Agora, o Drex chega em 2025 em uma nova fase do seu piloto. O foco será em realizar testes de diferentes tipos de casos de uso - inicialmente 13 com os atuais participantes do piloto - para entender as vantagens, desafios e novidades que ele traria para o dia a dia do sistema financeiro. E a privacidade deverá manter o seu lugar como principal desafio do projeto. É o que avaliam à EXAME representantes de alguns dos principais bancos do Brasil.

Drex em 2025

Guto Antunes, head da Itaú Digital Assets, comenta que a expectativa para 2025 é a finalização da segunda fase do piloto, que deve trazer "clareza sobre os benefícios testados, com foco em melhorar a experiência dos clientes e a usabilidade destes produtos".

"Em paralelo, esperamos que as discussões evoluam do funcionamento técnico para os impactos práticos, seja com o Drex, moeda e plataforma, ou com o produto financeiro. Neste sentido, as principais oportunidades estão em equilibrar privacidade, programabilidade e descentralização em um ambiente que envolve contratos inteligentes", avalia.

Antunes diz ainda que há a expectativa de que a inclusão de novos participantes nos testes com o piloto "traga maturidade em pontos como governança e privacidade, que serão essenciais em um cenário de incorporação de contratos inteligentes pelos participantes da rede".

Já Renata Petrovic, head de Inovação do Bradesco, afirma que a implementação e teste dos primeiros casos de uso para o Drex propostos pelos participantes do piloto será um "grande marco".

"Um dos objetivos do Drex é que ele seja descentralizado, permitindo que as instituições participantes explorem os benefícios de uma plataforma de liquidação inteligente para o provimento de produtos e serviços inovadores", explica.

A executiva ressalta ainda que "esses testes contribuirão na busca de uma solução de privacidade que permitirá que o Drex chegue a clientes finais no futuro, aderente à LGPD e à Lei do Sigilo Bancário", podendo contribuir para a solução dos problemas de privacidade que têm sido o grande desafio do projeto até o momento.

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André Portilho, head de Digital Assets do BTG Pactual, compartilha um otimismo sobre o futuro do projeto após um balanço "super positivo" de 2024. "O Drex tem o mérito de entender a tecnologia sem preconceito. Ele [Banco Central] viu os ganhos, você pode trazer DeFi [finanças descentralizadas] para a estrutura de mercado", comenta.

"O ano teve progresso, ainda tem gargalos e desafios na parte de tecnologia, de privacidade", ressalta o executivo. Para 2025, ele pontua que esses desafios devem demandar mais tempo para serem solucionados, mas o projeto já "empurrou todas as instituições brasileira para entender essa tecnologia [blockchain]", mudando a visão sobre ativos digitais.

Para Jayme Chataque, executivo da área de Ativos Digitais do Santander, a segunda fase da iniciativa deverá trazer mais "tração e interesse da sociedade", ajudando a tornar o projeto mais concreto.

"Quando se tornar uma realidade, o Drex deve promover inovações significativas associadas à capacidade que teremos de vincular ao ambiente do real digital os ativos de diversas naturezas que tendem a ser tokenizados, facilitando a criação de mercados operacionais 24/7 com transparência, rastreabilidade e redução do risco de contraparte", pontua.

Ele destaca que o ano de 2025 permitirá que as instituições financeiras vivam esses benefícios na prática. Ao mesmo tempo, Chataque avalia que "a transformação em produtos e serviços provocará adaptações nos ambientes legados do mercado tradicional, não apenas sob o ponto de vista tecnológico, mas sobretudo de maneira mais ampla no arranjo ou arquitetura destas cadeias de valor e de seus participantes e intermediários".

Bruno Grossi, gerente de tecnologias emergentes do Inter, considera que a ampliação dos participantes do piloto em 2025 "será crucial para experimentarmos diferentes casos de uso, cada um com seus desafios e especificidades, até o prazo estabelecido de junho. Essa multiplicidade de abordagens permitirá uma visão mais abrangente sobre como a infraestrutura do Drex pode ser aplicada para transformar o sistema financeiro brasileiro e global".

"O Drex está catalisando uma verdadeira atualização do backoffice do setor financeiro, utilizando conceitos como os money legos do DeFi e a programabilidade dos smart contracts. Pela primeira vez, vemos a tecnologia blockchain inserida em um ambiente regulado como uma oportunidade concreta de entregar novos produtos e versões aprimoradas do que já existe aos nossos clientes", destaca.

Por outro lado, ele avalia que "alcançar esse nível de integração e eficiência não será fácil". De um lado, será preciso garantir uma interoperabilidade entre sistemas e participantes da plataforma. Do outro, a privacidade segue como um "tema sensível", em que será preciso "equilibrar a transparência exigida pelos reguladores com a proteção dos dados dos usuários".

"É por isso que 2025 se apresenta como um ano de inflexão e intensa colaboração e aprendizado, onde inovação e regulamentação precisarão caminhar juntas para que o Drex atinja seu pleno potencial e o Brasil consolide sua posição de liderança nesse movimento global de modernização financeira", comenta.

Já Carlos Bonetti, diretor executivo de Riscos no banco BV, vê a privacidade de dados como uma "preocupação central" do projeto: "Para demonstrar robustez quanto a privacidade de dados, o Banco Central está desenvolvendo soluções que estejam em total conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados".

"A transparência da tecnologia blockchain, embora vantajosa em muitos aspectos, pode entrar em conflito com as necessidades de privacidade dos usuários, tornando essa uma questão crítica a ser resolvida antes de seu lançamento. Além disso, a implementação do Drex requer uma agenda multianual, com 2025 sendo um ano crucial para consolidar os avanços necessários", afirma.

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