A mineração de criptoativos não se resume apenas em comprar uma máquina, ligar e ganhar dinheiro (Westend61/Getty Images)
Cointelegraph Brasil
Publicado em 24 de maio de 2022 às 09h30.
A proposta de regulamentação do mercado de criptomoedas no Brasil, conhecida popularmente como "Lei Bitcoin", está próxima de ser aprovada e se tornar lei no país e, entre os pontos que nova legislação pode abordar está a isenção de impostos para a importação de máquinas para minerar criptomoedas.
No entanto, a mineração de criptoativos não se resume apenas em comprar uma máquina, ligar e ganhar dinheiro. Ela envolve outros pontos como o consumo de energia, o lugar de instalação dos equipamentos, custos de manutenção, refrigeração ou controle de temperatura do ambiente, além, claro do preço do Bitcoin e da expectativa do minerador.
Para saber se é possível ou não minerar Bitcoin e criptomoedas no Brasil e, com esta atividade, ganhar um dinheiro o Cointelegraph Brasil conversou com dois mineradores profissionais, ambos com operação de mineração fora do país: Raymond Nasser, CEO da Arthur Mining e Bernardo Schucman, vice-presidente sênior da divisão de moedas digitais da mineradora americana CleanSpark.
"Em primeiro lugar, Brasil é Brasil. Empreender num país burocrático e com altas taxas de imposto não é para amadores e precisa de um planejamento detalhado. Energia é cara SIM. Porém, as máquinas estão ficando cada vez mais eficientes, tornando mais viável minerar, mesmo com energia mais cara", disse Nasser.
Schucman também destaca que a energia pode não ser uma grande barreira para a mineração de Bitcoin no país, porém ainda é preciso mudanças para que o custo de energia seja viável no Brasil.
"Temos uma região perto de Itaipu que seria ideal para a atividade e hoje vendemos essa energia e oportunidade para o Paraguai que lentamente vem ampliando sua malha de mineração de criptomoedas. Governantes tem que entender que junto com a implementação das mineradoras existe consequente ampliação de modernização desses power grids e Que vem sendo muito bem utilizada por países como EUA que estão tirando vantagem desta novos “power grids” e ampliando suas indústrias locais", apontou.
Nasser destaca que a questão logistica é um fator que os mineradores precisam ficar atentos, no entanto, a redução de impostos para a compra de equipamentos de mineração no país pode ser um atrativo comparado com outras nações na região.
"Acabou de ser tirado o imposto de importação para máquinas de minerar bitcoin, o que cria uma cascata de desconto nos outros impostos. Contudo, isso aconteceu há duas semanas, então o cenário pode mudar drasticamente", aponta.
Além disso destaca que como a maioria dos equipamentos vem da Ásia, o problema não é importar as máquinas para o Brasil, o problema é 'desembaraçar' o processo.
"Precisa de um despachante experiente e proativo. Máquina parada = perda de dinheiro", aponta.
Schucman também aponta que a isenção de impostos para importar máquinas, como os famosos ASICs, pode ser um atrativo para o setor no país
"Outra grande barreira comercial para estimular o movimento de mineradores para o Brasil são as alíquotas de importação de equipamentos eletrônicos que na sua grande maioria são as maiores alíquotas do mundo e causam um impedimento direto do crescimento dessa atividade industrial no Brasil", disse.
Nasser aponta que a mineração não é algo 'para amadores', ou seja, minerar Bitcoin na garagem de casa não é viavél não apenas no Brasil mas em outras nações.
"O preço das máquinas flutua com o mercado. O dólar torna tudo caro, mas a sua rentabilidade é em Bitcoin, o que torna o dólar barato e por consequência o real também. Mesmo assim, minerar no varejo e na garagem da sua casa continua sendo inviável, não importa onde você esteja", disse.
Além disso ele destaca que as operações de mineração demandam escala e planejamento milimétrico e acredita que as empresas que fornecem energia serão, em breve, os grandes mineradores de Bitcoin no país.
"20% da energia gerada no Brasil hoje não é usada, e isso representa cerca de 56 bilhões de reais por ano. Está acontecendo uma revolução silenciosa onde as empresas de energia vão minerar bitcoin com seu excedente de energia, reduzindo o gasto e aumentando a rentabilidade. Mudança de paradigma vindo forte aí", disse.
Bernardo segue na mesma linha e aponta que atualmente a mineração de Bitcoin consiste em investimentos de investidores institucionais que normalmente tem estritos “guidelines” para alocar seus recursos.
"O Brasil historicamente provou-se muito lento e burocrático para avaliar e aprovar leis para novos setores da economia. Vivemos uma estrutura política e legislativa que é avessa a mudanças e “novos negócios”. Para colocar o Brasil no cenário internacional de mineração de criptomoedas seriam necessárias a criação de grupos multidisciplinares envolvendo empresários ,legisladores e cientistas para posterior estudo e implementação de um conjunto de medidas como leis específicas ,tratamento tributário claro e incentivos fiscais para que investidores mundiais do segmento olhassem para o Brasil com bons olhos", disse.
Schucman finaliza dizendo que o Brasil pode estar 'perdendo tempo' por não sabe aproveitar a oportunidade que a indústria de mineração oferece.
"É preciso maior esclarecimento para que o Brasil vislumbre a janela de oportunidade que está sendo deixada de lado por não conhecermos profundamente a atividade de mineração de criptomoedas", finaliza.
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