Mineração de criptomoedas utiliza equipamentos específicos (Foto/Reprodução)
Em 2022, o bitcoin caiu quase 60%, afetando o lucro de investidores e empresas. Em meio a uma série de prejuízos, o setor de mineração pode estar entre os mais afetados. Empresas especializadas em mineração de criptomoedas decretaram falência ou estão prestes a fazê-lo. Mas a culpa é do negócio ou da gestão?
Em setembro, a Compute North, que chegou a ser um dos maiores operadores de Data Center para mineração, decretou falência. No início do ano, o cenário para a empresa era bem diferente. Em fevereiro, a Compute North havia anunciado uma rodada de investimentos de US$ 385 milhões.
Em outubro, a Core Scientific, maior mineradora de bitcoin do mundo por capacidade de produção, anunciou que pode estar em risco de falência.
Em um documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), a empresa diz que pode ficar sem dinheiro em suas reservas até o fim do ano e, por isso, decidiu deixar de fazer os pagamentos de equipamentos, financiamentos e notas promissórias com vencimento entre o final de outubro e início de novembro.
“Dada a incerteza em relação à condição financeira da empresa, existem dúvidas substanciais sobre a capacidade da empresa de continuar operando por um período de tempo razoável”, afirmou um trecho do documento enviado à SEC, CVM dos EUA.
As ações da Core Scientific, sob o ticker CORZ, já caíram mais de 98% em 2022, segundo dados do Yahoo Finance.
A queda significativa do preço do bitcoin e o aumento dos custos de eletricidade podem ser alguns dos principais fatores que afetaram a lucratividade do negócio da Core Scientific e outras empresas especializadas em mineração de criptomoedas.
O setor vem enfrentando um mau momento desde o início do ano, agravado pela mudança da rede Ethereum para a prova de participação, abandonando a mineração de vez.
Embora a mineração de bitcoin ainda seja possível e a mesma mudança não seja esperada nesta rede, a atualização da Ethereum propagou o sentimento no mercado cripto de que a mineração e seus impactos ao meio ambiente podem estar ficando “ultrapassados”.
Entre os dez maiores blockchains do mundo em valor de mercado, apenas Bitcoin e Dogecoin ainda utilizam a mineração, segundo dados do CoinMarketCap.
Sendo a criptomoeda mais popular para a mineração, o bitcoin pode deixar de oferecer lucros aos mineradores, caso seu movimento de queda se acentue.
De acordo com um estudo do analista Charles Edwards, responsável pelo fundo de investimentos Capriole Investments, a cotação mínima para que os mineradores de bitcoin continuem lucrando já se aproxima de US$ 17 mil.
No momento, o bitcoin é cotado a US$ 20.884, de acordo com dados do CoinMarketCap. Apear de já ter se aproximado de US$ 18 mil este ano, a principal criptomoeda apresenta sinais de recuperação no último mês, com alta de 3,58%.
Um dos principais fatores afetando a lucratividade da mineração de bitcoin atualmente é, além da queda na cotação do ativo, o aumento no custo de energia elétrica. O procedimento utiliza computadores específicos, que consomem um alto nível de energia. Organizações em prol da sustentabilidade e governos já chegaram a se posicionar contra a mineração, por conta de seu impacto ambiental.
“Desde o inicio de 2022 a receita por Terahash do minerador sofreu uma queda de aproxmadamente 75%, sendo que em períodos com junho, julho e agosto aqueles com contratos de energia variável ainda sofreram com custos mais elevados de energia, pressionando ainda mais certos participantes deste mercado”, pontuou Ricardo Alcofra, diretor de ativos digitais no BTG Pactual, em entrevista à EXAME.
Anteriormente, o especialista já havia comentado a situação atual do mercado de mineração, o qual ainda considera potencialmente lucrativo, desde que se levem em consideração os riscos do negócio.
“A mineração ainda é uma atividade atrativa e rentável, mas envolve riscos e aqueles que ainda seguem nessa estratégia buscam maneiras mais eficientes de otimizar a sua operação para se adequar ao mercado de baixa e ao mesmo tempo contra pressões regulatórias quanto ao consumo de energia ou mesmo de ruído”, afirmou Alcofra.
Apesar de algumas empresas do setor estarem vivendo um mau momento, outras foram bem sucedidas em se manter de pé durante o “inverno cripto”.
“Empresas como Marathon e Riot, apesar das perdas em valor de mercado, se capitalizaram, mantiveram uma boa gestão de caixa, e dosaram seus projetos de expansão, conseguindo dessa forma enfrentar esse momento de margens curtas no setor”, mencionou Alcofra, em entrevista à EXAME.
Segundo o especialista, outros detalhes também implicam na falência de empresas como a Compute North.
“Ela possui acordos com diversas outras empresas públicas de mineração e acaba consequentemente afetada pela capacidade de pagamento dessas empresas durante esse momento de mercado onde o retorno no setor de mineração fica mais apertado”, justifica Alcofra.
Ricardo Alcofra defende que uma boa gestão pode, sim, garantir a sobrevivência de empresas no “inverno cripto” para que elas possam voltar a lucrar significativamente em um novo ciclo de mercado no futuro.
“A mineração segue um movimento cíclico de mercado, e em casos de momentos difíceis no mercado cripto acaba por sofrer um impacto maior. A boa gestão operacional, estratégica e Inteligência financeira alinhado ao uso correto dos instrumentos financeiros existentes no mercado, pode fazer com que empresas atravessem fases turbulentas com menores impactos sobre seus valores de mercado”, concluiu o diretor de ativos digitais do BTG Pactual.
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