Repórter do Future of Money
Publicado em 1 de outubro de 2024 às 14h01.
O mercado de criptomoedas caminha para um "ambiente mais favorável" em meio a uma "adoção geral crescente", após uma série de desdobramentos favoráveis ao longo de 2024. É o que avalia Alicia Kao, diretora-gerente da corretora KuCoin, uma das maiores do mercado, em uma entrevista exclusiva à EXAME.
Kao também falou sobre os planos da corretora para expandir sua presença na América Latina, em meio a um rápido crescimento da sua base de usuários na região entre os anos de 2023 e 2024. O movimento ocorreu meses depois de grandes corretoras internacionais terem iniciado operações no Brasil, incluindo a OKX e a Coinbase.
Na avaliação da executiva, o mercado de criptomoedas continua sendo um "espaço dinâmico e volátil influenciado por uma série de fatores, incluindo condições macroeconômicas, que servem predominantemente para aumentar ou diminuir o preço das criptomoedas".
Ela cita como desdobramento recente mais importante a decisão do Federal Reserve de cortar a taxa de juros dos EUA, o que "criou um sentimento de alta de preços entre os investidores, uma vez que as taxas menores podem estimular investimentos de risco e o FOMO no mundo cripto". FOMO é uma sigla em inglês para fear of missing out, ou "medo de ficar de fora", e costuma influenciar investidores que temem perder ciclos de alta.
Para ela, foi exatamente esse cenário que contribuiu para altas recentes do bitcoin, ether, SOL e outras criptomoedas relevantes no mercado. Além do corte pelo Fed, Kao cita também um "cenário regulatório em evolução e a crescente adoção institucional global" como fatores que têm influenciado o comportamento do mercado.
"O potencial para maior clareza regulatória, juntamente com os avanços na escalabilidade e nas tecnologias emergentes, poderia criar um ambiente mais favorável para as criptomoedas", afirma. Mesmo assim, ela lembra que o mercado "é altamente especulativo e sujeito a mudanças rápidas", o que dificulta realizar projeções de preço.
Na visão da líder global da KuCoin, o mercado cripto teve "marco significativos" com as recentes aprovações de ETFs de bitcoin e ether nos Estados Unidos e em Hong Kong, que "sinalizam um nível crescente de aceitação geral das criptomoedas" pelos investidores.
"Embora estes ETFs tenham enfrentado dificuldades iniciais, acreditamos que esta tendência continuará a ganhar impulso no próximo ano, impulsionada pelo aumento da adoção institucional e pela clareza regulatória", disse a executiva.
Kao também pontua que "a aprovação de ETFs de criptomoedas é particularmente importante, pois oferece aos investidores institucionais um veículo familiar para ganhar exposição a ativos digitais, promovendo a confiança e incentivando uma participação mais ampla, levando ao amadurecimento da criptoesfera".
A expectativa da exchange é que os fundos ajudem a impulsionar o volume global de negociação de cripto, que pode ultrapassar US$ 108 bilhões até o fim de 2024, um aumento de 42% em relação a 2023 e 90% em relação a 2022.
"Esta tendência de crescimento destaca o crescente interesse nos ativos digitais e o papel significativo que eles estão preparados para desempenhar no cenário financeiro global", avalia. Nesse cenário, a KuCoin pretende "facilitar o acesso contínuo ao mercado cripto", com capacitações para investidores institucionais e de varejos interessados no setor, "ajudando a impulsionar a próxima onda de crescimento no ecossistema cripto global".
E, apesar dos ETFs estarem atraindo investimentos bilionários, Kao não acredita que eles estão "roubando" investidores de corretoras de criptomoedas, mesmo que eles possam "afastar alguns investidores da negociação direta de criptomoedas".
"Na verdade, os ETFs podem servir como um ponto de entrada para investidores mais avessos ao risco ou tradicionais que podem não se sentir confortáveis em navegar diretamente pelas complexidades do espaço cripto. À medida que mais investidores ganham exposição através de ETFs, o seu interesse pode se expandir no ecossistema mais amplo, incluindo produtos de corretoras centralizadas como a KuCoin", comenta.
Questionada sobre os planos da KuCoin para o Brasil e a América Latina, Alicia Kao afirma que a região é um "mercado valioso" para a corretora: "No ano passado, testemunhamos um enorme apoio dos usuários latinoamericanos. Vimos um aumento de usuários recém-registrados de 34% na região em 2023, e isso foi seguido por outro crescimento de 31% no primeiro semestre de 2024".
"Esses números mostraram um crescimento constante e forte e adoção no mercado da América Latina" disse. A executiva disse ainda que os investidores podem esperar "uma presença maior e mais ações no futuro próximo", sem dar, porém, detalhes específicos sobre possíveis planos para o Brasil.
Segundo a diretora, "a América Latina desempenha um papel crucial na estratégia de mercado da KuCoin, especialmente à medida que testemunhamos o aumento da aceitação regulatória e a crescente adoção dos consumidores em toda a região".
"Um dos cinco países onde a KuCoin detém atualmente licenças regulatórias é El Salvador, o que ressalta nosso compromisso de expandir nossa presença na América Latina", ressalta. Um destaque na região, afirma, é o uso de criptomoedas como forma de envio de remessas internacionais, caso da Venezuela, onde cripto representa 9% do total.
O exemplo "demonstra o potencial dos ativos digitais para impulsionar a inclusão financeira, melhorar o bem-estar social e contribuir para um maior desenvolvimento econômico regional. Esse papel fundamental das criptomoedas na região se reflete no aumento significativo da nossa base de usuários", destaca.
Segundo Kao, "à medida que os quadros regulatórios continuam evoluindo e mais pessoas adotam cripto para uso diário, estamos focados em fornecer soluções personalizadas que atendam às necessidades únicas dos usuários na região [América Latina], reforçando o nosso compromisso de tornar cripto mais acessível e benéfica para todos".