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Itaú acredita em bitcoin como "propriedade digital" para investidores, diz head de ativos digitais

Em entrevista à EXAME, Guto Antunes destaca alta demanda de investidores por criptomoedas nos últimos meses

Guto Antunes é o head de digital assets do Itaú (Itaú/Divulgação/Divulgação)

Guto Antunes é o head de digital assets do Itaú (Itaú/Divulgação/Divulgação)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 17 de abril de 2024 às 16h06.

Quase cinco meses após a liberação de negociação de criptomoedas para seus clientes, o Itaú destaca um resultado "super positivo" com a iniciativa. Em entrevista à EXAME durante o Web Summit Rio 2024, Guto Antunes, head de digital assets do Itaú, falou sobre os planos do banco para o segmento cripto, o momento do mercado e a sua regulamentação.

Antunes destaca que a adesão da base de clientes do Itaú ao investimento de criptomoedas no aplicativo Íon também foi acompanhado de um interesse dos investidores em "se educar. Nós vemos uma demanda por educação sobre ativos digitais, de entender os aspectos básicos sobre o bitcoin, ether, blockchain e expandir o conhecimento sobre cripto em geral".

Outro ponto que chamou a atenção do banco é o volume transacionado por esses investidores, mesmo com uma expansão ainda gradual da base que pode realizar essas operações. Além disso, os próprios clientes do Itaú estão demandando a inclusão nessa base.

Por isso, Antunes comenta que os próximos passos do Itaú deverão ser tanto a expansão da base de clientes com essa opção de investimento disponível quanto uma expansão da quantidade de criptomoedas disponível para investimento. "Passamos da fase de entender o que o cliente quer, como a experiência dele está sendo, agora já temos essa informação", explica.

Antunes ressalta ainda a crença no Itaú de que o bitcoin tem um papel importante como reserva de valor ao ser uma "propriedade digital", sendo um ativo com comportamento anticíclico e que pode ajudar a "pulverizar a carteira ao ser uma commodity". Ao mesmo tempo, ele também vê investidores que tomam o ativo como meio de pagamento, e outros como ativo especulativo.

O executivo do Itaú traça um paralelo com o dólar: "O dólar pode ser comprado porque é meio de pagamento, porque pode ser usado para especulação e porque é visto como reserva de valor. A questão sobre o bitcoin é como cada investidor vê o ativo dentro do seu perfil, e a educação é importante nisso também. Mas bitcoin não é um cassino digital, não acreditamos nessa tese".

Halving e o bitcoin

Para Antunes, o mercado de criptomoedas teve dois grandes momentos. O primeiro foi a própria criação do bitcoin. Já o segundo foi a aprovação e lançamento em janeiro dos primeiros ETFs de preço à vista da criptomoeda nos Estados Unidos. A novidade "coloca o bitcoin em uma natureza de commodity, fica claro para o investidor e o bitcoin ganha claridade se é ouro digital, moeda ou propriedade digital, tem uma natureza definida e isso ajuda bastante".

A importância desse acontecimento é citada pelo executivo como a grande causa para a disparada do bitcoin no primeiro trimestre de 2024. Ao mesmo tempo, ele avalia que a queda do ativo nos últimos dias em meio às tensões no Oriente Médio mostram que "o bitcoin tem um comportamento muito próximo ao mercado tradicional".

"É algo curioso, quando pega o comportamento do bitcoin no ataque, ele refletia na verdade que os investidores já estavam se preparando para a abertura do mercado na semana seguinte, com possível queda, e aí estavam reunindo capital. Isso mostrou que o bitcoin é o único ativo que te permite fazer isso, mesmo em meio a um evento incontrolável em um sábado, mostrando como é importante ter um ativo assim", diz

Já em relação ao aguardado halving do bitcoin nesta semana, Antunes pontua que é difícil prever o comportamento de preço do ativo, mas que as valorizações em halvings anteriores ocorreram seis meses após a conclusão, e os próprios efeitos do evento podem "já terem sido precificados".

"O importante é que, hoje, o halving é mais um evento no mundo cripto, antes era o único evento e agora tem outras coisas acontecendo ao redor que dão mais robustez ao ativo. O halving é importante, mas não tem como prever o impacto no preço, o efeito é na ideia de aumentar a escassez, e quanto mais escasso, mais o preço sobe", afirma.

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Drex e regulação

Especificamente na realidade brasileira, Guto Antunes destaca que a regulamentação do setor de criptomoedas no Brasil tem sido "muito positiva", com o Banco Central atuando como um "grande parceiro" desse mercado e ajudando a construir a própria tese em torno das criptomoedas.

Outro avanço positivo citado por Antunes é em torno da segregação patrimonial, uma separação de ativos dos clientes e das empresas de cripto. "A segregação virou consenso, todos acham agora que ela é necessária e que, sem ela, o cliente sofre. Antes a falta de consenso era um ponto de risco. Hoje, não é mais. A questão agora é como vamos implementar isso na regulamentação, mas já temos conversas muito positivas".

O head de ativos digitais do Itaú comenta também que outro consenso é o próprio Drex, projeto de criação de uma moeda digital de banco central (CBDC) do Brasil. "O Drex e a sua adoção são pontos pacificados no mercado. Houve um primeiro boom de atenção e discussões ano passado, o que é normal, e agora estamos partindo para os testes, com foco em escalabilidade e privacidade", diz.

Os testes ocorrem junto ao piloto do Drex, que tem o Itaú como um dos participantes. "Todos os participantes estão testando, inferindo qual seria o número de transações por segundo e o que pode ser adequado. É normal, é uma solução disruptiva, então precisa entender como vai se comportar e a interface com a tokenização. Sobre privacidade, as soluções estão sendo testadas, ainda não estamos na fase de maturação, é preciso testar e aí depois ver a escalabilidade", comenta.

"Já se sabia que privacidade seria um desafio, e a escalabilidade é questão de tempo de teste. Todos os participantes estão super engajados, as trocas estão sendo super positivas, com os participantes levando sugestões para o Banco Central. E o Banco Central está super aberto. É um cenário positivo", avalia.

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