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IA e blockchain estão 'convergindo no momento perfeito', diz criador de rede da Coinbase

Em entrevista à EXAME, desenvolvedor Jesse Pollak vê convergência entre IA e cripto em um "momento perfeito" para as duas tecnologias

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 09h30.

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Em setembro deste ano, a corretora Coinbase chamou a atenção do mercado ao anunciar a primeira transação realizada inteiramente entre inteligências artificiais registradas no seu blockchain próprio, a Base. E a empresa acredita que esse movimento é apenas o início de uma integração entre as duas tecnologias que vai ganhar cada vez mais força.

É o que afirma Jesse Pollak, desenvolvedor que liderou a criação do Base e hoje comanda a divisão da Coinbase focada na rede, em uma entrevista à EXAME. Ele destaca que, em pouco mais de um ano, o projeto teve um desempenho "muito acima das nossas expectativas".

"Sempre que você lança um produto novo, você nunca sabe o que esperar. Nós começamos do zero e hoje a Base já movimentou mais de US$ 8 bilhões e possui US$ 2 bilhões travados em projetos na rede. São milhões de usuários e ela lidera em quase todas as métricas entre as redes de segunda camada. Fomos ambiciosos nas metas, mas não imaginávamos que chegaríamos nesse patamar em um ano", comenta.

Pollak pontua que o grande interesse da comunidade cripto em torno do blockchain "tem sido inspirador e nos permitiu ter velocidade e chegar a novos níveis". A ideia, agora, é aproveitar esse momento para integrar a rede cada vez mais com a inteligência artificial.

IA e blockchain

Os chamados "agentes de IA" ganharam destaque nos últimos meses ao acompanhar a ascensão da inteligência artificial generativa. Na prática, eles são um subgrupo da IA generativa que é capaz de realizar uma série de ações sem a necessidade de uma constante intervenção ou supervisão humana.

Seria possível, por exemplo, pedir que o agente cuide de uma viagem e, então, vê-lo montar um roteiro, comprar passagens, reservar hotéis. Ou, no sistema financeiro, usar os agentes para realizar investimentos, rebalanceamentos de carteiras ou transações periódicas.

O líder da Base pontua que "a IA está crescendo rapidamente e, agora, temos essa ascensão dos agentes, que atuam de forma autônoma. Na prática, eles aceleram o trabalho humano e abrem novas áreas da nossa criatividade. Eles podem atuar em criação de arte, conteúdo, comunidades".

Mas eles também possuem desafios. O principal, afirma Pollak, é que "não existe hoje uma forma boa desses agentes interagirem com o sistema financeiro tradicional, que é lento, demanda intermediários para tudo e, em essência, é assim por ter sido construído para os humanos".

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A solução, defende o desenvolvedor, é exatamente a tecnologia blockchain: "Os blockchain foram criados exatamente para os números, robôs e IAs. É um ambiente perfeito para os agentes serem criados, aprenderem e realizarem experimentos".

'Nós tivemos um caso recente, por exemplo, de um agente que foi criado, produziu obras de arte e vendeu elas em um marketplace na nossa rede, ganhando US$ 100 mil", comenta.

Na visão dele, "isso só é possível em blockchains. E vamos ver mais e mais inovação nesse ecossistema. Na Coinbase, o que queremos fazer é construir as ferramentas para facilitar isso. A nossa expectativa é que teremos, em breve, uma tonelada de inovações".

O futuro

Pollak pondera, ainda, que o avanço dos agentes de IA implica na necessidade de trazer diversas discussões sobre aspectos de segurança para a tecnologia. "Estamos falando, afinal de contas, de dar ferramentas financeiras para eles. Ou seja, precisamos garantir que as transações sejam seguras e que os próprios agentes já sejam criados com controles de segurança. É uma inovação incrível, mas que deve ser feita de forma segura".

O executivo acredita que os agentes de IA já estão "muito próximos" de um nível em que seria possível ter um uso em massa no sistema financeiro. Ao mesmo tempo, pondera que "ainda estamos nos primórdios da inteligência artificial".

"Se olharmos apenas nas últimas semanas de inovação, ela tem ocorrido em um ritmo extremamente rápido. Os agentes já estão fazendo coisas realmente incríveis e que a gente nem imaginava há algumas semanas que seria possível que eles realizassem", pontua.

O objetivo final da Base, afirma, é ter "centenas de milhões de agentes de IA" no blockchain realizando diversas funções, incluindo financeiras, e "acelerando o progresso humano, aumentando a inovação, a criatividade. É realmente um ponto de inflexão".

"O que nós temos é a combinação do blockchain, que é uma plataforma que permite criar diversas aplicações, e a IA, que é uma plataforma que acelera as capacidades dos humanos. Elas são perfeitas uma para a outra. Se não o blockchain não existisse, eu ficaria mais preocupado sobre a IA", diz.

Ele justifica sua afirmação explicando que "os blockchain dão autenticidade, rastreabilidade para os conteúdos. Com ele, é possível monitorar as IAs e distinguir o que é ou não criado e feito por elas. São tendências que estão convergindo no momento perfeito, porque conseguem se complementar e se acelerar, resolvendo problemas dos dois lados".

Brasil e futuro da Base

Além da inteligência artificial, Pollak comenta que um dos focos da Base está em expandir suas comunidades de desenvolvedores. E a América Latina foi escolhida como "uma das regiões mais importantes" para essa atingir essa meta.

"Temos visto um crescimento super relevante no Brasil. É um país onde a Coinbase já tem uma presença, e o Brasil tem uma das maiores adoções de cripto do mundo. Com isso, temos uma comunidade de desenvolvedores grande e qualificada", avalia.

O líder do blockchain diz que está "muito animado" para ver o futuro da relação entre a rede e os brasileiros. O "próximo grande passo" do projeto no Brasil, afirma, será a criação de uma stablecoin pareada ao real para facilitar as operações de brasileiros. Pollak explica que está com conversas com grupos de desenvolvedores para criar o ativo, mas sem uma data definida. "Nós queremos ajudar os brasileiros a entrar em blockchain", resume.

Outro foco da Coinbase para a rede é a interoperabilidade entre ela e outros blockchains, incluindo com a criação de padrões comuns para os projetos de modo a facilitar essa comunicação. A ideia, afirma Pollak, é que "o usuário nem vai sentir que uma hora está usando um blockchain e outra hora está usando outro. Vai ser algo bem parecido com a internet".

"Nossa meta é que as pessoas não sintam esse excesso de redes. Acho inclusive que vamos ter ainda mais blockchains. Provavelmente teremos alguma consolidação na forma como operam, com menos redes gerais e mais redes superespecializadas, focadas em segmentos e apps específicos. É como se a empresa trocasse a AWS por um datacenter próprio para ter mais escala. No futuro, vão trocar a Base por uma rede de terceira camada ligada à Base", projeta.

Mesmo com todos esses planos, ele descarta a criação de uma criptomoeda própria para o blockchain: "Nos últimos anos, acreditamos que as pessoas ficaram distraídas com seus projetos porque focaram nos tokens e na parte financeira deles. Isso afastou os desenvolvedores da ideia de construir um bom produto, focar nos apps e nas interfaces. Então não queremos ter uma cripto para focar nessas questões e ter um grande impacto".

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