Repórter do Future of Money
Publicado em 20 de setembro de 2024 às 10h30.
Perto de completar o primeiro aniversário da chegada oficial ao Brasil, a OKX vê um cenário de finalização do processo de adaptação de seus produtos ao mercado brasileiro, mas não pretende parar por aí. É o que afirma Guilherme Sacamone, general manager da corretora de criptomoedas no Brasil, em entrevista à EXAME em Singapura.
Sacamone avalia que "o mercado brasileiro é muito forte com os atuais produtos permitidos", mas também compartilha um desejo: "Gostaria muito de ver o brasileiro tende acesso a derivativos em cripto. Quando você pensa em derivativos, eles são uma ferramenta importante de negociação. Uma adoção maior do bitcoin gera essa demanda".
"Se você remove os derivativos, essencialmente coloca os investidores em uma posição precária com relação aos investidores que estão do outro lado do mundo. Seria importante para os traders brasileiros [ter acesso a derivativos de criptomoedas]", afirma.
Para o executivo, há uma "oportunidade para a regulação brasileira entender melhor essa questão". Ele destaca ainda que, hoje, a proibição de oferta de derivativos acaba prejudicando corretoras com presença no Brasil em relação às corretoras sem entidade estabelecida.
"É importante entender como consegue permitir que as empresas que estão investindo e acreditando no Brasil não sejam prejudicados por uma regulação que hoje só retira acesso aos produtos e não consegue travar de forma eficaz os players de fora que oferecem esses produtos", pontua.
Nesse sentido, ele afirma que a estratégia da OKX é de "estar perto dos reguladores, pensando no longo prazo, mas [o acesso a derivativos] é importante para que as empresas tragam seus investimentos, termos outras OKX. É o tipo de investimento no Brasil que demanda uma evolução do ambiente regulatório. Muitas exchanges globais hoje preferem atuar sem entidade para continuar oferecendo produtos sem regulação".
Quando iniciou suas operações no Brasil, o objetivo da OKX era garantir que seus produtos fossem adaptados ao comportamento e demanda dos investidores brasileiros. Sacamone avalia que esse processo de "tropicalização" está "praticamente completo". A ideia, agora, é "desenvolver novos produtos pensando nos brasileiros".
"Queremos aterrissar o mundo cripto pensando no mundo real, aumentar usabilidade pensando em resolver problemas do mundo real. Alguns produtos nossos foram completamente repensados, pensando em processos por exemplo específicos para o Pix",diz.
Sacamone pontua ainda que a OKX pretende intensificar sua expansão para toda a América Latina, após desenvolver uma presença mais forte na Argentina. A expectativa é anunciar, em breve, novos mercados na região. O movimento reflete uma surpresa com a expansão no Brasil: "As coisas andaram muito rápido no Brasil, mais rápido do que os outros esperavam".
"Pela primeira vez o aplicativo da OKX foi o mais baixado entre as empresas de cripto com entidade no Brasil. A gente está sendo relativamente conservador até [no processo de expansão], é algo que veio muito pela ótica do produto. Vemos muitos usuários chamando outros usuários e estamos conseguindo entregar uma boa experiência de produto", afirma.
O líder da corretora de criptomoedas destaca que "liquidez é um problema resolvido" na exchange. "Hoje, temos uma das melhores precificações de bitcoin e ether do Brasil. O volume também expandiu significativamente. Agora, o usuário pode esperar novos produtos".
Outro segmento que deve ganhar mais atenção da OKX é o mundo dos investidores institucionais. Segundo Sacamone, "a procura de institucionais por serviços da OKX aumentou significativamente. Vamos ter um diretor no Brasil só para isso. É um mercado muito forte e vamos introduzir produtos especificamente para eles".
No âmbito regulatório, o executivo vê a OKX "bem posicionada" para qualquer novidade, seja a expectativa de um escrutínio maior da Receita Federal no mundo cripto ou a possível aprovação da segregação patrimonial no Congresso. Sobre o tema, ele pontua que "somos a favor de segregar, mas temos que entender como vai funcionar. Esse é o desafio".
"Hoje, já trabalhamos com a conta segregada dos fundos da empresa, mas não falam se a segregção é a nível de usuário, falta uma discussão técnica disso. Acredito que essa discussão ainda não começou", diz.
Para o fim do ano, a expectativa de Sacamone gira em torno principalmente da última etapa das homenagens da OKX e da McLaren a Ayrton Senna. O plano, afirma, é "aterrissar fortemente em Interlagos, com uma grande ativação na 'casa' dele [Senna] em novembro".
Apesar do cenário positivo, Sacamone também vê desafios para o mercado de criptomoedas. Um deles é o forte avanço das chamadas 'bets', que segundo estudos já estariam roubando capital de investidores de cripto. O executivo avalia o cenário como "um pouco assustador, vendo os números de adoção".
"Pensando no mercado cripto, pode ter um pouco de correlação. O mundo das memecoins [criptomoedas meme] possui um grande aspecto de aposto, essa ideia do retorno de curtíssimo prazo, então pode ter uma correlação. De abril até agora, a Solana ganhou mais de 1 milhões de tokens, a maioria memecoins, o que facilita investimentos mais especulativos", diz.
Ele argumenta, porém, que é "importante separar o motivo de nós todos estarmos no mercado. Cripto traz uma solução de descentralização que vai ser muito importante para o futuro de como nós vamos interagir uns com os outros, aspectos de confiança. Os desenvolvedores não querem criar cassinos. O foco deles está em criar soluções e aplicações para facilitar a vida das pessoas".
Já no âmbito do preço do bitcoin, Sacamone vê uma forte correlação entre a liquidez do mercado e os preços das criptomoedas. Ele acredita que, mesmo que o mercado tenha quedas de curto prazo tradicionais após cortes de juros pelo Federal Reserve, o cenário no médio prazo é favorável para o ativo.
"Historicamente, a tendência é de queda do mercado logo após o corte. Estamos em uma primeira fase importante de uma movimentação de mercado, que pode ser negativa no curto prazo, mas no longo, mesmo se tivermos vendas, deveremos ter um movimento para cima", avalia.