Repórter do Future of Money
Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 11h43.
Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco Central, falou na última quinta-feira, 6, sobre o avanço das criptomoedas no Brasil e a visão do regulador brasileiro sobre o setor. Galípolo destacou que o uso de ativos virtuais por brasileiros teve um crescimento significativo, o que também cria desafios do ponto de vista regulatório.
O presidente do BC falou sobre o tema durante uma conferência do BIS (Banco de Compensações Internacionais), considerando o "banco central dos bancos centrais". Ele participou de uma conferência sobre o avanço da integração financeira na América Latina por meio de novas tecnologias.
Em relação às criptomoedas, Galípolo disse que "o Brasil viu um enorme crescimento no uso de criptomoedas ou criptoativos durante os últimos dois, três anos, e isso levantou questões sobre a motivação [do uso], porque vimos um crescimento tão grande e vimos que mais de 90% eram de stablecoins".
As stablecoins são criptomoedas pareadas a outros ativos, como o ouro e o dólar. Segundo Galípolo, "nós assumimos que provavelmente era uma maneira mais fácil de ter uma conta em dólares, mas então houve uma discussão se a motivação era muito mais uma motivação especulativa, se eles estavam comprando para comprar dólares para investimentos ou se era uma moeda ou meio de pagamento".
"A resposta foi que as stablecoins são muito mais usadas como meio de pagamento, e a maioria disso é para comprar coisas no exterior, para pagamentos internacionais e geralmente coisas", comentou. Ao mesmo tempo, ele comentou que há uma "parte ruim" nesse uso.
"As pessoas estão usando stablecoins porque elas mantêm algum tipo de visão opaca para tributação ou para lavagem de dinheiro. Isso não é uma acusação, mas quando você vê o que as pessoas estão comprando e usando criptomoedas para pagamentos internacionais, sempre há essa dúvida se a motivação por trás desse uso é um tipo de derivação da ideia de confiança", avalia.
Nesse sentido, Galípolo comentou que o uso elevado de stablecoins no Brasil pode estar ocorrendo porque "as pessoas estão comprando coisas e não querem declarar, querem evitar algum tipo de tributação, e isso é uma coisa que preocupa muito e coloca um desafio para o Brasil em termos de vigilância e regulamentaçaõ".
Durante sua participação no evento, Gabriel Galípolo também falou sobre o Drex, projeto em desenvolvimento pelo Banco Central. Ele opinou que o Drex não é apenas uma moeda digital de banco central (CBDC), mas sim uma rede de registro distribuído (DLT) que poderá ser usada para tokenização de depósitos bancários e ativos e como uma estrutura de contratos inteligentes.
"A expectativa que a população tem com o Drex é resolver não apenas a questão de pagamentos, mas principalmente criar uma infraestrutura, uma infraestrutura pública, em que pode melhorar a custódia de ativos e do dinheiro. No Brasil, empréstimos e crédito têm um alto custo, e parte disso é por causa da dificuldade que você tem de ter garantias e finanças colateralizadas", destacou.
O presidente do BC disse ainda que"quando tentamos explicar às pessoas que tipo de problema que o Drex resolverá, geralmente o exemplo que usamos é como poderá ter financiamento e crédito colateral usando essa infraestrutura".
Ele destacou ainda que "precisamos pensar na inovação da tecnologia como um meio, não como um fim em si mesmo, e olhando quais problemas nós podemos resolver".
Galípolo afirmou também que "a integração financeira tem estado no centro da agenda de inovação que o Banco Central tem implementado ao longo dos últimos anos", citando o Pix, o Open Finance e o Drex como os principais projetos com esse objetivo.