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Felippe Percigo: entenda o que é rug pull e evite cair em golpes com criptomoedas

Prática criminosa conhecida como ‘puxada de tapete’ faz cada vez mais vítimas no mercado cripto. Veja como agem os golpistas e como se proteger

Rug pull é um tipo de golpe comum no universo das criptomoedas (Oliver Nicolaas Ponder / EyeEm/Getty Images)

Rug pull é um tipo de golpe comum no universo das criptomoedas (Oliver Nicolaas Ponder / EyeEm/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2022 às 10h15.

Por Felippe Percigo*

Até que os ventos macroeconômicos soprem a favor, é provável que o mercado de criptomoedas não tenha por ora nenhuma recuperação sustentada. No ciclo de baixa, os investidores de varejo, em boa parte aqueles que só entram para surfar ralis altamente lucrativos, não costumam ficar tão entusiasmados e dão uma recuada nos aportes. Mas existe o lado bom dessa moeda. As correções nos preços de tela acabam desmagnetizando também os ímãs que atraem agentes mal-intencionados ao ecossistema.

Segundo uma pesquisa recente da Chainalysis, a receita total de golpes com moedas digitais até agora em 2022 caiu 65% em relação ao mesmo período do ano passado, para US$ 1,6 bilhão. Já durante todo o ano de 2021, foram roubados US$ 7,7 bilhões. Desse valor, de acordo com a plataforma de análise, 37% foram resultantes de “rug pulls”.

(Mynt/Divulgação)

A porcentagem já é, por si, um tanto assustadora. Agora, e se eu te disser que apenas um ano antes, em 2020, esse percentual era de 1%? Pois é. Em 2021, uma grande euforia tomou conta do setor, os ativos digitais batiam máximas atrás de máximas, o valor do mercado cripto como um todo chegou a superar os US$ 3 trilhões. As valorizações excepcionais deixaram muito lucro no bolso tanto de quem era especialista quanto de quem era apenas aventureiro.

Foi nessa fase de abundância sem precedentes que os rug pulls alcançaram números estratosféricos e fizeram uma quantidade significativa de vítimas. Agora, se no próximo ciclo de alta você não quiser ser uma, é bom aproveitar a adrenalina mais baixa para entender de que forma são aplicados esses esquemas, como identificar e como se proteger.

Vamos então começar a desenrolar o novelo. Fora da seara cripto, pode ser que você já tenha sofrido um rug pull, que em tradução literal seria “puxada de tapete”, uma expressão do repertório nosso de cada dia. Quando ela é usada na criptoesfera, refere-se a um golpe praticado por desenvolvedores por trás de um projeto falso.

O esquema se torna cada vez mais comum à medida que novos investidores fazem incursão no mercado impulsionados pelo desejo de ganhar dinheiro rápido. O xis da questão é que, para os iniciantes e demais desentendidos dos mecanismos cripto, os tais projetos parecem bastante reais.

Os desenvolvedores fazem um trabalho em uma blockchain com toda pinta de autêntico e lançam o projeto, geralmente em exchanges descentralizadas (DEX). O lançamento costuma ser pirotécnico e gera um forte hype em torno da plataforma e do token criados.

O marketing acaba inflamando investidores que compram as criptomoedas entusiasmados com a possibilidade de multiplicar o capital o mais rápido possível. Assim, geram liquidez para o protocolo fraudulento e o preço do token em questão começa a subir, atraindo ainda mais interessados nas altas valorizações. O FOMO é o ingrediente principal da armação.

Uma das características mais marcantes das puxadas de tapete é que elas são, em sua maior parte, fulminantes. O valor do token pode ir às alturas em questão de horas ou poucos dias e é neste momento, no auge de popularidade e preço, que os criadores do projeto liquidam suas participações de uma vez. Assim, embolsam o lucro às custas dos desavisados.

E nessa levada são feitas milhares de vítimas anualmente. A mais recente puxada de tapete aconteceu esta semana e foi em uma plataforma de tokens não fungíveis (NFTs) chamada SudoRare. De acordo com a PeckShield, companhia de segurança especializada em blockchain, a equipe roubou 519 ETH, pouco mais de US$ 880 mil na cotação atual, apenas seis horas após o lançamento.

Ao mesmo tempo, o time de golpistas encerrou suas contas nas redes sociais e tirou o site do projeto do ar. Os analistas da PeckShield confirmaram se tratar de um rug pull. Eles disseram que apenas o time por trás do projeto tinha permissão de acesso à liquidez do pool.

Pode ser desafiador, a princípio, detectar este tipo de fraude. Porém, não é impossível e você pode começar a treinar já. Algumas são mais descaradas, outras são armadas de forma mais requintada, mas existem alguns pontos de atenção importantes.

Iniciamos pelo hype. Deve ser uma bandeira vermelha para os investidores se um token relativamente novo começar a gerar um burburinho do nada. Como falamos, a tática é usada pelos golpistas para inflar a cripto ou o NFT.

Se a plataforma fizer promessas difíceis de resistir, desconfie. Projeções de retorno vultosas e lucros garantidos são bons demais para ser verdade, porque, geralmente, não são verdade mesmo.

Uma outra orientação é checar os documentos do projeto, como whitepaper e roadmap, por exemplo. Geralmente, a equipe que pretende aplicar rug pulls não se esforça muito para dar informações completas e com relevância para o investidor. Geralmente, são documentos vagos, sem se debruçar sobre estratégia nem detalhar claramente objetivos e prazos.

Uma checagem no tokemonics é essencial. Os criminosos costumam dedicar uma grande porcentagem do suprimento de tokens para si. Portanto, se existirem poucos titulares, mas com grandes quantidades de criptos para alocação em suas carteiras, ligue o sinal de alerta.

A listagem de um token exclusivamente em DEX também é uma red flag. As políticas de listagem das exchanges centralizadas adotam avaliações mais rígidas, o que ajuda a afugentar charlatões.

No caso mais específico dos NFTs, ainda acontecem promessas mirabolantes de benefícios aos detentores ou de expansão da utilidade dos tokens à comunidade.

Para finalizar, investigue os criadores, seus backgrounds, se já possuem relevância na área de tecnologia ou estiveram à frente de outros projetos de sucesso e bem avaliados. Verifique também a comunidade de apoio em redes sociais como Discord, Twitter e Reddit, veja se são engajadas, e se os desenvolvedores e colaboradores do projeto interagem com frequência com os participantes.

Todas essas orientações aumentam as suas chances de não ser conduzido a uma arapuca, mas não são garantia. Com ataques cada vez mais sofisticados, são necessários mais estudo, mais treino e mais paciência.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

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