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Felippe Percigo: Avanços e lições do setor de criptomoedas para 2023

Um ano complexo chega ao fim com muitas lições e abre caminhos para que o Brasil se torne uma das maiores potências do mundo no setor. Avanços na regulação e mais esperança para a educação são alguns deles. Entenda.

As lições do mercado cripto em 2022 (blackdovfx/Getty Images)

As lições do mercado cripto em 2022 (blackdovfx/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 26 de dezembro de 2022 às 09h16.

Por Felippe Percigo*

A velocidade de adoção das criptomoedas no Brasil engatou um ritmo insano. De 2021 para 2022, engrenamos a quinta marcha e avançamos sete posições no ranking global de adoção, assegurando, inclusive, uma posição no top 10, segundo a Chainalysis. Atualmente, somos o 7º do mundo, atrás de Paquistão (6º), Estados Unidos (5º), Índia (4º), Ucrânia (3º), Filipinas (2º) e Vietnã (1º).

O salto incrível, no entanto, nos coloca em uma posição sensível. Essa velocidade tanto pode se traduzir no “voo” equilibrado de uma Ferrari quanto virar um trem desgovernado. Vai depender de como será conduzido o movimento daqui para a frente.

Na contagem regressiva para o novo ano, acho que cabe falarmos da relevância de 2022 em trazer de volta a racionalidade ao setor. Em meio às crises econômica, geopolítica e sanitária, combinadas com um mercado persistente de baixa, fomos forçados a entender pela dor a necessidade de solidificar o pavimento para lidar com essa adesão massiva.

Muitas iniciativas que estavam cozinhando em fogo baixo acabaram ganhando tração. É o caso da regulamentação das criptomoedas.

Mesmo que ainda deixe muitas questões em aberto, o projeto de lei (PL) 4401/2021, aprovado recentemente pela Câmara, mostra uma disposição real em trazer mais transparência, segurança e conformidade para o ecossistema. Assim, o caminho se abre para um debate mais amplo e, consequentemente, para uma evolução na seara legislativa.

(Mynt/Divulgação)

Gigantes “demais para quebrar” precisaram quebrar para expor a fragilidade do sistema. Milhares de pessoas poderiam ter sido poupadas de perder seus investimentos e economias se houvesse um solo regulatório para pisar. No caso FTX, o Brasil foi um dos dez países mais prejudicados com o colapso, segundo um estudo do Coingeko.

Ouvi histórias de brasileiros que sofreram perdas inestimáveis. Gente que vendeu casa para investir em criptomoedas com a FTX, gente que cedeu a custódia do que economizou uma vida inteira para a corretora. Gente que tinha aplicações na exchange para abrir o próprio negócio. Entre tantas outras.

Não podemos deixar de lembrar que a FTX chegou a fazer parte de muitos rankings de melhores exchanges do mundo. Para um investidor comum, suspeitar de uma companhia bem avaliada é contraintuitivo. É muito fácil ser conduzido ao erro.

Com a falta de suporte de uma legislação, os usuários de criptomoedas acabam só podendo contar com eles mesmos. Foi aí que as tragédias de 2022 sinalizaram um outro sério problema: a falta de educação financeira em geral e, em específico, em criptomoedas.

Esse é um assunto sensível para mim como professor e, claro, como entusiasta desse universo. Os interessados em conhecer sobre a tecnologia e sobre investimento em cripto ficam muito vulneráveis a agentes mal-intencionados.

Cursos caça-níqueis surgem o tempo todo, pilotados por pessoas que não agem com responsabilidade. Isso não só ataca a imagem do setor, que já sofre com a resistência do público em geral por ser uma tecnologia nova, mas também frustra quem quer aprender, pois apresenta uma visão distorcida do tema.

O mercado está sedento de bons profissionais, com conhecimento comprovado na área, porque hoje ainda não existe uma entidade que certifique.

A boa notícia é que, nesse sentido, subimos um importante degrau recentemente. O MEC (Ministério da Educação) reconhece o ensino superior de criptomoedas e blockchain na versão atualizada do Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST). A versão anterior era de 2016.

As atualizações publicadas no Diário Oficial da União (DOU), no último dia 8, mostram que os termos “criptomoedas” e “blockchain” foram incluídos no tópico “Gestão Financeira” da Tabela de Convergência, na composição da nomenclatura "Blockchain, criptomoedas e finanças na era digital".

No tópico “Segurança da Informação” da mesma tabela, a denominação convergente foi estabelecida como “Blockchain e criptografia digital”. As nomenclaturas representam sugestões feitas pelo MEC às instituições de ensino superior como referência para os cursos relacionados.

O que isto significa? Que as instituições passam a ter um direcionamento concreto para desenvolver cursos na área. Além disso, facilita o trabalho de fiscalização dos programas já oferecidos a partir de diretrizes curriculares. Acredito que as medidas poderão criar novas oportunidades para o mercado.

Para o público, o movimento pode se traduzir em mais segurança. As perspectivas se abrem em um horizonte mais positivo e saudável, mas precisamos ter em mente que mudanças são um processo que leva tempo. Por isso, sugiro manter a vigilância.

Lições

Da educação curricular, passo à educação “à força”. Afinal, 2022 foi um ano em que apanhamos e aprendemos muita coisa na marra. As falências em série, a sofisticação dos hackings, as pirâmides chanceladas como Terra (LUNA) e outros episódios grotescos nos trouxeram, por outro lado, boas lições, que podemos carregar como experiência para avançarmos em 2023.

Modinha = roubada

A primeira delas é algo que eu, desde sempre, repito para os meus alunos. Fuja dos hypes! Na maior parte das vezes, são ciladas com embalagens tão atraentes que ficam irresistíveis. Sabendo disso, resista.

A FTX era apresentada como super cool, tendo celebridades como sócios e líderes jovens e bilionários.
O próprio Sam Bankman-Fried foi comemorado como um herói ao socorrer empresas como a BlockFi e a Voyager. A velha máxima já diz: “Nunca conheça seus heróis”. Não existem salvadores da pátria, a não ser nos filmes da Marvel.

Cuidado com os tokens de exchange

Quando cunham seu próprio token, as corretoras trabalham para estimular cada vez mais o uso e ver seus tokens decolarem. O problema surge quando as empresas apostam em táticas controversas para inflar o preço do token e mostrar ao mundo o quão boas elas são.

FTX, Celsius e Voyager lançaram mão dessas más práticas e o resultado é esse que estamos testemunhando. Usaram reserva fracionária, alavancagem e manipulação interna para inflar a bolha até que ela se tornasse insustentável.

Desconfie de tudo

Outro toque que dou é questione tudo: notícias, rankings de melhor-isso-melhor-aquilo, bons samaritanos, etc.. O interesse das corporações está sempre presente e o marketing progrediu o suficiente para conseguir vestir práticas nefastas de boas intenções.

Certifique-se de entender no que está se metendo, estude os fundamentos, faça pequenas experiências. Compare as alternativas do mercado. Não tenha pressa.

Suas criptos não são suas

Isso mesmo. Se elas não estão guardadas com você em uma carteira de hardware, suas criptos não são suas. Se você não tem as chaves privadas, suas criptos não são suas.

Não coloque todos os ovos na mesma cesta

Diversifique suas participações em diferentes categorias de investimentos. De jeito algum aposte todo o seu patrimônio em cripto nem confie seu dinheiro a um só protocolo. Dessa forma, você não perderá tudo se um projeto colapsar.

Não tenha pressa

É natural querer ficar rico rapidamente, se aposentar cedo e aproveitar a vida. Em especial aqui no Brasil. Algumas pesquisas mostram que os brasileiros temem menos especular porque focam em ganhar dinheiro logo. Essa “coragem” pode custar muito caro.

Você vem estudando e trabalhando a vida inteira e, de uma hora para a outra, quer que as criptomoedas resolvam sua vida financeira?

Faça o trabalho duro e seja paciente que você será recompensado no futuro.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

A melhor experiência e atendimento em português. Ninguém merece consultar o tradutor online enquanto tem problemas com o suporte, por isso, a Mynt tem atendimento humanizado 24 horas e em português. Abra sua conta e tenha uma experiência única ao investir em crypto.

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