Criptomoedas tiveram um desempenho negativo em novembro, prejudicadas pela FTX (Jirapong Manustrong/Getty Images)
O ano de 2022 vai ficar para a história como um período difícil para o mundo das criptomoedas. Além do chamado inverno cripto, um período de forte mercado de baixa, o setor precisou enfrentar ainda a quebra de projetos importantes e, em novembro, a falência da FTX, a segunda maior corretora de criptoativos do mundo.
Agora, o setor entra em dezembro, um mês tradicionalmente conhecido por ser mais positivo para os ativos digitais, com alguns rallys de valorização, em busca de resultados melhores. Ao mesmo tempo, diversos ativos, incluindo o bitcoin, atingiram no mês anterior seus menores preços no ano, e ainda não está claro se as mínimas já foram atingidas.
Ayron Ferreira, analista-chefe da Ttitanium Asset, considera que "os níveis atuais de preço do bitcoin são de subvalorização, motivada principalmente pela crise de solvência de empresas do setor cripto. Por isso, para dezembro, mês na média histórica positivo para o bitcoin, há espaço para mais recuperações de preço, dado também os recentes níveis de desalavancagem no setor".
O mercado deverá acompanhar de perto a situação envolvendo a Genesis e demais empresas do grupo Digital Currency Group, que tiveram exposição a outras empresas que tiveram problemas de liquidez", ressalta o analista. Para ele, porém, o foco estará em outro elemento: a política monetária dos Estados Unidos.
No fim de novembro, falas do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizaram que um alívio no ciclo atual de alta de juros pode estar próximo, o que ajudou as criptomoedas a terem uma leve recuperação. Ferreira considera que o cenário macroeconômico "deve trazer volatilidade ao mercado e ser o principal indicador do mês".
Ele considera que, apesar das falas recentes de Powell, "o fato é que ainda não há espaço para corte de juros em um horizonte de curto prazo". "Os níveis de emprego e atividade nos EUA ainda estão bem resilientes", pontua, "a recessão ainda não está ocorrendo de forma tão evidente e os juros provavelmente devem permanecer altos por bastante tempo".
Já Artur Ribeiro, CEO da Coinext, observa que "o mês de novembro foi catastrófico para o mercado de criptomoedas. Com toda questão envolvendo o colapso da FTX, acompanhamos o surgimento de um cenário de desconfiança sobre a liquidez de algumas instituições, acompanhado de notícias de falência de algumas, como a própria FTX, a BlockFi e a Bitfront, todas anunciadas ao longo do mês".
"No entanto, ao invés de lamentar os acontecimentos, investidores estão tirando alguns aprendizados importantes neste momento, além, é claro, de aproveitar condições interessantes para aumentar a carteira por um preço baixo, sobretudo pensando no longo prazo", pontua Ribeiro.
Ele acredita que novas decisões de juros " devem determinar a continuidade do momento complicado ou não para ativos de renda variável". Neste cenário, especialistas apontaram à EXAME quais criptomoedas merecem atenção no último mês de 2022. Confira!
Para o CEO da Coinext, "não existe nenhuma dúvida sobre a recuperação do bitcoin". "As questões levantadas por investidores e especialistas giram sobre o momento de reversão de tendência e sobre o alcance, ou não, do principal fundo deste ativo".
Ele lembra que a criptomoeda foi fortemente afetada pelo movimento de correção de preços nos ativos após o colapso da FTX, com o patamar atual de US$ 16 mil sendo o mais importante no momento. Em novembro, o ativo teve uma queda acumulada de 17,43%.
"No entanto, a última semana do mês mostrou que uma recuperação pode acontecer ainda este ano, afinal, houve o registro de valorização de 3%. Quando observamos o longo prazo, continuamos com a sensação de que haverá uma recuperação, afinal, a segurança e a necessidade do bitcoin são fatores a se considerar", observa Ribeiro
Ele acredita que "o caminho natural é para a manutenção do cenário de lateralização em torno de US$16 mil no curto prazo. Mudanças de perspectivas, sobretudo no comportamento das políticas monetárias, podem causar uma reversão de cenário e gerar uma busca pela recuperação do patamar de US$20 mil".
Lucas Josa, analista do BTG Pactual, avalia que a grande novidade em torno do ether, a criptomoeda da Ethereum, nos últimos meses ocorreu quando o ativo passou a adquirir um caráter deflacionário, ou seja, registrou uma redução na sua oferta em circulação.
Ele destaca que a importância dessa "narrativa deflacionária em torno do ativo, que captura mais valor para o token ether ao longo do tempo".
Já a Coinext observa que foi possível notar em novembro "investidores olhando com atenção para ether, sobretudo considerando o patamar atual, o potencial de crescimento e a importância da rede Ethereum para todo ecossistema cripto".
Para a exchange, os dados de compra de ether por grandes investidores - as chamadas "baleias" - mostram um movimento semelhante a períodos que antecederam rallys de alta da criptomoeda: "os últimos dias do mês deixaram os investidores animados, visto que o ether chegou a registrar 10% de valorização em sete dias".
A principal plataforma de oráculos do mercado, a Chainlink, anunciou recentemente que vai lançar um novo serviço de staking, o que permitirá que usuários depositem o Link, criptomoeda da empresa, e recebam um rendimento mensal.
Para Josa, a novidade "deve retirar grande parte da pressão vendedora em torno do ativo, o que pode causar uma apreciação maior no curto/médio prazo".
Ferreira, da Titanium Asset, lembra que a Chainlink "representa uma proposta muito útil de usabilidade no ecossistema cripto, de fornecer informações do mundo off-chain para o ambiente on-chain dos blockchains. O projeto vem continuamente divulgando novas integrações com outras redes".
"A comunidade aguarda pela principal atualização da Chainlink, que é referente ao Chainlink Staking, mecanismo que deve aumentar a interação dos usuários com a rede e com o token Link. É possível que aconteçam atualizações sobre isso durante o mês de dezembro", explica.
A litecoin, criptomoeda criada com a proposta de ser uma alternativa ao bitcoin, teve uma forte valorização em novembro, indo na contramão da maior parte do mercado e subindo 42,83%. A Titanium Asset observa que ela "está próxima ao patamar de US$ 80. Este preço está longe dos US$ 347 registrados no topo histórico do ativo em maio de 201, no entanto, demonstra o possível horizonte de crescimento da moeda".
"Um dos motivos para acreditar nesse potencial é a proximidade do halving da Litecoin, evento marcado para acontecer em julho de 2023. Em momentos como este, vemos o mercado antecipando uma possível alta, valorizações foram registradas antes dos dois halvings da Litecoin, em 2015 e em 2019", explica Ferreira.
O halving se refere ao momento em que a geração de litecoin é reduzida pela metade, aumentando a escassez da criptomoeda. No caso do ativo, a recompensa ganhada por mineradores caíra em 2023 de 12,5 para 6,25.
Josa, do BTG Pactual, considera que a Polygon, companhia por trás da criptomoeda Matic, é uma das "principais empresas por trás da infraestrutura que está sendo construída para a Web3".
Ele considera que a empresa está bem capitalizada para os próximos meses e, por isso, "tem muito espaço para continuarem desenvolvendo novas soluções para problemas reais, que podem aumentar a demanda pelo token Matic".
A Titanium lembra ainda que o blockchain Polygon tem ganhado destaque pelo aumento de adoção por grandes empresas, caso da Meta e do Instagram, onde a rede será usada para permitir a criação e negociação de tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês).
Houve, ainda, o uso do blockchain pelo banco JPMorgan para realizar a primeira negociação da instituição em finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês). Para a corretora, "a rede tem alguns motivos para continuar fortalecendo seu efeito".
O preço do XRP, criptoativo desenvolvido pela Ripple, tem sido fortemente influenciado pelo processo da empresa envolvendo a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês). A autarquia afirma que o token seria considerado um valor mobiliário e, caso vença o processo, a determinação prejudicaria não apenas o ativo, mas o mercado de criptomoedas como um todo.
Novidades no processo indicaram uma possível vitória da Ripple, gerando uma onda de otimismo que chegou a beneficiar o XRP antes dos efeitos da falência da FTX. A Titanium lembra que o caso "se arrasta a algum tempo", mas que "até dezembro podem surgir novidades em relação à vitória, derrota ou acordo com a SEC".
"Recentemente, a Coinbase anunciou a retirada do suporte ao XRP e acendeu um alerta no mercado em relação ao que pode acontecer com a Ripple nos próximos meses", observa a Titanium.
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