Evento debateu a nova febre do momento (ismagilov/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2022 às 07h30.
Última atualização em 20 de abril de 2022 às 11h28.
Em um mundo de mudanças constantes, Miami tem buscado se posicionar na vanguarda tecnológica e empresarial, visando se tornar um polo de inovação e negócios. Foi com esse objetivo em mente que a cidade passou a promover neste mês o Tech Month. O período foi escolhido para celebrar ideias disruptivas que têm o potencial de alavancar a humanidade para um futuro mais próspero.
Seguindo essa pauta, nasceu a primeira edição da NFT Week Miami, feira voltada para a mais nova febre do momento: NFTs. NFTs, ou tokens não fungíveis, são tokens digitais que representam itens que não podem ser substituídos. Para fins de comparação, cédulas de dinheiro são itens fungíveis – uma nota de dez reais pode ser substituída por outra nota da mesma quantia, sem distinção de valor.
Já os NFTs garantem através da criptografia que cada item é único e insubstituível; uma tecnologia capaz de revolucionar toda e qualquer indústria que tem a necessidade de propriedades únicas – artes, música, podcasts, imóveis, entre outras.
Apesar desse potencial, o evento foi uma representação do momento que vive a indústria de NFTs, ainda embrionária, experimental e desbravadora. Diferente do mercado já amadurecido de criptomoedas ou da indústria estabelecida de finanças tradicionais, o ecossistema de NFTs ainda é um laboratório de possibilidades, sem direção clara ou unânime.
As palestras expuseram um leque de vertentes onde a tecnologia de NFTs pode ser aplicada além do uso mais comum, a arte. Empreendedores apresentaram ideias para otimizar uma série de áreas como o setor imobiliário (tanto no mundo real quanto no metaverso); ferramentas de recrutamento e busca de talentos; novas formas de capitalização societária; o engajamento e a participação entre artistas e seus fãs; acesso à investimentos alternativos através de NFTs fracionados; a reestruturação no modelo de negócio de indústrias como a da música, de podcasts e filmes.
Nesse novo universo digital o céu não é o limite. A flexibilidade desse ecossistema vem permitindo a criação de economics com o potencial de soma positiva – não só do ponto de vista monetário, mas na agregação de valor como um todo.
Ainda que seja difícil prever a direção na qual a indústria está caminhando, um tema ecoou durante todos os dias de conferência: o senso de comunidade. Seres humanos são criaturas sociais, é natural então que a habilidade de pertencer e se identificar com um grupo seja uma prioridade comportamental nossa. O mundo dos NFTs potencializa esse senso ao extremo, permitindo que cada indivíduo encontre, engaje e participe ativamente de comunidades que expressem sua personalidade única.
Um exemplo é o Knight of Degen, comunidade de NFTs que foi criada a partir do desejo de unir aficionados por esportes e apostas. O projeto iniciou apenas com um grupo de Discord - sala virtual de bate-papo onde membros compartilhavam sugestões de apostas e notícias esportivas. Rapidamente a comunidade evoluiu para estabelecer uma DAO (decentralized autonomous organization), organização decentralizada com uma hierarquia achatada, onde o poder de decisão é dividido entre os membros.
Com a nova estrutura organizacional, o grupo preparou um pool de recursos para investimentos esportivos. Dentre eles, o KoD (Knights of Degen) fundou um dos doze times profissionais na nova liga estado-unidense de futebol americano FCF (Fan Controlled Football). O que iniciou como um grupo de fãs unidos por um sentimento em comum, tornou-se uma organização institucionalizada que permitiu o engajamento ativo naquilo que seus membros mais amam: esportes.
Outro case que exemplifica o potencial da tecnologia de NFTs, é a Scoutible. Fruto do cérebro de cientistas de Harvard aliados à musculatura financeira do bilionário Mark Cuban, a Scoutible veio para competir com o Linkedin de forma mais eficiente, intuitiva e... divertida. Em seu metaverso gamificado o projeto toma proveito de uma economia de incentivos positivos através do conceito earn-to-learn, onde participantes participam de uma aventura digital, ganhando pontos (tokens) enquanto completam tarefas.
A ideia é que os participantes aprendam (e se capacitem) para se tornarem mais qualificados no ambiente profissional, e conheçam mais sobre si mesmos. Adicionalmente o projeto oferece a habilidade de networking para que empresas conheçam profissionais que se destacam nas habilidades que as empresas buscam, e vice-versa.
Por fim, o empreendedor e influenciador Tai Lopez foi ao palco com o seu sócio Alex Mehr para falar sobre o futuro do mercado imobiliário – dentro e fora do metaverso. Segundo Lopez, é estimado que o setor imobiliário representa pelo menos 50% do PIB global, logo, é um mercado com uma abundância constante de oportunidades. Sua empresa vem investindo fortemente na compra de terras digitais em diversos metaversos (universos digitais) assim como em tecnologias que auxiliam no registro digital de títulos imobiliários através de NFTs. Lopez acredita que essa tecnologia vai otimizar a interação em mercados locais, principalmente em áreas remotas com pouca infraestrutura organizacional. Como transparência e imutabilidade são características intrínsecas dessa tecnologia, não é difícil ver o potencial disruptivo nesse mercado.
Em suma, a conferência nos trouxe um leque extenso de possibilidades para esse novo universo. É perceptível que os NFTs ainda estão em uma fase primitiva. O que é inegável é a capacidade revolucionária que essa tecnologia possui. Com o crescimento veloz, interesse extenso e os rios de investimento inundando essa indústria, é tangível ver NFTs integrados de forma mundana no nosso dia a dia dentro dos próximos 3 ou 5 anos. Uma vez que essa tecnologia foi lançada ao mundo não há mais volta, nos resta aguardar os próximos capítulos.
*Marcus Freitas é Head of Crypto Operations na Avenue Securities
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