Repórter do Future of Money
Publicado em 7 de outubro de 2024 às 11h36.
As eleições presidenciais dos Estados Unidos neste ano deverão ser as de "maior impacto" na história do mercado de criptomoedas. É o que afirma Fabio Plein, diretor regional para Américas da Coinbase, em entrevista exclusiva à EXAME. O responsável pelas operações da exchange no Brasil falou ainda sobre as expectativas para o último trimestre do ano.
Sobre o pleito norte-americano, ele comentou que "é meio surreal imaginar que hoje cripto é um dos temas importantes no debate eleitoral, na agenda dos candidatos e pode ser até um tema com poder de influenciar as eleições para um lado". Ao longo do ano, tanto Donald Trump quanto Kamala Harris deram declarações favoráveis ao setor.
"Hoje, os Estados Unidos têm mais de 52 milhões de americanos com investimentos em criptomoedas. É um grupo que virou um bloco votante importante e que têm se posicionado pedindo mais clareza para os candidatos, não é à toa que eles reagem a isso trazendo tópicos que tocam em cripto", explica Plein.
Nesse sentido, ele espera que a disputa seja "a eleição de mais impacto na história de cripto" e ajude a "definir um caminho de candidatos que de fato se posicionem a favor de uma atualização do mercado financeiro, principalmente para as próximas gerações, superando sistemas mais antiquados, que acabam excluindo e não incluindo as pessoas".
Plein afirma ainda que o mercado de criptomoedas tende a ganhar mais clareza regulatória independentemente da vitória de Harris ou Trump. "No cenário da Kamala Harris vencer, tem uma oportunidade acima de tudo dos Democratas reiniciarem a relação com cripto, que tem sido uma relação de litigio, barrando o avanço e os benefícios da indústria".
"Tem sinais que foram dados de que isso pode acontecer, como o encontro na Casa Branca com stakeholders importantes de cripto, pedindo uma legislação com mais clareza, que mude essa abordagem de litígio. É um ponto de virada e mostra que os Democratas estão calibrando esse cálculo político em uma eleição muito apertada", diz.
Com relação ao desempenho futuro das criptomoedas, o gerente da Coinbase pontua que "é difícil ter uma visão concreta no momento", mas a decisão do Federal Reserve de iniciar um ciclo de corte de juros nos EUA "tende a sinalizar um momento de mais incentivo para alocações em ativos com mais volatilidade, com mais percepção de risco, e é o caso de cripto".
"É um primeiro passo na direção que estávamos esperando, era o corte que a gente imaginava e que indica uma retomada de mais apetite para investimentos na indústria", diz. Entretanto, ele pondera que será preciso observar as próximas decisões monetárias do Fed e a interpretação delas pelo mercado para avaliar o impacto efetivo no preço dos ativos digitais.
Os desdobramentos das eleições nos Estados Unidos também deverão influenciar esse comportamento. Plein afirma que será preciso "observar as medidas que vão ser tomadas pelo candidato vencedor após a eleição, o que pode dar um rumo significativo para a indústria até o ano que vem".
"Do nosso lado, temos uma clareza de que não é um tópico de tomar uma posição política, acreditamos de que, independente de quem ganhe, cripto é um setor relvante suficiente para que qualquer um dos lados tenha isso como um tópico importante na agenda de governo pensando em trazer mais eficiência e serviços financeiros para os americanos", diz.
Ele comenta ainda que o vencedor das eleições poderá tomar algumas medidas quase que de imediato com impacto no setor, a principal sendo a escolha dos responsáveis por liderar órgãos reguladores, incluindo a SEC. A CVM dos Estados Unidos ficou conhecida pela postura dura contra cripto, mas isso pode mudar com uma troca na sua presidência.
"Acredito que já poderá ter mudanças mais rápidas, sem depender do processo legislativo mais longo", avalia. Ele pontua, porém, que "tem investidores que podem estar apostando mais em um lado [na eleição] que o outro e esperando as eleições para tomar decisões, mas tem que ver os desdobramentos desses dois elementos".
Sobre a questão regulatória, Plein diz que os Estados Unidos ", estão atrás dos outros mercados pela postura da SEC, mas têm a grande oportunidade nas eleições de ter um reinício na forma de encarar isso. O país é um polo de talento, tecnologia, capital, e pode ter um ponto de virada para correrem atrás e fechar essa lacuna".
Considerando todos esses fatores, o executivo da Coinbase avalia que o mercado de criptomoedas conta no momento com "mais fatores positivos que em cenários anteriores, que podem ser forças favoráveis. Há elementos que justificam uma tese de algum otimismo para os próximos meses".