(NurPhoto/Getty Images)
Repórter do Future of Money
Publicado em 7 de setembro de 2023 às 16h00.
Última atualização em 11 de setembro de 2023 às 12h33.
Em 7 de setembro de 2021, El Salvador se tornou o primeiro país do mundo a adotar o bitcoin como moeda de curso legal. Na data, o presidente Nayib Bukele subiu ao palco com fogos de artifício para anunciar a medida que prometia “revolucionar a economia do país” para uma multidão de entusiastas. Agora, depois de dois anos recheados de polêmicas, é possível fazer um balanço dos erros e acertos do país.
De acordo com a “Lei Bitcoin”, instaurada em El Salvador em 2021, os impostos podem ser pagos em bitcoin e as empresas e comércios devem aceitá-lo como forma de pagamento, a menos que sejam tecnologicamente incapazes disso.
Até o momento, o bitcoin ainda não substituiu a moeda mais forte em El Salvador: o dólar norte-americano. Além disso, os níveis de adoção também não decolaram. Boa parte da população não apresenta conhecimento técnico o suficiente para aderir à tecnologia, que pode ser complicada até mesmo para os mais adeptos.
Os projetos da “Cidade Bitcoin” e da “Praia Bitcoin” continuam em pé, atraindo alguns turistas para o local, que compõem o grupo de pessoas que mais utiliza o bitcoin em El Salvador depois do próprio governo.
"O conhecimento sobre o bitcoin é alto, mas o uso ainda é baixo. Existe um senso de orgulho geral entre a população de El Salvador pelo país ter adotado cedo uma nova tecnologia", disse Angela Dalton, CEO da Signum Growth Capital, que viajou para El Salvador recentemente. Na visão dela, o ativo ainda tem seu uso concentrado em destinos turísticos.
No lançamento da “Lei Bitcoin”, cada salvadorenho recebeu uma carteira digital criada pelo governo, chamada de Chivo. Nela, continham US$ 30 em bitcoin como uma forma de incentivo à adoção.
O país investiu – e muito – em bitcoin. Sob o comando de Bukele, que se tornou uma personalidade influente no mercado cripto, El Salvador começou a comprar bitcoin pouco antes da aprovação da “Lei Bitcoin" e continuou aproveitando quedas para aumentar suas reservas. O governo também investe em um projeto de mineração de bitcoin com energia geotérmica, que vem de vulcões.
Dados da Moody's estimam que o governo gastou US$ 375 milhões no total no lançamento da “Lei Bitcoin”, incluindo um fundo de US$ 150 milhões para apoiar as conversões entre bitcoin e dólar e o dinheiro para o bônus de US$ 30 dado aos usuários da Chivo.
A adoção do bitcoin como moeda de curso legal chamou a atenção do mundo todo, incluindo do Fundo Monetário Internacional (FMI), que já realizou uma série de alertas ao governo salvadorenho, principalmente depois do país emitir títulos de dívida pública em bitcoin este ano.
O FMI publicou uma declaração em que aconselha El Salvador a ter cautela ao expandir a exposição do governo ao bitcoin devido à “natureza especulativa” dos mercados de criptomoedas.
O posicionamento do órgão enfatizou que os riscos da criptomoeda para El Salvador e sua economia “não se materializaram” ainda devido ao uso “limitado” do ativo pelo país até o momento. Funcionários do FMI fizeram uma visita recente à nação da América Central, a primeira do mundo a adotar uma criptomoeda como moeda legal.
El Salvador foi incentivado pelo FMI a repensar sua decisão de emitir títulos tokenizados, já que o FMI afirmou que isso deveria ser “evitado” devido aos riscos legais e financeiros da operação.
“Dados os riscos legais, a fragilidade fiscal e a natureza altamente especulativa dos mercados cripto, as autoridades devem reconsiderar seus planos de expandir as exposições do governo ao bitcoin, inclusive por meio da emissão de títulos tokenizados", disse o fundo.
No entanto, os títulos dispararam. De acordo com a Bloomberg, gigantes do mercado como o JPMorgan, Eaton Vance e PGIM Fixed decidiram adquirir esses títulos ou recomendá-los para seus clientes em agosto deste ano. Na época, o bitcoin acumulava alta de 80% em 2023 e os títulos, 70%, superando os títulos em dólar e de países emergentes.
Entre as novas iniciativas do governo salvadorenho para impulsionar a adoção do bitcoin no país estão a criação de uma Secretaria Nacional de Bitcoin e a inclusão de uma matéria sobre bitcoin em todas as escolas públicas até 2024.
Guillermo Contreras, CEO da DitoBanx, disse anteriormente que a abertura da Secretaria Nacional de Bitcoin em El Salvador funcionará como “uma entidade central” para lidar com essas e outras questões ligadas à criptomoeda conforme o país avança na sua adoção.
Nas escolas, a matéria sobre bitcoin será criada através de uma parceria com a organização sem fins lucrativos e não governamental “Mi Primer Bitcoin”, ou “meu primeiro bitcoin” em português. A intenção é dar o respaldo para que a população saiba como lidar com criptomoedas e carteiras digitais desde cedo através da escola.
Apesar das polêmicas, algumas empresas afirmam que houveram, de fato, vantagens na adoção do bitcoin como moeda de curso legal. Além disso, empresas e membros do governo estão otimistas de que a adoção do bitcoin possa colocar El Salvador em uma posição privilegiada e de destaque no futuro, por ter aderido à tecnologia antes de todos os outros países. Até o momento, El Salvador continua sendo o único país a ter o bitcoin como moeda de curso legal.
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