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Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2020 às 00h46.
Recentemente, o Facebook anunciou o lançamento para 2020 de uma criptomoeda, a Libra, em parceria com outras empresas de tecnologia, através da Libra Association. Obviamente, o anúncio chamou a atenção dos especialistas do setor e da comunidade de desenvolvedores, afinal, trata-se de uma moeda digital apoiada e financiada amplamente por uma rede social com mais de 2 bilhões de usuários no mundo todo.
O anúncio trouxe o debate sobre a economia descentralizada das criptomoedas mais uma vez para a mídia tradicional, com alguns afirmando que a Libra vai popularizar ainda mais o mercado de criptomoedas e impulsionar a adoção dessa tendência, e outros afirmando que a moeda do Facebook, na verdade, é uma tentativa de centralização e controle privado da economia digital.
O fato é que, se o lançamento acontecer, será realmente um marco para a economia digital: a Libra será a primeira moeda digital privada do mundo – como se a Libra Association fosse um banco central privado -, o que representa um novo paradigma no mercado financeiro.
O Facebook, no ocidente – e também na Índia onde possui cerca de 400 milhões de usuários do Whatsapp -, já é dono das principais ferramentas de comunicação, compras e trocas de informação, como o Instagram, Facebook e o Whatsapp.
Desde o começo de 2018, o próprio Mark Zuckerberg já demonstrava interesse pelo universo das criptomoedas e de como facilitar transações financeiras dentro destes aplicativos.
Esse, na verdade, é um movimento esperado por parte do Facebook, já que sua base de usuários é enorme e integrar atividades comerciais e financeiras nos aplicativos é uma tendência forte na China, por exemplo, com o WeChat e o AliPay.
A iniciativa do Facebook pode ser extremamente disruptiva para a nossa sociedade, afinal estamos falando de quase 2 bilhões de pessoas no planeta que não têm acesso a serviços bancários. Na Índia, um mercado potencial para a Libra, são 190 milhões de pessoas sem conta bancária.
Dar acesso a serviços financeiros para essa população é extremamente positivo para a economia como um todo. Para se ter uma ideia, a contribuição econômica da população que não possui conta bancária no sudeste asiático pode subir de US$ 17 bi para US$ 52 bi até 2030, utilizando essas novas tecnologias, de acordo com um estudo da McKinsey.
E, para o Facebook, acreditar nessa adoção em massa de uma criptomoeda criada por eles não parece uma ideia tão estranha: são mais de 2 bilhões de usuários ativos na rede todos os meses e mais de 4 bilhões de usuários de internet no mundo todo. Um mercado grande o suficiente para popularizar a Libra e talvez torná-la a segunda ou terceira moeda mais negociada no mundo, rapidamente.
Na própria definição no whitepaper lançado pelo Facebook, a Libra é uma moeda digital global simples e uma infraestrutura financeira que empodera bilhões de pessoas e possui 3 conceitos fundamentais que juntos vão criar um sistema financeiro mais inclusivo, de acordo com a empresa:
Além disso, a Libra se utiliza do mecanismo de consenso LibraBFT, que vamos explicar com mais detalhes técnicos na parte de funcionamento da criptomoeda. A programação do Smart Contract é feita com a linguagem de programação “Move”, que também vamos detalhar mais abaixo.
O intuito dessa moeda é oferecer a oportunidade para que os usuários possam comprar produtos/serviços ou enviar dinheiro para outros usuários com tarifas quase a zero, dentro dos aplicativos do Facebook, ou em outros aplicativos dos membros da rede, que podem ser parte da Libra Association.
A Libra pretende ser aceita em diversos locais físicos também, além do mundo digital. E ao contrário da maioria das criptomoedas, a Libra é totalmente lastreada por uma reserva de ativos reais.
O dinheiro está sendo digitalizado, mas tudo isso ainda é bastante novo para quem não está envolvido com tecnologia e mercado financeiro. A descentralização da economia, por conta do advento e da utilização das criptomoedas também está trazendo uma transformação da própria economia.
A Libra, neste contexto, é importante pois ela é, de fato, a primeira tentativa de pegar o melhor do mundo cripto – a agilidade, o baixo custo, as transações instantâneas e sem fronteiras -, e o melhor do mundo tradicional – a segurança, confiabilidade, estabilidade do preço da moeda – e criar um novo modelo.
O blockchain da Libra está sendo construído com base em três conceitos principais:
O whitepaper mesmo define o blockchain da Libra como uma combinação de inovações tecnológicas de projetos e pesquisas já existentes com abordagens novas. O próprio consenso LibraBFT (baseado no Byzantine Fault Tolerance System) mostra isso.
Esse sistema de consenso usa mecanismos de confirmação para garantir que a rede não pare de validar e computar transações financeiras, nem perca sua agilidade, mesmo que alguns Nós da rede não estejam conectados e trabalhando naquele momento em particular.
A linguagem escolhida também tem um motivo: a Move já é pensada para servir grandes números de usuários ao mesmo tempo, com alto nível de segurança digital. Ela usa uma base de incidentes de segurança digital que já aconteceram justamente para diminuir o risco de criar um código de programação com bugs.
Além disso, ela foi desenhada especificamente para prevenir que ativos sejam clonados. Um ativo digital nesse ambiente então possui apenas um único dono e pode ser transacionado apenas uma vez. A linguagem também facilita a automação de provas de transações para agilizar o processo de troca de valor na rede.
Algumas das empresas que trabalham no desenvolvimento da Libra na Libra Association como a Visa, Mastercard, PayPal e eBay deixaram recentemente a Associação. A moeda digital enfrenta uma forte pressão de governos, reguladores globais e grandes nomes do mercado financeiro.
É o caso do CEO do Banco JP Morgan, Jamie Dimon, que afirmou que a criptomoeda “é uma boa ideia que nunca vai acontecer”. Já para a professora da Singularity University e uma entusiasta de criptomoedas e blockchain, Anne Connelly, a Libra trará impactos negativos para a economia digital, no que se refere à centralização privada dela.
Por um lado, a Libra tem um potencial enorme de oferecer acesso a serviços financeiros a usuários que antes não tinham sequer uma conta bancária, o que é absolutamente transformador. Por outro lado, existe uma vulnerabilidade de dados por parte dos aplicativos que serão utilizados para fazer as transações financeiras.