(Jirapong Manustrong/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 29 de março de 2021 às 16h36.
Última atualização em 29 de março de 2021 às 18h12.
A negociação de criptoativos movimenta milhões de reais todos os dias no Brasil e faz do intermédio dessas operações, por parte das exchanges (nome dado às bolsas onde as negociações são realizadas), um negócio bastante lucrativo. E é em busca de uma fatia desse lucro que empresas estrangeiras começam a desembarcar no país. O caso mais recente é o da mexicana Bitso.
Se até pouco tempo atrás o setor era dominado por empresas nacionais como Mercado Bitcoin, Foxbit e BitcoinTrade, o cenário começou a mudar nos últimos meses. As duas primeiras continuam em posição de liderança, mas agora têm a companhia de diversos players estrangeiros - além da recém-chegada Bitso, nomes como das chinesas Binance e NovaDAX e da argentina Ripio, que adquiriu a BitcoinTrade no final de 2020, também buscam seu lugar ao sol.
Para conquistar o território brasileiro, a Bitso, que tem investidores como Pantera Capital e Coinbase, aposta na regionalização, e terá uma equipe no país, comandada por Marcos Jarne, que assume o cargo de country manager da companhia após mais de cinco anos no Nubank.
O executivo é mais um a trocar o mercado financeiro "tradicional" pelo mercado cripto, em um movimento que tem se tornado cada vez mais frequente conforme o setor se desenvolve - recentemente, novos executivos da exchange Mercado Bitcoin fizeram o mesmo. "Acho que além dos mercados cripto e tradicional, existe uma terceira via, que são as fintechs, justamente a de onde eu vim", explicou Jarne à EXAME. "Tenho estudado muito sobre criptoativos, especialmente porque é um mercado dinâmico, com coisas novas surgindo todos os dias", disse, citando os NFTs como um exemplo.
Diferentemente do que acontece, por exemplo, com a Binance, que opera no Brasil através de sua matriz em Singapura, a Bitso, terá registro no país. "A Bitso tem um histórico internacional, mas eu sou brasileiro e temos CNPJ no Brasil", explicou, citando que não vê as regras das autoridades brasileiras para esse tipo de negócio como um empecilho: "Entendemos bem o papel de regulação e acreditamos que o Brasil tem uma visão positiva, que os reguladores estimulam novas tecnologias. As regras do Bacen e da CVM têm como pilares a competitividade, fomento à inovação".
Jarne terá um desafio considerável para levar a Bitso à uma posição de destaque no mercado cripto nacional. Se no México a empresa controla 95% do market share do setor, no Brasil a competitividade é muito mais acirrada. "Ter concorrência não é ruim, pelo contrário. É o que faz o mercado avançar, e o fato de ter mais opções é bom para todos, especialmente para os consumidores", disse o executivo. "Tem espaço para todo mundo", garante.
Ele também falou sobre as estratégias da empresa no Brasil, dizendo que, inicialmente, o foco será em investidores já acostumados ao mercado de criptoativos: "Não dá pra endereçar todo mundo de uma vez. Queremos montar uma boa estrutura, colocar o pé, e neste primeiro momento vamos focar nos investidores que já têm um certo conhecimento do mercado, para depois abrir o leque e expandir".
Jarne também falou sobre o que ele considera serem alguns diferenciais da empresa: "Temos uma proposta de trazer mais transparência, confiança e segurança para os investidores. Somos a única empresa da América Latina que possui licença para fazer custódia de criptoativos [emitida pelo órgão regulador de Gibraltar]. Também somos a única exchange a oferecer seguro contra roubo de carteiras digitais. Por fim, temos uma plataforma intuitiva, fácil de usar, e falamos a língua dos nossos clientes".
Com um volume de negociação estimado pelo site Cointrader Monitor em quase 10 bilhões de reais por mês, o mercado de criptoativos brasileiro tem mostrado crescimento significativo e constante. A chegada de empresas de diversas partes do mundo e o aumento da oferta de produtos e serviços ligados ao setor são apenas mais uma prova disso.