(Dem10/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 9 de março de 2022 às 10h47.
Última atualização em 9 de março de 2022 às 15h42.
A essa altura, você já deve ter ouvido falar sobre bitcoin e outros criptoativos. Eu tenho algo a propor: esqueça tudo aquilo que te contaram — eles não são nada daquilo que parecem à primeira vista.
Os criptoativos começaram com a criação do bitcoin, em 2009 - e ele se desenvolveu muito nesses últimos 13 anos! O bitcoin é o pioneiro e principal nome dessa nova tecnologia, mas ela vai muito além da definição de "dinheiro digital".
https://www.youtube.com/watch?v=IXmn-RyRWLk
Crypto não é dinheiro, não é um sistema de moeda, não é uma empresa, não é um produto e não é um serviço que você contrata. Crypto, nas suas várias formas, é uma plataforma descentralizada de confiança. Dinheiro e moeda são apenas as primeiras aplicações dessa plataforma. Da mesma maneira que o e-mail foi uma das primeiras aplicações da Internet, crypto é o conceito de descentralização aplicado à comunicação de valor.
Você já parou para pensar no que significa o dinheiro? De onde ele veio? Dinheiro é uma invenção humana, uma linguagem e uma abstração. Dinheiro é uma tecnologia inventada para comunicação de valor entre as pessoas.
Como toda tecnologia, o dinheiro evoluiu ao longo do tempo, se adaptando às transformações sociais e muitas vezes ajudando a moldar essas transformações. Do escambo ao cartão de crédito, passamos por conchas, sal, metais preciosos, dinheiro em papel com lastro, dinheiro em papel sem lastro e agora dinheiro digital - bits e bytes. O bitcoin e as outras criptomoedas são apenas a última evolução dessa tecnologia, que é digital, descentralizada e em rede, como a Internet. É dinheiro para a internet, mas mais que isso, é a Internet do dinheiro!
A Internet é um protocolo aberto e comum que permitiu que qualquer pessoa pudesse desenvolver aplicações para ela, bastando ter um computador, e saber programar e se conectar à rede, sem a necessidade de pedir permissão para alguém. A informação, que já havia sido digitalizada e desmaterializada, teve a sua produção e distribuição descentralizadas. O resto da história a gente já conhece.
Os criptoativos vão fazer com a indústria financeira o mesmo que a Internet fez com a indústria da informação. Duvida? Saiba que esse sentimento é normal. Toda inovação tende a ser vista com algum tipo de desconfiança no início. Foi assim com o trem, foi assim com o carro e foi assim com a Internet. Qual você acha que foi a reação quando alguém fez um pagamento com uma nota bancária ao invés de moedas de ouro? Qual foi a reação quando alguém pagou com cartão de crédito pela primeira vez em uma loja?
A tecnologia de crypto, essa internet de valor, é a primeira forma global, descentralizada, sem fronteiras e aberta de comunicação e transferência de valor, dinheiro e registros. Mais do que isso: ela é programável. Qualquer um pode construir aplicações para essa rede — da mesma forma que qualquer um pode construir uma aplicação para a internet.
E quando se tem um sistema livre para criação de aplicações sem a necessidade de se ter uma permissão para tal, um fenômeno interessante acontece: a inovação é exponencial! Aconteceu com a internet e já está acontecendo com o mundo dos criptoativos, com a internet de valor.
Hoje temos mais de dez mil criptos construídas usando essa tecnologia. A maioria é lixo, mas algumas não são. Na próxima década, vamos ver o surgimento de dezenas, centenas de milhares de aplicações. Quer alguns exemplos? Moedas de países, pontos de recompensa e fidelidade de empresas e indivíduos, títulos digitais de propriedade, tokens que representam ativos reais e muitas outras aplicações impossíveis de se prever agora.
Não precisamos ir muito longe para imaginar isso. Já presenciamos o mesmo fenômeno com a Internet e o mesmo vai acontecer com crypto.
O Bitcoin surgiu em 2009 da evolução de várias tecnologias que já existiam, incluindo a própria Internet. Hoje, 13 anos depois, temos um sistema funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano. Ininterruptamente, de forma descentralizada e global. Não há nada parecido na infraestrutura do sistema financeiro tradicional.
Uma criança nascida hoje provavelmente nunca vai tocar em uma nota de dinheiro em papel. Possivelmente, também não vai ter uma conta bancária — pelo menos não como as que a gente tem hoje.
Esse processo se acelerou no último ano. Bitcoin e outras criptomoedas vêm se consolidando como uma nova classe de ativos. Empresas estão aderindo e grandes bancos, aos poucos, adotando. Grandes investidores como Ray Dalio e Stanley Druckenmiller, fundos de pensão e seguradoras americanas já têm alocação em crypto.
E aqui vem o ponto central disso tudo: por ser uma nova tecnologia, crypto traz duas características essenciais. A primeira é uma grande assimetria: a partir do momento em que evolui e se consolida, o crescimento é exponencial. A segunda é o próprio estágio atual de maturação, a tecnologia vem acompanhada de um grande risco e incerteza. Pergunte para qualquer pessoa que investiu em Internet nos anos 90 e ela vai te falar exatamente isso.
Para aproveitar essa oportunidade, é preciso aprender minimamente sobre o assunto, entender o processo e, principalmente, não acreditar em fórmulas milagrosas de sucesso e enriquecimento rápido. Em crypto, como nos mercados e investimentos tradicionais, não existe atalho.
Abraços e até o próximo Crypto Insights!
*André Portilho é o head de Digital Assets do banco BTG Pactual
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