Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. (Adriano Machado/Reuters)
Cointelegraph Brasil
Publicado em 6 de junho de 2022 às 18h23.
A tecnologia subjacente aos criptoativos desencadearam um processo irreversível de tokenização da economia e a moeda digital do Banco Central (CBDC) brasileiro terá como função primordial fornecer a infraestrutura para tokenização de ativos, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante o painel de abertura do Rio Crypto Summit nesta segunda-feira, 6, no Rio de Janeiro.
Referindo-se aos criptoativos, Campos Neto disse que a grande revolução implantada pelo bitcoin e a tecnologia blockchain foi a possibilidade de extrair valor de uma infinidade de ativos através da tokenização:
"Então, o que as pessoas estão fazendo é achando algo que tem valor, colocam a criptografia em torno disso, adicionam a uma base de dados distribuída, onde você pode verificar a propriedade e transferir valores. A maior parte do que está acontecendo é a utilização desta tecnologia para extrair valor de alguma coisa. O que está no centro do debate não são as criptomoedas ou as CBDCs, mas a tokenização da economia. Você agrega valor e negocia coisas sob a forma de tokens."
A moeda corrente da economia brasileira a partir da implantação do real digital será baseada em stablecoins emitidas por instituições bancárias. Assim, o real digital não deverá ser uma moeda para uso cotidiano.
Campos Neto afirmou que o Banco Central vai incentivar que instituições bancárias emitam stablecoins privadas lastreadas pelo real digital:
"Os bancos serão capazes de emitir stablecoins sobre os seus depósitos e vão desenvolver uma tecnologia para isso, terão que investir, porque poderão ter ganhos. E uma vez que tiverem desenvolvido isso, os protocolos para emitir stablecoins em depósitos serão basicamente a mesma coisa para monetizar diversos outros ativos digitais."
O modelo delineado pelo Banco Central prevê que os bancos serão capazes de monetizar os próprios depósitos, por meio da tokenização:
"Ao monetizar os depósitos, você herda a regulação pré-existente sobre depósitos bancários, e assim fica bem mais fácil. E os bancos podem desenvolver um sistema com a mesma estrutura que eles já utilizam para os depósitos. Então, a forma como estamos criando nossa CBDC tem diversas vantagens em relação ao que tenho visto por aí."
Além disso, o presidente do BC defendeu que esse modelo também deve fomentar o mercado de securitização. Na visão de Campos Neto, os protocolos que forem utilizados pelos bancos para emitir suas próprias stablecoins vão incentivar a securitização:
"Outra coisa que fizemos, de outro lado, foi dar a habilidade dos bancos de terem liquidez em troca de ativos privados. Quando coloca essas duas coisas juntas, se securitiza o crédito muito mais rápido."
"Nosso objetivo é monetizar ativos. E o maior problema é como fazer a CBDC sem prejudicar a capacidade dos bancos de proverem crédito” concluiu Campos Neto.
Mais uma vez, o presidente do BC se manifestou a respeito da regulação de criptoativos no Brasil. Dessa vez, destacou os riscos da concentração da custódia dos criptoativos dos usuários brasileiros sob o controle de algumas exchanges:
"Temos 83% de todos os criptoativos com quatro custodiantes. É perigoso."
Campos Neto afirmou que a regulação proposta pelo Banco Central vai exigir que as exchanges comprovem a posse dos ativos negociados. Segundo ele, existe o risco de que ao comprar criptoativos confiando a custódia às exchanges, eles estão comprando de certificados de participação sobre os ativos – e não o ativo em si:
"As pessoas não estão comprando criptoativos, elas estão comprando certificados que supostamente têm um criptoativo por trás. Se não regularmos [esse mercado], não saberemos."
Inicialmente programados para acontecer ainda este ano, os testes para implantação do real digital foram adiados para 2023.
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