(SKapl/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 10h22.
Em janeiro de 2020, o bitcoin era negociado por volta de 7 mil dólares no mercado internacional. Agora, no final de dezembro, é cotado perto de 24 mil, a maior faixa de preço da sua história. Mas o que está por trás deste movimento?
Mais do que a alta nos preços, 2020 fica marcado na história dos criptoativos como o ano que levou o mercado a um novo patamar. E a gente explica o porquê.
Confira, abaixo, cinco dos fatos mais importantes sobre o bitcoin e os criptoativos que aconteceram este ano e entenda porque os preços subiram tanto e porque as perspectivas para o futuro do setor andam tão otimistas:
Investidores e entusiastas dos criptoativos aguardaram por três longos anos, mas o dia enfim chegou: em 16 de dezembro de 2020, o bitcoin finalmente superou a marca de 20 mil dólares.
O recorde de preço ainda seria batido dias depois, chegando a ser negociado acima de 24 mil dólares no dia 20. No entanto, a marca de 20 mil dólares é a que vai ficar registrada na história.
Depois de "bater na trave" em dezembro de 2017, quando chegou a cerca de 19.783 dólares, o bitcoin caiu para 3.500 em menos de um ano. O retorno à faixa de preço parecia estar distante, mas uma ascensão meteórica entre outubro e dezembro levou o maior criptoativo do mundo para um novo patamar.
Os ventos começaram a mudar para o bitcoin, e para os criptoativos de forma geral, quando o PayPal anunciou, no final de outubro, que passaria não apenas a custodiar criptos dos seus usuários, mas também permitir que eles comprassem, vendessem e guardassem os ativos digitais em suas carteiras.
O mesmo caminho seguiu a Square, empresa do CEO do Twitter Jack Dorsey dona do popular applicativo Cash App, anunciou a compra de milhões de dólares em bitcoin e o suporte da plataforma aos criptoativos.
A notícia caiu como uma bomba no mercado cripto. O PayPal, com 350 milhões de usuários no mundo, finalmente abriu as portas para o bitcoin. A esperança dos participantes do mercado, ainda à espera dos resultados dessa decisão, é de que isso leve os criptoativos para muito mais gente, ajudando na adoção dessa nova economia digital.
Além disso, para vender bitcoin e outras criptos para seus usuários, o PayPal precisa comprar os ativos em algum lugar. Os primeiros reflexos disso já foram sentidos: em pouco tempo, PayPal e Square compravam mais bitcoin do que estava sendo minerado por dia, fazendo com que a demanda aumentasse consideravelmente o que, claro, se reflete nos preços.
A discussão sobre moedas digitais emitidas por bancos centrais — as chamadas CBDCs, sigla em inglês para Central Banks Digital Currencies — vem de muito antes de 2020, mas foi neste ano que os grandes projetos sobre o tema começaram a sair do papel.
Pela primeira vez, uma potência econômica mundial demonstrou avanços sobre esse assunto. E não foi qualquer uma, mas a segunda maior do mundo. Em meados de outubro, a China realizou o primeiro teste com o seu "yuan digital". Depois, no início de dezembro, um segundo teste foi realizado.
Nos dois casos, o governo distribuiu milhões de dólares em "yuan digital" para cidadãos sorteados, permitindo que testassem a nova moeda em compras normais das suas rotinas. Finalizados os testes, a expectativa pelo lançamento oficial do projeto é cada vez maior — e, certamente, está cada vez mais perto.
O movimento do governo chinês, claro, deu início a uma "corrida pelas CBDCs", e diversos outros grandes bancos centrais correram para anunciar avanços em projetos do tipo, como foi o caso do Brasil e do Banco Central Europeu.
As CBDCs não tem relação direta com o bitcoin, mas, segundo especialistas, têm tudo para beneficiar os criptoativos, já que não apenas servem como "chancela" de grandes países sobre o uso e a relevância de moedas digitais, como ajuda a divulgar esse mercado para pessoas que ainda não faziam parte dele.
Principal motivo por trás da alta acelerada do bitcoin no último trimestre de 2020, a entrada de investidores institucionais no mercado de criptoativos pode causar uma verdadeira revolução.
Em primeiro lugar, nos preços. Como investidores institucionais movimentam quantias muito maiores de dinheiro do que o varejo, quando esses grandes players decidem comprar o mesmo ativo, o resultado não pode ser outro senão um aumento significativo na demanda. E, como o bitcoin tem oferta limitada, o impacto nos preços é inevitável.
Além disso, investidores institucionais estão menos suscetíveis ao pânico em caso de queda na cotação, algo que é comum entre investidores "comuns" e que transforma pequenas oscilações de preço em uma "bola de neve".
Para completar, a entrada de grandes investidores serve também como referência para os investidores "comuns". O raciocínio é simples: quando uma pessoa que estava desconfiada dos criptoativos vê os maiores bancos e gestores de investimentos entrando nesse mercado, ela tende a seguir o movimento.
É por tudo isso que muitos especialistas afirmam que a alta de 2020 não terminará como a de 2017: naquela ocasião, havia pouco dinheiro institucional investido nos criptoativos.
Neste ano, fundos como One River, MassMutual, Guggenheim Partners, Grayscale, BlackRock, a empresa de software MicroStrategy, entre vários outros grandes investidores institucionais, compraram — ou anunciaram que pretendem comprar — bilhões de dólares em bitcoin.
Grandes instituições financeiras como JPMorgan, Morgan Stanley, Goldman Sachs e Citigroup também falaram de forma positiva sobre os criptoativos. No Brasil, fundos de investimento em criptoativos exclusivos para investidores qualificados e profissionais também cresceram monstruosamente em 2020, como é o caso dos fundos da Hashdex, da BLP Asset e da Vitreo, que cresceram até 1.100% no ano.
O ano de 2020 também ficará marcado como o ano em que a opinião pública mudou de lado e passou a apoiar o mercado de criptoativos. Não em sua totalidade, é claro, mas o número de influenciadores e nomes relevantes do mercado financeiro que passaram a declarar apoio — e até investimentos — em bitcoin e outras criptos nunca foi tão grande.
Bilionários como Paul Tudor Jones, Stanley Druckenmiller, Ray Dalio, entre muitos outros, anunciaram ao longo do ano que estão investindo em ativos digitais. O mesmo fizeram celebridades como Maisie Williams, a Arya Stark de "Game of Thrones", entre tantos outros nomes famosos. Até Bill Gates e Elon Musk, que já falavam do assunto há bastante tempo, nunca estiveram tão ativos no tema.
Como servem de referência para milhões de pessoas, quando esses nomes de peso assumem publicamente o seu interesse em alguma coisa, é evidente que levam muitos consigo. Em 2020, esse movimento se tornou mais intenso do que nunca e, apesar de não ser algo mensurável, é provável que os efeitos sejam significativos no médio e no longo prazo.
O crescimento do mercado cripto ao longo do ano também se reflete em outros mercados, como o do entretenimento. Em 2020, o bitcoin esteve em séries da Netflix e da Amazon Prime Video, em jornais e canais de televisão que pouco falavam sobre o assunto, e até em programas como "Caldeirão do Huck", onde criptoativos foram tema no quadro "Quem Quer Ser Um Milionário?".
Essa situação é nova para o mercado de criptoativos, e reforça a tese do quanto o setor evoluiu ao longo do ano. Estar na boca de celebridades, investidores famosos, formadores de opinião, produtos de entretenimento e outros espaços mainstream é, sem sombra de dúvidas, uma conquista notável alcançada em 2020.
É claro que os fatos citados acima não servem como garantia de que investir em criptoativos continuará dando lucros exorbitantes, muito menos indicam que as pessoas devem fazer loucuras para entrar neste mercado. Mas é um fato que 2020 foi um ano de crescimento e amadurecimento para o setor, e 2021 poderá consolidar esse movimento.