(Bloomberg/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 11 de janeiro de 2021 às 11h08.
Última atualização em 11 de janeiro de 2021 às 14h53.
O bitcoin sofreu uma enorme pressão vendedora e viu sua cotação despencar, chegando a cair quase 20% nas últimas 24 horas. Cotado a mais de 41 mil dólares na manhã do último domingo (10), o preço do ativo caiu para cerca de 32 mil dólares nesta segunda-feira (11) — foi a maior queda no preço do ativo digital desde março de 2020. O movimento é reflexo de uma grande pressão vendedora e da liquidação de quase 3 bilhões de dólares em contratos futuros de bitcoin.
No domingo, a capitalização de mercado do bitcoin era de quase 770 bilhões de dólares. Na manhã desta segunda-feira, encolheu quase 140 bilhões, segundo dados do site Coin Market Cap. A saída de dinheiro do mercado era esperada após a intensa alta que elevou o preço do ativo digital de 20 mil para mais de 41 mil dólares em menos de um mês, já que muitos investidores aproveitam o momento de alta para realizar lucros.
Além disso, a queda no preço do ativo fez com que milhares de posições em aberto de contratos futuros de bitcoin, que apostavam na alta do ativo (posições "compradas") fossem liquidadas — ao todo, segundo o site de monitoramento Bybt, foram liquidados mais de 2,7 bilhões de dólares nas últimas 24 horas.
Contratos futuros são derivativos que apostam no desempenho futuro de um determinado ativo. Se o investidor acredita que o ativo vai subir, ele opera “comprado” (ou, em inglês, “long”); se acredita que o ativo vai desvalorizar, opera “vendido” (“short”).
Como esse tipo de operação é feita com alavancagem, que é uma espécie de empréstimo que o investidor faz com a plataforma de negociação para poder negociar posições maiores, depende de garantias para ser realizado. Quando o preço do ativo anda para o lado oposto ao que o investidor apostou, ele pode ter sua posição liquidada automaticamente, antes que todo o valor seja perdido, para que o "empréstimo" seja quitado — este recurso é chamado de “stop-loss” e visa justamente limitar o prejuízo de cada operação.
Essa situação também já era antecipada por especialistas. O analista de criptoativos Joseph Young já indicava essa possibilidade na semana passada. Em análise publicada na EXAME, falava sobre o "superaquecimento" do mercado de derivativos de bitcoin e o excesso de posições "compradas" em aberto:
"O mercado está superalavancado e esmagadoramente 'comprado' em bitcoin. A taxa de financiamento dos contratos futuros de bitcoin ultrapassou 0,15%, valor que, em média, gira em torno de 0,01%. Isso significa que o mercado está 'superaquecido' e que a maioria dos investidores está 'comprado'. Essa tendência aumenta a probabilidade de um 'long squeeze'", disse, na quarta-feira (6).
"Long squeeze" é quando investidores começam a liquidar suas posições "compradas" em caso de queda no preço do ativo, para evitar ou reduzir perdas, o que pode empurrar os preços ainda mais para baixo.
Apesar da queda acentuada, o sentimento geral no mercado de criptoativos ainda é otimista. Um dos fatores que sustentam essa tendência é o número de carteiras com mais de mil bitcoins, que cresceu após a retração no preço do ativo digital.
"O número de endereços com mais de 1.000 BTC continua crescendo — mesmo com a queda mais recente entrando em vigor. Enquanto você vendia, as baleias [grandes investidores] devoravam seu bitcoin", disse o especialista da Bison Trails, Elias Simos, no Twitter.
Analistas da empresa de análise de blockchain Glassnode, por sua vez, dizem que os fundamentos do bitcoin permanecem intactos após a queda nos preços, o que também é um argumento a favor de uma visão otimista sobre o mercado. Segundo os especialistas, a taxa de hash (que mede a capacidade de processamento da rede) e a dificuldade de mineração de bitcoin permanecem em seu topo histórico.
Outro ponto que, segundo analistas, pode favorecer o bitcoin no curto prazo é o anúncio de um novo pacote de estímulo econômico por parte do Fed, o banco central dos EUA. A administração Joe Biden, que começa no próximo dia 20, deve imprimir até 3 trilhões de dólares para ajudar a economia norte-americana, o que pode provocar desvalorização do dólar e inflação, o que pode fortalecer o bitcoin como reserva de valor.
Além disso, é importante notar que o bitcoin vinha em um movimento de alta muito intenso e acelerado e, portanto, uma correção de preço já era esperada e não necessariamente significa que o ativo deixou de ser interessante para os investidores. Por outro lado, a pressão vendedora, a realização de lucros e a liquidação de contratos futuros em aberto ainda tem força para empurrar o preço do ativo ainda mais para baixo.
No momento, o bitcoin é negociado perto de 32 mil dólares no mercado internacional, seu menor valor desde o dia 5 de janeiro, 20% abaixo do preço do ativo digital até a manhã do último domingo.
No curso "Decifrando as Criptomoedas" da EXAME Academy, Nicholas Sacchi, head de criptoativos da Exame, mergulha no universo de criptoativos, com o objetivo de desmistificar e trazer clareza sobre o funcionamento. O especialista usa como exemplo o jogo Monopoly para mostrar quem são as empresas que estão atentas a essa tecnologia, além de ensinar como comprar criptoativos. Confira.