(Dem10/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 19h28.
Última atualização em 3 de dezembro de 2020 às 20h11.
Enquanto o preço do bitcoin se consolida na faixa de 19.000 dólares no mercado internacional, analistas apontam diversos fatores que podem colocar o ativo digital novamente em tendência de alta, sendo a desvalorização prevista para o dólar o principal deles.
A queda no valor do dólar pode afetar o preço do bitcoin de diferentes maneiras, mas a primeira e possivelmente mais relevante delas é que a desvalorização da moeda mais importante do mundo deve fazer com que investidores busquem outros "refúgios" para seus investimentos, em especial investidores institucionais, que possuem maior quantidade de dinheiro.
Não por acaso, depois que a venda de dólares ganhou força nesta semana, com o US Dollar Index (DXY) atingindo 90,22 nesta quinta-feira, 3 — seu nível mais baixo desde abril de 2018 —, o Bitcoin Trust (GBTC), fundo da Grayscale para investidores institucionais, viu um aumento considerável na demanda pelo produto. A Grayscale é a maior custodiante de bitcoin no mundo, com mais de 1 bilhão de dólares em bitcoin sob sua gestão — ao todo, a empresa possui mais de 500.000 unidades de bitcoin sob custódia.
A surpreendente alta do bitcoin desde outubro também está ligada aos investidores institucionais. O preço do ativo praticamente dobrou nas últimas oito semanas, devido, entre outros fatores, à entrada de empresas de capital aberto no mercado de criptoativos, que compraram bitcoin como forma de proteção contra a inflação.
Com a queda do dólar e perspectivas de inflação ainda mais alta no longo prazo, a situação deve ser tornar ainda mais comum. Se em março a previsão de inflação no longo prazo nos Estados Unidos atingiu seu fundo em 0,5%, nesta semana chegou a 1,85%.
Analistas do banco de investimento Morgan Stanley preveem novas quedas para a moeda americana. Mark Wilson, diretor de investimentos e estrategista-chefe de ações da instituição nos Estados Unidos, disse à Bloomberg que prevê queda de mais 10% para o dólar nos próximos 12 meses.
O analista observou que o Fed — o banco central americano — e o governo dos Estados Unidos têm sido "os mais agressivos com déficits estruturais” em meio à pandemia do novo coronavírus. "Um dólar mais fraco é útil para o mundo", afirmou. “Um dólar mais forte é mais uma restrição ao crescimento global. [...] Em última análise, é uma história positiva para a reflação".
Em geral, esses fatores fazem com que não apenas as instituições mas também os investidores de varejo comprem ativos tradicionais de reserva de valor, como o ouro. Neste ano, entretanto, eles têm alocado cada vez mais dinheiro em bitcoin para esta função, fortalecendo seu apelo como proteção contra a inflação e reforçando a tese de que o ativo é uma alternativa ao ouro, ou, como muitos gostam de dizer, o "ouro digital".
"Estamos tentando preservar nosso tesouro. O poder de compra do dinheiro está se degradando rapidamente", disse o executivo-chefe da MicroStrategy, Michael Saylor, ao site CoinDesk, em novembro, enquanto explicava a razão por trás da decisão da empresa de comprar bitcoin — só em setembro, foram 425 milhões de dólares investidos no ativo pela companhia.
Segundo Saylor, o bitcoin é uma reserva de valor melhor do que o ouro, tese que também foi citada pelo banco J.P. Morgan, que afirmou, em relatório recente, que muitos investidores têm trocado o metal precioso pelo bitcoin.
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Desde quando atingiu seu preço mais baixo em 2020, chegando a cerca de 3.800 dólares no "crash" de março, até a alta recorde de 19.920 dólares no início desta semana, o ativo digital acompanhou, em sentido oposto, a tendência de baixa do dólar, o que indica que, caso o dólar continue caindo, o bitcoin tende a andar no sentido oposto.
Depois de registrar a máxima histórica, o preço do bitcoin se consolidou nos últimos dias na faixa de 19.000 dólares, devido à forte resistência dos 20.000 dólares, causa principalmente pelo grande número de ordens de venda nessa faixa de preço e pela diminuição da demanda pelo ativo após o recorde. "Se um dos lados quebrar, acredito que veremos 'fogos de artifício', especialmente no lado positivo", disse Patrick Heusser, trader de criptoativos da Crypto Broker AG, com sede em Zurique, também ao CoinDesk.
No momento, o maior ativo digital do mundo é negociado por volta dos 19.450 dólares nas principais exchanges de criptoativos.