Raj Dhamodharan é o vice-presidente executivo da Mastercard para cripto e blockchain (Mastercard/Divulgação/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 7 de fevereiro de 2024 às 16h03.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2024 às 16h10.
Apesar de ser uma das maiores e mais tradicionais empresas da área de meios de pagamento, a Mastercard segue de olho em possíveis inovações e mudanças nesse ecossistema. E uma das prioridades da companhia envolve o blockchain e as criptomoedas, com um esforço para desenvolver "casos de uso no mundo real" e expandir a adoção da tecnologia.
É o que afirma Raj Dhamodharan, vice-presidente executivo da Mastercard. Em entrevista exclusiva para a EXAME, o líder global da empresa para a tecnologia blockchain e os criptoativos avaliou que eles "vieram para ficar" e têm tido uma adoção crescente no mercado. Mesmo assim, eles ainda enfrentam desafios, que estão no radar da Mastercard.
Há mais de quatro anos no cargo, Dhamodharan explica que seu grande objetivo é "encontrar aplicações no mundo real para a tecnologia blockchain", a mesma que está por trás do bitcoin, ether e outras criptomoedas. Entre as mudanças trazidas pela tecnologia, ele cita a capacidade de tokenizar qualquer ativo e representá-los nessa rede, dando mais transparência e eficiência.
O executivo pontua que o blockchain e as criptomoedas foram inventados ao mesmo tempo, mas a evolução de perspectiva da Mastercard ocorreu quando "houve a descoberta que essa tecnologia é muito útil para vários setores financeiros já existentes. Em geral falamos de bitcoin e ether, mas não falamos que existe uma versão digital já do dinheiro, os depósitos bancários, que as pessoas já usam e é altamente confiado pela população".
Para Dhamodharan, a tecnologia blockchain pode beneficiar exatamente a área de depósitos bancários, "empoderando o próximo ciclo de inovação no setor financeiro". "A nossa convicção com a tecnologia nunca mudou. Nós acreditamos que ela já está madura para ser aplicada de um jeito seguro e regulado", ressalta.
Isso não significa, porém, que o líder da Mastercard descarta as criptomoedas. "Nós apoiamos as criptomoedas, elas também têm uma utilidade. É mais sobre o que criar para qual propósito. Vemos cripto como classe de investimento, e vão continuar existindo dessa forma. Elas vieram para ficar, e além disso possuem uma tecnologia por trás [o blockchain] que pode ser aplicado em outras áreas", opina.
Nesse sentido, ele avalia que a Mastercard não busca colocar o blockchain contra as criptomoedas, mas sim entender as vantagens e os riscos de cada um e suas possíveis aplicações. No caso das criptomoedas, ele avalia que o maior desafio para a expansão de usuários é a incorporação das regulações por parte das empresas do setor, assim como a garantia de uma experiência de usuário simples. Ele resume o desafio como "segurança e simplicidade".
Já no caso do blockchain, ele considera que a maior necessidade é que as instituições financeiras expandam a adoção da tecnologia: "Quanto mais instituições se conectarem a essa infraestrutura, mais o uso vai se expandir. Precisamos que os segmentos financeiros do dia a dia passem a usá-la. Mas eles só farão isso se houver um dinheiro regulado para ser usado lá".
Citando o desejo de grandes empresas do mercado de usar moedas reguladas em blockchains, Dhamodharan destaca o papel central que as moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) deverão ter. As moedas conseguem "juntar o melhor do blockchain com o melhor do setor financeiro", integrando moedas fiduciárias e reguladas nas redes blockchain.
A partir daí, é possível tornar as operações programáveis, assim como os próprios depósitos bancários. Como exemplo, o executivo da Mastercard cita o Brasil, que atualmente está desenvolvendo sua CBDC, o Drex. "O Brasil está liderando parte dessa inovação por causa do Banco Central, que tem uma postura bem-pensada, progressiva".
"Cada país vai tomar decisões sobre design, propósitos e casos de uso das CBDCs. Eu espero diferentes CBDCs, com diferentes motivações. Não vamos julgar isso, mas sim ser um parceiro para ajudar o design para que tenha um alcance máximo", explicou. Atualmente, a Mastercard é uma das participantes nos testes com o piloto do Drex.
Dhamodharan comenta que "nos últimos 12 meses estivemos em lugares como Hong Kong, Austrália, Cazaquistão, Reino Unido e outros mercados em que estamos ajudando no design das CBDCS, mostrando quais casos de uso podem existir e como conectá-los".
O líder de cripto da empresa explica que as CBDCs são divididas entre as de varejo, voltadas para os consumidores, e as de atacado, caso do Drex. Especificamente sobre as de atacado, ele pontua que "é um grande caso de uso, porque torna mais fácil para instituições processarem transações B2B, de forma mais simples e ágil".
"Achamos que o Brasil está na vanguarda disso. Poucos países implementaram um sistema como o Drex, e o Brasil já tem. É uma estrutura inovativa, com CBDCs e os depósitos bancários já tokenizados, então estamos animados", destaca.
Um dos principais projetos que a Mastercard deverá lançar em 2024 é o Mastercard Crypto Credential, que foi anunciado em 2023. Dhamodharan define o projeto como uma "VPN para os blockchains", que permitirá garantir a autenticidade dos usuários e o cumprimentos com regras de compliance e KYC para os endereços em blockchains.
"Temos vários blockchains públicos hoje, dúzias, mas tem uma dificuldade que é verificar a contraparte em uma transação no blockchain. Não tem um framework para garantir que as transações estão seguindo as leis. O MCC fornece esse framework, de KYC, para que todas as contrapartes saibam que, ao usar um endereço, qual é a contraparte, onde está, quem manda, se fez o KYC, com uma empresa apoiando por trás, sem usos com fins ilícitos", explica.
A expectativa é que o projeto seja lançado "muito em breve". Há, ainda, planos para expandir o Mastercard MultiToken Network, sistema que permite que empresas tokenizem seus depósitos bancários. Já disponível no Reino Unido, a ideia é expandir a tecnologia para outros países em 2024.
"Vamos focar em trazer casos de uso do mundo real. Não pode ser só comprar critpmoedas, é como resolver as dores de empresas e consumidores, e nosso foco está no B2B, em áreas como transações transfronteiriças e negociação de ativos", explica Dhamodharan.
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