Novo padrão busca trazer novas funcionalidades para NFTs (Getty Images/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 18 de junho de 2023 às 10h00.
Os tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) ainda são encarados com muito ceticismo pelo público em geral, mas os desenvolvedores não desistem de correr atrás para alavancar a usabilidade da tecnologia e aproximá-la cada vez mais da sociedade.
No dia 7 de maio deste ano, a introdução de um novíssimo padrão de NFT na blockchain da Ethereum, batizado de ERC-6551, vem entregando funcionalidades inéditas e que podem ajudar a pavimentar a estrada para uma adoção em massa da tecnologia.
A sigla parece complicada? Não criemos pânico, vamos entendê-la.
ERC significa “Ethereum Request for Comments” ou, em português, Solicitação de Comentários do Ethereum. Faz referência a um conjunto de documentos técnicos que estabelecem padrões para o desenvolvimento dos ativos digitais, a grosso modo uma espécie de receita. A partir destas regras, os desenvolvedores criam os seus projetos de forma que todos falem a mesma língua.
O primeiro padrão criado foi o ERC-721, em 2017, abrindo caminho para a tokenização de ativos digitais únicos que conhecemos como NFTs. Seu nascimento trouxe um vislumbre inovador do futuro da propriedade e da proveniência na blockchain.
Desde então, novas atualizações foram implementadas e pudemos testemunhar, inclusive, um enorme hype invadir o mercado de ativos digitais com o surgimento dos JPEGs, as famosas artes digitais baseadas em blockchain.
Propagandeadas no último ciclo de alta por estrelas do calibre de Madonna, Snoop Dogg, Eminem e Neymar, coleções como Bored Ape Yacht Club e CryptoPunks inflamaram o mercado em 2021/2022. Algumas peças chegaram a custar milhões de dólares.
O hype diminuiu e deixou exposta a pouca usabilidade dos JPEGs. No entanto, foi muito bom ver a poeira baixar, porque desenvolvedores e empresas começaram a olhar mais na direção de usar os NFTs como ferramenta para solucionar dores reais da indústria em geral.
Saindo das imagens estáticas, começamos a explorar novas formas de representá-los, como os NFTs dinâmicos, que podem ser programados para mudar com o tempo, itens de jogos e músicas, passando por utilidades como registros de histórico médico e rastreamento e autenticação de garrafas de vinhos, por exemplo, ou carros com certificação em NFT. Aplicações no agronegócio, setor imobiliário e tantos outros já são realidade. Prometo uma coluna sobre esse assunto.
Agora, de volta ao padrão recém-criado ERC-6551, sua implementação permite que os NFTs funcionem como “contas vinculadas a tokens” ou TBAs (Token Bound Accounts), com a criação de uma carteira de contrato inteligente para cada NFT ERC-721. Essa é uma forma de trazer muito mais dinamismo e versatilidade ao uso da tecnologia.
Mas o que são TBAs? As TBAs são carteiras que possibilitam a criação de interface e registro para contas de contrato inteligente pertencentes a tokens ERC-721. Os NFTs passam a ter a capacidade de “possuir” ativos e executar transações.
As contas vinculadas a tokens dão aos NFTs duas importantes propriedades:
As TBAs também registram todas as atividades realizadas na blockchain de maneira imutável. Ou seja: cada NFT em uma carteira tem um histórico completo da propriedade dos ativos e das transações.
Embora as contas vinculadas a tokens pertençam tecnicamente a um NFT ERC-721, o controle é atribuído ao proprietário do NFT, que está apto a conduzir ações na blockchain em nome de um NFT por meio de uma TBA.
Suponhamos que você possua o NFT de um personagem de um jogo no formato ERC-721, armazenado normalmente na sua carteira. Ao evoluir no jogo e coletar outros itens, esses novos NFTs serão armazenados na carteira do proprietário como tokens separados uns dos outros.
Com os TBAs, é possível criar uma espécie de inventário do game. Os jogadores poderão transferir todos os ativos do jogo para a “carteira do personagem”, dando ao player uma visão completa de suas conquistas. Além disso, caso o jogador desista do jogo, ele pode vender o personagem já com tudo o que tem direito, o pacote completo de ativos coletados no game, uma mão na roda para o proprietário.
Se uma identidade na blockchain é composta por ativos e transações em uma carteira específica, as TBAs, portanto, dão aos NFTs a capacidade de ter uma identidade própria. Os tokens não fungíveis também passam a poder interagir com aplicativos descentralizadas, os dApps, de forma independente.
As marcas têm tudo para tirar proveito da tecnologia e potencializar a experiência do consumidor. Graças ao ERC-6551, os NFTs são capazes de conceder a seus proprietários vantagens em um programa de fidelidade, por exemplo. Empréstimos também seriam facilitados, com os NFTs agregando valor à reputação, como um veículo para classificações de crédito verificáveis.
Protocolos e DAOs poderão gerar mais incentivos para aumentar a participação e o engajamento da comunidade. Um membro pode fazer uma compra inicial de um NFT vinculado ao projeto, por exemplo, como um cartão de membro ou um JPEG, e ir acumulando valor a partir da coleta de outros NFTs relacionados ou mesmo diferentes ativos.
Uma propriedade importantíssima das TBAs é sua compatibilidade com diferentes tipos de ativos. Portanto, incorporar tokens, NFTs e outros ativos em um único TBA permite que os usuários façam transferências e troquem de plataformas (interoperabilidade) facilmente, proporcionando uma experiência mais positiva para os usuários.
Todos esses movimentos de que falamos são muito interessantes, mas devemos atentar para o fato de que os tokens ERC-6551 acabaram de sair do forno. Assim, todo cuidado é pouco. Quem estiver interessado deve tomar o cuidado de não ir com muita sede ao pote.
Um dos motivos é que, ao alavancar o valor dos NFTs, o novo padrão pode deixá-los ainda mais atraentes para os hackers. Preciso destacar também que muitos projetos e plataformas existentes ainda não dão suporte ao novo modelo.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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