(Joe Raedle/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 11h00.
Muitas das pessoas que conheço não fazem a menor ideia do que a MicroStrategy faz. O que elas sabem é que a empresa tem um presidente que é um feroz defensor do bitcoin (BTC), sendo responsável por fazer compras massivas da criptomoeda para os cofres da companhia.
Michael Saylor pode ser visto como “excêntrico”, mas é inegável que ele foi brilhante na decisão de assumir a criptomoeda como sua principal reserva de valor.
E isso não só fez com que a MicroStrategy ganhasse alguns milhões de dólares com a valorização do BTC. Mas mudou, de fato, o patamar da empresa dentro do próprio mercado financeiro.
A nível de curiosidade, acho interessante dizer quem é a MicroStrategy. E não é também dizer que eles eram ultra-inovadores. Ela foi fundada em 1989, como uma empresa de tecnologia.
Seu produto era uma plataforma de análise de dados para inteligência de negócios (BI). Com o passar dos anos, eles começaram a adicionar novos produtos, como desenvolvimento de software e aplicações, serviços em nuvem para instituições, etc.
A história com o bitcoin foi começar mesmo em agosto de 2020, quando Michael Saylor, então CEO da MicroStrategy, fez a primeira compra de 21.454 BTCs, por um valor de US$ 250 milhões.
Essa nova postura da MicroStrategy se manteve ao longo dos anos. E olha que eles enfrentaram o bear market de 2022 de ponta a ponta que poderia facilmente desestimular a estratégia.
Mas Michael Saylor estava convicto do potencial da criptomoeda como reserva de valor – superior ao que o próprio dinheiro oferece, segundo ele! A convicção é tanta que, mesmo hoje, com o BTC perto de suas máximas históricas, a empresa segue comprando.
Só na última semana, a empresa fez a sua maior aquisição de bitcoin. Foram comprados 55,5 mil BTCs, por um preço total de US$ 5,4 bilhões.
Ao todo, a empresa detém 386,7 mil bitcoins em caixa, com um preço médio de US$ 56.761,00 para cada unidade da criptomoeda.
A MicroStrategy continua sendo uma respeitada empresa de tecnologia, mas a estratégia de comprar bitcoin não afetou apenas os cofres da empresa. Ela impactou também sua percepção dentro do próprio mercado.
Em uma perspectiva de capitalização de mercado, a empresa saiu de US$ 1,2 bilhão, em agosto de 2020, para os atuais US$ 90,44 bilhões. Isso é um crescimento de quase 7.400% ao nos últimos quatro anos.
Em 2024, a empresa começou com US$ 10,55 bilhões de market cap, com um avanço superior a 750%.
Ou seja, o mercado precificou não só a tecnologia da MicroStrategy, mas também a saúde das reservas da empresa e toda a mídia, claro, por trás de cada anúncio de compra de bitcoin.
Hoje, a MicroStrategy é uma das maiores detentoras de bitcoin do mundo. Em relação a empresas, ela é a líder, com os atuais 386,7 mil BTCs. Bem acima dos 25,9 mil BTCs da empresa de tecnologia sustentável Marathon Digital.
Até mesmo a Tesla, que fez um grande aporte em 2021, fica atrás, na quarta posição, com 9,7 mil BTCs em caixa.
Os ETFs, apesar do pouco tempo de vida, ainda detém o maior volume, possuindo mais de 1,2 milhão de BTCs – algo em torno de 6% do suprimento total da criptomoeda.
Trazer esses números não é uma tentativa de convencer alguém aqui a trocar toda sua reserva por bitcoin. Afinal, como qualquer outro ativo, essa estratégia tem seus riscos.
Mas o que estamos vendo é uma empresa que se posiciona em direção ao suporte à tecnologia.
A compra de BTC e seu armazenamento de longo prazo vão muito além do que um mero investimento em busca de retornos agressivos. Se fosse por isso, a MicroStrategy já teria vendido há muito tempo suas criptomoedas.
Seu posicionamento é uma busca por ativos que sejam mais seguros do que os que temos hoje e que possam trazer uma mudança na relação entre empresas, pessoas e dinheiro.
Além disso, é uma aposta em um mundo em que as finanças sejam um pouco mais descentralizadas e que seus verdadeiros detentores sejam responsáveis por elas.
*João Canhada é fundador da Foxbit, corretora de criptomoedas.
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