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Como a tecnologia blockchain possibilita acreditar em um futuro mais justo na moda

Entenda como o blockchain pode ajudar a resolver o dilema central da moda brasileira, um setor que movimenta milhões, mas que ainda opera sob uma lógica produtiva profundamente desigual

Moda Masculina Primavera/Verão 2025 da Prada (Daniele Venturelli/WireImage/Getty Images)

Moda Masculina Primavera/Verão 2025 da Prada (Daniele Venturelli/WireImage/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 21 de abril de 2025 às 11h00.

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Por André Salem*

Você sabe qual a origem da sua roupa? É comum não fazermos essa reflexão no dia a dia, mas o setor da moda é um dos que mais causa impactos ambientais e sociais no planeta. É difícil conceber que ainda hoje existam casos de pessoas submetidas a condições semelhantes à do trabalho escravo. Mas, sim, isso é um fato.

Até pouco tempo, o consumo desenfreado e sem regulamentação de artigos de moda nem era discutido. Depois da exposição global do colapso do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, em 2013, os olhos do mundo se voltaram com mais atenção para a indústria fashion.

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A tragédia matou 1100 pessoas em um edifício onde funcionava uma fábrica têxtil, expondo a situação precária desses trabalhadores. O acontecimento desencadeou um movimento voltado para a promoção da transparência e sustentabilidade no setor e a criação da Fashion Revolution Week, no mês de abril. O período tem um impacto global, com eventos e iniciativas em diversos países, inclusive no Brasil.

Este ano o tema da campanha é “Pense global, aja local: quem é o Brasil na revolução da moda?”, que mobiliza centenas de ações gratuitas em todo o país, como debates, oficinas, exposições e encontros que provocam uma reflexão coletiva sobre os impactos da indústria da moda em nossas vidas, no meio ambiente e na economia.

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Mesmo com ações importantes como essa, é preciso ir além da conscientização. Porque, apesar dos avanços no discurso e da crescente adesão de marcas e consumidores, a cadeia produtiva da moda no Brasil ainda precisa de avanços.

De acordo com dados do Comitê da Cadeia Produtiva da Moda (Commoda) da Fiesp, divulgados em julho de 2023, mais de 2 milhões de pessoas trabalham na cadeia da moda no Brasil — sendo mais de 1,2 milhão nas atividades industriais e cerca de 900 mil nas áreas de distribuição e comercialização.

Já a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) aponta que o setor gera 1,3 milhão de empregos diretos, consolidando-se como o segundo maior empregador da indústria de transformação no país. Desse total, 60% da força de trabalho é composta por mulheres.

Apesar da relevância econômica, a realidade por trás dos números revela um cenário de precarização: ausência de direitos básicos, jornadas exaustivas e remuneração abaixo do mínimo. Essa contradição expõe o dilema central da moda brasileira, um setor que movimenta milhões, mas que ainda opera sob uma lógica produtiva profundamente desigual.

E por que falar sobre inovação está conectado a isso tudo? Justamente porque a tecnologia pode ser uma aliada eficiente na construção de uma moda mais justa, transparente e rastreável, ajudando a dissolver esse cenário tão negativo.

Quando olhamos para a complexidade da cadeia têxtil, com suas múltiplas camadas, atravessadas por informalidade e terceirizações invisíveis, percebemos que apenas boas intenções não bastam. Precisamos de ferramentas capazes de trazer à luz o que hoje se esconde nas sombras. É aqui que entra o blockchain.

A adoção dessa tecnologia pode representar um divisor de águas para o setor. Ao permitir o registro imutável de informações em cada etapa da produção – do cultivo ao ponto de venda final –, o blockchain oferece o que mais falta à indústria da moda: confiança.

A convicção de que os insumos utilizados não contribuíram para o desmatamento ou a contaminação de rios, de que a promessa de sustentabilidade não é apenas um discurso de marketing, mas um compromisso real, e a certeza de que aquela peça foi feita sem trabalho análogo à escravidão.

Estamos falando de uma nova lógica, em que os dados deixam de ser propriedade exclusiva das marcas e passam a integrar uma rede descentralizada de informação acessível a todos, como consumidores, fornecedores, auditorias e governo. Em vez de selos vagos ou campanhas sazonais, a transparência vira código. E isso muda tudo.

No Brasil, grandes marcas já adotam o modelo do Passaporte Digital de Produto (DPP), uma tendência que vem ganhando força na Europa e deve se tornar padrão global nos próximos anos. Por meio de um QR Code na etiqueta da roupa ou do calçado, o consumidor acessa um gêmeo digital com informações detalhadas sobre aquela peça, desde a origem certificada do algodão ou do couro até o processo de fabricação, o impacto ambiental, as condições de trabalho e as orientações para cuidado, reutilização ou descarte.

O DPP une tecnologia, transparência e sustentabilidade, promovendo uma moda mais consciente e rastreável. É um caminho mais justo e confiável, que espero que não tenha volta.

O compromisso de ter esse olhar para o que devemos fazer melhor precisa ser mantido todos os dias, junto ao desafio constante de equilibrar propósito e viabilidade. É fundamental ter clareza de que o futuro da moda brasileira depende da nossa capacidade de inovar com responsabilidade. A tecnologia, por si só, não resolve problemas estruturais, mas, quando usada com intencionalidade e ética, pode ser a base para uma transformação real.

*André Salem é fundador da Blockforce, plataforma responsável pela tecnologia blockchain da Fair Fashion.

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