Bored Ape Yacht Club é a coleção de NFTs mais valiosa do mundo (Bored Ape Yacht Club/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2022 às 15h12.
Última atualização em 23 de maio de 2022 às 15h19.
A atual estabacada dos mercados está promovendo um fenômeno muito interessante e que fica ainda mais visível quando a euforia é completamente espanada: a reavaliação geral do risco-retorno das operações. Este é o momento dos arrependimentos.
Aquele cara que comprou no topo promete nunca mais fazer de novo, o seguidor de hype decide estudar para não cair mais em armadilhas e o sabichão que apostou que Terra era o melhor projeto de todos os tempos desistiu de dar conselho sobre investimento para o amigo. Mas não antes de chorar muito sobre o leite derramado.
Esse mercado de queda, em especial, não deve poupar ninguém. O casamento nefasto das criptomoedas com os índices de ações, principalmente os de tecnologia, acaba condenando o mercado como um todo. O descolamento ainda não foi dessa vez.
Estamos vendo, por exemplo, as ações da Tesla acumularem perdas de mais de 40% do início de abril até agora, sendo que algumas outras chegaram a despencar 50%, 60%. E as criptos seguem de mãos dadas com elas na saúde e na doença (mais na doença ultimamente).
Muitas criptomoedas estão sendo reduzidas quase a pó, com 80%, 90% de desvalorização desde os seus topos. E outras classes também podem estar a caminho da condenação, como os tokens não fungíveis, em sua maioria negociados em ether, criptomoeda que de janeiro para cá recuou mais de 50%.
Esta semana, em meio ao colapso da blockchain Terra, que viu o valor de seus tokens Luna e UST irem a zero, o Morgan Stanley alertou sobre uma possível crise também no setor de NFTs, os quais estariam “supervalorizados” e seriam “objetos de alta especulação”.
Segundo a nota do banco, o intuito da maioria dos compradores desses tokens é adquirir para passar adiante, logo em seguida, com lucro. No mercado, a gente chama esse movimento de "flipar", ou seja, compra o NFT no evento de emissão, espera valorizar e vende.
Com a tendência de baixa bem definida, logo vem a reflexão: até que ponto vale o risco-retorno de se ter, por exemplo, um JPEG, esse NFT de perfil? Qual é o risco de deixar o meu dinheiro em um mercado pouco líquido agora?
A resposta dos investidores vem rápida, ainda que não tão velozmente quanto o impulso de comprar um NFT para lucrar sem pensar no seu valor intrínseco. É claro que haveria uma reavaliação, as prioridades mudam quando você está vendo o seu patrimônio derreter.
Para exemplificar, vamos de Bored Ape Yacht Club. O preço mínimo de um item da coleção em abril deste ano chegou a ultrapassar US$ 430 mil em valor da época e agora, em maio, esse floor price bateu em menos da metade disso. Segundo o The Block Research, o volume de vendas dessas ilustrações reduziu três vezes no intervalo de 9 a 16 deste mês.
Destaco aqui que estamos falando de um projeto enorme, um dos mais bem-sucedidos do segmento, não daqueles milhões de outros que pegaram carona no hype e foram atirados no mercado como uma espécie de exemplares genéricos dos NFTs estrelados. Quem se jogou por aí em um projeto qualquer, na esperança de estar com uma gema, ficou sem dúvida com um gosto amargo na boca.
Tenho muita gente me dizendo que, na temporada de baixa, o NFT não perde tanto o valor assim quanto as altcoins, citando escassez e outras coisas do tipo, mas a verdade é que não dá muito para colocar tudo na mesma panela. O número de investidores do mercado de tokens não fungíveis é infinitamente menor do que os de criptomoedas alternativas.
Os macacos do BAYC, por exemplo, são 10 mil e estão nas mãos de pouco mais de 6 mil holders. Então, seria colocar lado a lado um grupinho de 6 mil contra um exército de 300 milhões de usuários de cripto. O preço desce muito mais redondo, vamos dizer assim, quando circula em concentração menor.
Independentemente do que vem por aí, e pode ser que venha mais pedrada mesmo, o que está acontecendo nada mais é do que um belo wake up call. Os investidores estão sendo obrigados a reconsiderar os comportamentos que acabam trabalhando contra eles mesmos. Isso pode doer no início, mas é o preço que se paga para se manter saudável.
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