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ChatGPT é usado por advogado em processo, mas fornece informações falsas

Caso ocorreu nos Estados Unidos, com inteligência artificial criando processos falsos como referência para a estratégia de defesa

ChatGPT exige cuidados ao ser usado como ferramenta de pesquisa (Nicolas Economou/NurPhoto/Getty Images)

ChatGPT exige cuidados ao ser usado como ferramenta de pesquisa (Nicolas Economou/NurPhoto/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 30 de maio de 2023 às 11h16.

Última atualização em 30 de maio de 2023 às 11h33.

Um juiz nos Estados Unidos se deparou com o que ele chamou de "uma circunstância sem precedentes": o ChatGPT não apenas foi usado para fornecer informações usadas pela defesa de um denunciante, como inventou casos que não existiram. Agora, o advogado responsável pela estratégia pode enfrentar um processo e até possíveis punições.

O caso ocorreu no estado de Nova York e envolvia um processo em que um homem estava acusando uma companhia aérea de ter causado "danos pessoais" contra ele. Para corroborar a posição do cliente, um escritório de advocacia reuniu casos anteriores semelhantes que tiveram vereditos favoráveis às vítimas. Entretanto, nenhum dos casos realmente existiu.

O juiz responsável pelo processo afirmou que "seis dos casos apresentados parecem ser decisões judiciais falsas com falas falsas e citações internas falsas". Ele foi alertado sobre o assunto depois do advogado da companhia aérea processada não ter encontrado os casos citados. Após confirmar que as informações eram falsas, o juiz confrontou os advogados responsáveis, liderados por Peter LoDuca.

Ao ser questionado sobre o assunto, LoDuca explicou que o material usado pela defesa havia sido produzido por um colega de escritório, Steven A. Schwartz. De acordo com a BBC, Schwartz atua como advogado há mais de 30 anos e admitiu ter usado o ChatGPT como ferramenta de pesquisa para encontrar casos semelhantes.

Em um comunicado sobre o assunto, Schwartz disse que LoDuca não participou da pesquisa para produzir os argumentos e que "sentia muito" por ter se baseado apenas na inteligência artificial. Ele ressaltou que nunca tinha usado a ferramenta com esse objetivo antes e que "não tinha ideia que seu conteúdo poderia ser falso".

Ele também prometeu nunca mais usar o ChatGPT como "base" para sua pesquisa jurídica no futuro "sem antes verificar a autenticidade" das informações fornecidas pela ferramenta. Schwartz precisou divulgar o histórico de conversa com a ferramenta, que mostra que ele chegou a questionar se um caso apresentado pelo bot era verdadeiro e qual era a fonte suada. A inteligência artificial disse que sim, destacando que ele poderia ser encontrado em uma base de dados.

Schwartz acabou acreditando na resposta da ferramenta e não buscou a informação na base citada. Agora, tanto ele quanto LoDuca terão que comparecer a uma audiência no dia 8 de junho para se defenderem de possíveis punições disciplinares pela ação.

O ChatGPT mente?

O caso é mais um exemplo das chamadas "alucinações" de inteligências artificias. À EXAME, especialistas explicaram que é impreciso dizer que o ChatGPT "mente", já que ele não possui essa intenção. As alucinações se referem à criação de conteúdo que não estava previsto na base de dados usada para treinar uma IA, e por isso esse material pode conter imprecisões e conteúdo falso.

Relatos de outras alucinações na ferramenta despertaram críticas contra o bot, mas também mostram a importância de ter cuidado ao usá-lo como uma fonte de pesquisa e sempre verificar as informações fornecidas. Diogo Cortiz, professor da PUC-SP, destacou à EXAME que é importante lembrar da função principal da ferramenta: fornecer textos convincentes, e não necessariamente verdadeiros.

"Se pensar no erro, ele ocorre quando a máquina se comporta de um jeito que não foi programada pra fazer, uma exceção. Mas, um modelo de linguagem como o ChatGPT é construído para dar uma resposta, produzir um texto de saída. Se ele produz algo que seja coerente, tralhando com a probabilidade de relação com as palavras, ele não está errando, mas pode construir algo que não condiz com a realidade", afirma.

Gustavo Mee, especialista em inteligência artificial, avalia que "com os avanços do ChatGPT, erros como o uso de casos fictícios por advogados podem ser reduzidos. Recentemente, foram introduzidos diversos plugins e uma nova funcionalidade chamada 'browse with Bing', que permite ao ChatGPT acessar a internet, buscar informações atualizadas e verificar fatos em tempo real. Essa nova capacidade tem o potencial de aprimorar significativamente a precisão das citações feitas pelo modelo, uma vez que ele pode verificar informações diretamente de fontes confiáveis na web".

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