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‘Castelo de cartas’: criador da FTX é julgado nos EUA e defesa tenta colocar culpa em ex-namorada

Acusado de fraude após colapso de corretora cripto que deixou prejuízo bilionário, Sam Bankman-Fried teria ‘construído uma mentira’, diz Departamento de Justiça dos EUA

 (Getty Images/Reprodução)

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 5 de outubro de 2023 às 12h27.

Na última quarta-feira, 4, começou o julgamento de Sam Bankman-Fried, ex-CEO da FTX em Nova York. O criador da corretora de criptomoedas vem sendo investigado por fraude desde que o Grupo FTX foi à falência em novembro do último ano em meio a escândalos que envolvem o uso do dinheiro de clientes para investimentos arriscados e até mesmo a compra de mansões nas Bahamas.

Entre todos os envolvidos, Bankman-Fried é o único que alega inocência, mas de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ, na sigla em inglês), ele teria construído um “castelo de cartas, construído sobre uma mentira” para “roubar o dinheiro” de investidores. A defesa agora tenta colocar a culpa em sua ex-namorada, Caroline Ellison, que também era CEO da Alameda Research, empresa do Grupo FTX onde o colapso se iniciou.

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Segundo a defesa representada pelo advogado Mark Cohen, Bankman-Fried “agiu de boa fé” e “não pretendia roubar ninguém”, apenas ficando impressionado com a velocidade que seus negócios cresceram. A culpa, no entanto, seria de Caroline Ellison, que como CEO da Alameda Research não teria implementado politicas de prevenção do problema.

De suas acusações, Ellison já se declarou culpada. Até o momento, Sam Bankman-Fried é o único entre os executivos do Grupo FTX que se diz inocente.

De acordo com informações do CoinDesk, o procurador assistente dos EUA, Nathan Rehn, disse ao júri de 12 pessoas que o governo apresentaria evidências e testemunhas especializadas que provariam que o Bankman-Fried “mentiu para seus clientes” e usou seu dinheiro para comprar “dinheiro, poder e influência”.

“Você descobrirá que o réu tirou bilhões de dólares de… contas [que detinham fundos de clientes]… e os gastou, e os clientes não tinham como saber”, disse Rehn.

Além das famosas mansões nas Bahamas, Bankman-Fried também realizou grandes doações políticas nos Estados Unidos, o que foi mencionado por Rehn no julgamento como uma forma de obter favores de pessoas poderosas do governo norte-americano. Antes do colapso, o ex-CEO era visto como um dos principais nomes do mercado cripto e sua corretora chegou a ser a segunda maior do mundo.

A dívida da FTX já soma mais de US$ 16 bilhões. Muitos investidores da plataforma ficaram no prejuízo e um deles foi convocado para testemunhar no julgamento.

“Ele despejou dinheiro – dinheiro de outras pessoas – em investimentos”, disse Rehn. Ele “gastou esse dinheiro de todas as maneiras consigo mesmo”, disse Rehn.

Testemunhas

Até o momento, duas testemunhas já foram ouvidas: Antoine Julliard, um dos investidores da FTX que ficou no prejuízo de US$ 134 mil e Adam Yedidia, que se descreveu como “amigo de longa data” de Bankman-Fried e que trabalhou tanto na Alameda Research quanto na FTX antes de pedir demissão em 2022 por ter “descoberto que Alameda Research havia usado depósitos de clientes para pagar os credores”.

Antoine Julliard disse ao júri que optou pela FTX para investir em criptomoedas por conta do posicionamento que Bankman-Fried tinha como um “líder da indústria” e pela quantidade de fundos de venture capital que investiam na FTX. Para ele, isso soava como “um voto de confiança”.

Mesmo após o início do colapso com o vazamento de dados da Alameda Reseach, Julliard disse que optou por manter seus fundos na FTX após publicações de Bankman-Fried no X (antigo Twitter) o tranquilizarem de que não havia risco de insolvência. No dia seguinte, no entanto, quando Julliard tentou sacar seu dinheiro, não conseguiu.

A testemunha disse que ao investir na FTX, não esperava que seu dinheiro fosse movimentado sem a sua autorização. Registros mostraram que Sam Trabucco, um dos executivos da Alameda Research, aplicava estratégias de pôquer nos investimentos da empresa.

“Se eu negociar, sou responsável por minhas próprias decisões”, disse ele. “Se outra pessoa negociasse na minha conta e perdesse dinheiro... não foi para isso que me inscrevi”, disse Julliard ao júri.

Já Adam Yedidia disse ao júri que conheceu Bankman-Fried quando eles estudaram juntos no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ele foi convocado como testemunha do julgamento após fechar um acordo de concessão de imunidade para que os promotores não o acusassem de nenhum crime com base no que ele disser no tribunal.

Após trabalhar na Alameda Research e na FTX, Yedidia teria optado por sair do grupo de empresas de Bankman-Fried pouco tempo antes do colapso por supostamente não concordar com o uso indevido do dinheiro de clientes.

A defesa de Bankman-Fried, no entanto, argumenta que as testemunhas fecharam acordos com o governo apenas com o interesse em garantir penas menores ou imunidade. Entre as testemunhas de acusação estão Caroline Ellison e outros executivos da FTX, como Gary Wang e Nishad Singh.

“Cooperação no mundo real significa testemunhar de uma forma que apoie o caso do governo”, disse Cohen. “Isso deveria superar tudo o que eles dizem.”

A defesa ainda alegou que o governo estava “tirando as coisas do contexto”. Para Mark Cohen, Bankman-Fried “não é um ladrão” e sim “alguém que trabalhava muito” e cujas empresas cresceram muito rapidamente, onde centenas de decisões tinham de ser tomadas todos os dias.

“Nenhum CEO e certamente nem Sam poderiam estar em qualquer lugar e fazer tudo”, disse Cohen.

Sam Bankman-Fried perdeu o direito à fiança após ter supostamente vazado diários de Caroline Ellison, sua ex-namorada e ex-CEO da Alameda Research. Os documentos descreviam convicções pessoais dela sobre ser incapaz de gerir uma empresa como a Alameda Research e seus problemas amorosos com Bankman-Fried.

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