Casa no morumbi recebeu trabalhos artísticos antes de ser demolida (Wesley Rodrigo/Divulgação)
A efemeridade e a adaptabilidade sempre foram aspectos intrínsecos da arte urbana. E foi pensando nisso que Alexandre Travassos e Rodrigo Loli idealizaram o projeto da Casa NFT. As mais de 130 obras criadas em uma mansão prestes a ser demolida continuaram a existir no blockchain através dos tokens não fungíveis (NFTs), agora expostos na Funarte.
Com inspirações no artista Banksy, que já triturou uma de suas obras mais famosas, Girl with Balloon, após uma venda milionária, e teve outra, Morons, queimada após ter sido transformada em NFT, surgiu a ideia de ressignificar a casa de mais de mil metros quadrados no Morumbi, bairro nobre da capital paulista, que já havia abrigado mais de dez pessoas, como uma espécie de último suspiro pouco antes de sua demolição.
As obras foram espalhadas em suas paredes, caixa d’água, telhado e piscina por 73 nomes da arte urbana como EDMX, TEF, Massive Mia e Mazola Marcnou. Segundo os organizadores, foram disponibilizadas apenas as tintas e material aos artistas, que realizaram seus trabalhos artísticos por interesse no projeto.
A demolição da casa, ocorrida no final de agosto de 2021, não foi suficiente para apagar um trabalho artístico de tamanha magnitude. Todas as obras foram registradas e eternizadas no blockchain por meio de NFTs, os tokens não fungíveis que podem representar digitalmente qualquer objeto do mundo real.
Um ano depois, o projeto retorna com uma das primeiras exposições de NFTs do Brasil. Na Funarte, em São Paulo, estão expostas as 130 obras da primeira edição da Casa NFT, que não pretende parar por aí. Além da exposição, que conta com uma sala imersiva de 320 metros quadrados, projeções e mapeamento digital, o projeto pretende se expandir para outras casas em breve.
“Nessa primeira casa, nós geramos um grande acervo digital e percebemos que existia um potencial para criação de novas experiências”, afirmou Alexandre Travassos, em entrevista à EXAME. Foram aproximadamente 6,2 terabytes de acervo digital gerados da primeira Casa NFT.
Com uma sala imersiva, a exposição busca promover novas experiências para os seus visitantes. “Durante uma pesquisa, surgiu a possibilidade da sala imersiva onde trouxemos a interação direta com as obras e um pouco da história da casa. Presenciar a arte física e a imersão no conteúdo digital fortalece os vínculos com os artistas, público e o senso de comunidade”, contou Travassos.
Do ponto de vista dos artistas, o projeto também se demonstrou disruptivo. Mazola Marcnou, um dos artistas que assinaram obras da Casa NFT, revelou que quando foi convidado disse "Só acredito vendo". No entanto, o sucesso do projeto mostrou ao artista que o potencial da tecnologia envolvida com a arte era grande.
"Quando eu comecei a fazer e vi o projeto andando, pensei 'Isso realmente vai acontecer e vai ser revolucionário'. Principalmente sobre a arte, que a gente sempre tem aquele conceito de que tudo deve ser físico. O fato de hoje em dia termos uma obra só digital, para mim é revolucionário", contou.
De acordo com Alexandre Travassos, já existe um novo projeto para a Casa NFT em negociação, além da intenção de torná-la uma exposição itinerante, promovendo oportunidades de intercâmbio cultural, entre arte e artistas. Com outras casas, serão criadas mais galerias de arte temporárias e eternas no blockchain.
“Nossa intenção é sempre criar novas experiências a partir do acervo digital original da Casa NFT, pois a arte também pode ser consumida em forma não convencional, e aqui estamos falando de transformação digital”, afirmou Alexandre Travassos.
Nesse sentido, a Casa NFT é mais um projeto que prova a função dos NFTs em tornar trabalhos artísticos mais adaptáveis e acessíveis no blockchain, processo que tem feito sucesso e gerado visibilidade e receita para diversos artistas. É possível visitar a exposição com entrada gratuita até o dia 18 de setembro de 2022, na Funarte. O endereço fica na Alameda Northmann, nº 1058, em Campos Elíseos, São Paulo.
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