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Brasil pode ser o primeiro país a tokenizar sua economia, diz Valor Capital Group

O Brasil está prestes a alcançar um marco histórico: ser a primeira grande economia do mundo a adotar uma tokenização completa

Cointelegraph
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Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 14h00.

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O Brasil está prestes a alcançar um marco histórico: ser a primeira grande economia do mundo a adotar uma tokenização completa, segundo Michael Nicklas, managing partner da Valor Capital Group, um dos maiores fundos de venture capital do mundo e um dos primeiros investidores da Coinbase.

Fundada em 2011 pelo ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel e pelo empreendedor Scott Sobel, a Valor Capital Group nasceu com o objetivo de criar uma ponta com investimento em tecnologia para atender aos dois mercados. Desde então, as investidas do portfólio da Valor já atraíram mais de US$ 7 bilhões em follow-ons.

Com 33 colaboradores e dois venture partners, a Valor Capital Group tem o maior time de venture capital da América Latina e é a primeira gestora de VC cross-border a receber a certificação B-Corp na região. Seis investidas da Valor Capital Group tornaram-se empresas de capital aberto, sendo quatro delas na bolsa de NASDAQ: Coinbase, Satellogic, Sprinklr e Stone.

Em entrevista ao Cointelegraph Brasil, Nicklas destacou o potencial do país para liderar globalmente nesse setor, especialmente no contexto de ativos do mundo real tokenizados (RWAs).

"O Brasil tem potencial para ser um modelo global de eficiência e inovação financeira", concluiu Nicklas.

Para Nicklas, a tokenização de ativos reais é uma inovação com capacidade de transformar economias, trazendo eficiência, liquidez e automatização de processos. No Brasil, a adoção do Drex pelo Banco Central tem desempenhado um papel crucial.

"O Brasil deve ser o primeiro país a tokenizar sua economia, tornando-se a primeira economia global totalmente tokenizada", afirmou. Ele acrescenta que isso pode estabelecer um benchmark para o restante do mundo.

Segundo o executivo, a evolução regulatória e o interesse crescente de grandes instituições financeiras impulsionaram a adoção de RWAs globalmente. No Brasil, a tokenização de ativos como imóveis, commodities, créditos de carbono e até mesmo dívida pública e privada já está em curso, demonstrando o potencial de transformar setores fragmentados e dependentes de processos manuais.

Pioneirismo brasileiro: Drex

O Drex, CBDC do Banco Central do Brasil, é destacado como um exemplo pioneiro de integração entre tecnologia blockchain e regulação. Essa infraestrutura já atraiu atenção internacional, posicionando o Brasil como líder em inovação financeira. Para o executivo do Valor Capital Group, o Drex representa uma oportunidade para empresas tradicionais e cripto ampliarem suas operações, além de atrair investidores globais.

"O Drex é o próximo passo claro para a modernização do ecossistema financeiro brasileiro", disse Nicklas.

A infraestrutura oferece compatibilidade com padrões DeFi, permitindo que inovações descentralizadas sejam integradas ao sistema financeiro regulado. Ele também ressaltou que o Brasil liderou ao criar uma rede EVM (Ethereum Virtual Machine), permitindo maior interoperabilidade com tecnologias globais.

A tendência global de tokenização de ativos está em ascensão. Instituições como BlackRock e Franklin Templeton já lançaram fundos tokenizados, enquanto relatórios de grandes players financeiros estimam que o mercado de RWAs pode atingir trilhões de dólares nos próximos anos. No entanto, Nicklas acredita que o Brasil tem uma vantagem estratégica, especialmente com a implementação do Drex.

"Stablecoins foram o primeiro caso de uso on-chain com 'product-market fit', mas a tokenização de ativos como imóveis, dívida pública e commodities desbloqueará um mercado muito maior", explicou.

Ele também destacou que, com regulações claras e um ecossistema funcional, o Brasil pode servir de exemplo para outras economias, incluindo os Estados Unidos, onde iniciativas como o fundo BUIDL da BlackRock já estão em andamento.

Com uma longa história de inovação no setor de venture capital, a Valor Capital Group tem acompanhado de perto a evolução da tokenização. Nicklas enfatizou que o Brasil está em uma posição única para liderar globalmente, e a Valor planeja investir em empresas alinhadas com a revolução promovida pelo Drex. A chegada de Bruno Batavia, ex-Banco Central e idealizador do Drex, reforça esse compromisso.

ETFs e investimento

Cointelegraph Brasil (CTBR): Qual foi o principal gatilho que levou a Valor Capital a ter blockchain como parte da tese de investimento? Existe um aspecto que vocês consideram disruptivo nesse mercado?

Michael Nicklas (MK): A Valor sempre teve a tese de investir em novas ondas tecnológicas e em empresas excelentes com alto potencial de crescimento. Mais especificamente, nascemos com o DNA de construir pontes, ajudando a trazer empresas estrangeiras para a América latina e ajudar empresas da região em suas expansões internacionais.

Nesse contexto, investimos na Coinbase em 2014 com a intenção de ajudar a empresa a estabelecer uma presença no Brasil. Desde então investimos em mais de 25 empresas que têm blockchain como o core de seus stacks tecnológicos.

CTBR: Como a entrada de grandes players como BlackRock, JPMorgan, Visa, Citi, entre outros, e mudanças regulatórias favoráveis, como a aprovação dos ETFs nos EUA ajudou a validar a tecnologia e como isso impactou as teses do Valor Capital?

MK: Com certeza validou o mercado. Historicamente, mudanças estruturais somente ocorrem quando tem alguma clara melhoria tecnológica, clareza regulatória e adoção de grandes instituições. Com as mudanças mais recentes de regulamentação e adoção crescente de grandes instituições, a tecnologia Blockchain está cada vez mais perto desse ponto de inflexão.

Apesar das mudanças regulatórias estarem ainda incipientes nos Estados Unidos, temos ótimas perspectivas internacionalmente e potencial para ainda mais avanços regulatórios com a nova administração dos EUA que iniciará seu mandato no início do ano que vem. Na Valor, sempre esperamos que isso fosse acontecer - agora, temos diversas empresas de portfólio já posicionadas para capturar essa próxima onda de crescimento.

Tokens RWA

CTBR: A tese de investimentos de vocês inclui tokens RWA, ou ativos do mundo real tokenizados. O que vocês enxergam de promissor nos RWAs, e como eles podem impactar a economia global?

MK: Tokenização de ativos reais pode trazer diversas eficiências de custo, otimização e automatização de processos. Atrelar ativos do mundo real com contratos inteligentes (Smart Contracts) cria uma camada de programabilidade e execução automática para diversos ativos.

RWAs prometem desbloquear trilhões de dólares em liquidez ao transformar ativos ilíquidos e ineficientes (como imóveis, commodities, crédito, dívida pública, depósitos bancários, créditos de carbono entre outros) em formas tokenizadas mais acessíveis e eficientes. No Brasil, essa abordagem está sendo pioneira com o Drex, que serve como modelo para o mundo todo.

CTBR: Existem setores específicos onde a Valor Capital vê maior potencial para os RWAs? Como vocês avaliam a eficácia desse modelo na tokenização de ativos imobiliários, commodities, entre outros?

MK: O setor financeiro como um todo vai ser impactado, pois a tokenização de ativos reais cria a possibilidade de ganhar muito mais eficiência. O mercado imobiliário, por exemplo, é altamente fragmentado e depende de processos manuais e demorados, como registros e contratos físicos.

A tokenização oferece maior liquidez, permitindo que investidores acessem frações de propriedades, o que democratiza o investimento imobiliário e reduz custos operacionais. Além disso, estamos vendo diversas soluções no mercado de crédito com estruturas mais otimizadas e acessíveis do que as existentes atualmente. A tokenização da dívida pública e privada já está sendo testada no Brasil - e a implementação do Drex promete acelerar esse movimento.

Brasil e tokenização

CTBR: Como a experiência do Brasil em tokens RWA pode ajudar a impulsionar este mercado em outros países, como os EUA onde a entrada da BlackRock, com o BUILD começa a estruturar uma adoção mais ampla da tokenização no setor de investimentos?

MK: Stablecoins foram o primeiro caso de uso on-chain com "product-market fit", com mais de 98% dos RWAs tokenizados sendo stablecoins até hoje. No entanto, à medida que as regulamentações ficam mais claras e economias inteiras começam a ser tokenizadas, a distribuição de ativos tokenizados deverá seguir o padrão do mercado financeiro tradicional, onde o M1 (moeda física + depósitos) deve representar menos de 0.5% do total de ativos.

O Brasil deve ser o primeiro país a tokenizar sua economia, se tornando a primeira economia global (top 10 maiores do mundo) a se tornar totalmente tokenizada.

Este ano tem sido marcado por um interesse crescente e proativo em ativos reais tokenizados (RWAs), especialmente por parte das instituições. Grandes players financeiros como Citigroup, Boston Consulting Group e Standard Chartered publicaram relatórios otimistas, prevendo que o mercado de RWAs tokenizados poderia atingir trilhões de dólares num futuro próximo.

A BlackRock, por exemplo, lançou um Fundo de Tesouro Tokenizado, chamado BUIDL (BlackRock USD Institutional Liquidity Fund), em parceria com a Securitize.

Alguns dos ativos tokenizados que estão gerando rendimento incluem o BUIDL da BlackRock (BlackRock USD Institutional Liquidity Fund), o USDY (US Dollar Yield Token) e o OUSG (Ondo Short-Term US Government Treasuries) da Ondo Finance, e o FOBXX (Franklin OnChain US Government Money Fund) da Franklin Templeton.

O BUIDL, co-criado pela Securitize e BlackRock, atingiu um market cap de 375 milhões de dólares apenas seis semanas após seu lançamento, sendo atualmente (em outubro de 2024) o maior fundo tokenizado.

Além disso, o interesse de instituições como Goldman Sachs e State Street em ativos tokenizados continua crescendo, indicando que o setor financeiro tradicional está cada vez mais buscando oportunidades de ampliar o acesso a ativos já existentes por meio da tecnologia blockchain.

Com novos casos de uso surgindo de forma regulada no Brasil, isso com certeza vai funcionar como um benchmark para o mercado internacional.

CBDCs

CTBR: Como vocês enxergam os CBDCs como uma parte da tese de investimento? Elas representam um ponto de entrada para inovação financeira ou uma resposta conservadora à criptomoeda descentralizada?

MK: CBDCs são cruciais para adoção da tecnologia blockchain - Invariavelmente, as iniciativas de CBDCs virão acompanhadas de um arcabouço regulatório. Como mencionado anteriormente, clareza regulatória é essencial para impulsionar o mercado e garantir que seja adotada como tecnologia de base.

Dentro desse contexto, o Brasil se destaca globalmente com um dos projetos mais inovadores do mundo em CBDCs (Drex).

CTBR: Vocês acreditam que os CBDCs poderão coexistir e até colaborar com as criptomoedas privadas? Como a Valor Capital enxerga a relação entre bancos centrais e o ecossistema cripto?

MK: Historicamente, a inovação sempre surgiu de ecossistemas tecnológicos longe dos ambientes regulados, no início da internet, isso surgia em ambientes Open Source e, agora em Blockchain, vêm principalmente de DeFi (Finanças Descentralizadas).

Acreditamos que possibilitar a integração dos reguladores e CBDCs com as redes não permissionadas será essencial para garantir que os Bancos Centrais importem as melhores tecnologias do mercado. O Brasil liderou nessa frente ao criar o Drex como uma rede EVM.

CTBR: Como o Drex, no caso do Brasil, pode criar novas oportunidades de negócios para empresas cripto e tradicionais? O Valor Capital está de olho neste desenvolvimento do Drex ou pretende investir em alguma empresa alinhada com esta inovação?

MK: O Drex é o próximo passo claro para a modernização do ecossistema financeiro Brasileiro. Tivemos diversas ondas de inovação do arcabouço financeiro Brasileiro e, agora, com essa última proposta do Banco Central, será possível se tornar um Benchmark global com relação à eficiência e inovação financeira.

Acreditamos que nesse cenário, a Valor pode ajudar diversas empresas globais a aterrizar aqui no Brasil com as conexões certas, além de potencializar diversas empresas locais que serão beneficiadas pelo Drex.

Para isso, no início do ano passado a Valor trouxe o Bruno Batavia que, durante seu período de 13 anos no Banco Central, foi responsável pela agenda de inovação do regulador, incluindo a idealização e liderança do Drex. Essa adição ao time só reforça as conexões que temos globalmente, além da interface direta com reguladores e stakeholders essenciais para o ecossistema.

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