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Brasil tem milhões de investidores em cripto, mas Web3 é pouco conhecida, diz pesquisa

Pesquisa realizada pela empresa Consensys mostra potencial para o setor, mas com desafios que precisam ser superados

Pesquisa da Consensys mostra que criptomoedas são populares no Brasil (Reprodução/Reprodução)

Pesquisa da Consensys mostra que criptomoedas são populares no Brasil (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 27 de junho de 2023 às 09h00.

Os brasileiros conhecem as criptomoedas e entendem o potencial desses ativos na economia, mas ainda possuem pouco conhecimento sobre áreas como a Web3, apesar de seus ideais se alinharem com o setor. É o que aponta uma pesquisa realizada pela empresa Consensys e pela YouGov e divulgada com exclusividade pela EXAME nesta terça-feira, 27.

O levantamento global contou também com 1005 entrevistados brasileiros entre 18 e 65 anos, que foram ouvidos entre os dias 26 de abril e 16 de maio. Os dados mostram que 98% dos brasileiros já ouviram falar sobre as criptomoedas, com 59% afirmando que entendem o que esses ativos são e 39% dizendo que não têm certeza sobre o que seriam os ativos digitais.

Apesar do alto grau de familiaridade com as criptomoedas, o cenário é diferente com outros elementos do ecossistema cripto. Dentre os entrevistados, apenas 17% estão bastante ou muito familiarizados com a Web3, e 34% disseram que o conceito é "nada familiar". No caso do metaverso, 24% estão muito ou bastante familiarizados, mas 26% não estão.

Já em relação aos tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) os números não são muito diferentes: 26% estão "nada familiarizados", 33% um pouco, 15% bastante familiarizados e 9% muito. Para os entrevistados, o principal conjunto de habilidades para entrar na Web3 e no mundo cripto é a negociação financeira (32%), seguida por marketing (22%) e engenharia de software (20%).

Questionados sobre as maiores barreiras para entrar nesse ecossistema, 54% dos brasileiros entrevistados citaram a alta volatilidade e risco do mercado, 53% citaram os golpes no segmento e 50% disseram que não sabem por onde começar. Mesmo assim, as criptomoedas possuem mais associações positivas que negativas.

Ao todo, 47% dos entrevistados citaram que elas seriam o "futuro do dinheiro", e 38% que elas representam o "futuro da propriedade digital". Para 38%, elas são uma alternativa ao ecossistema financeiro tradicional. A característica negativa mais citada foi o uso em crimes de lavagem de dinheiro (22%), seguida por especulação financeira (20%).

Para 57% dos brasileiros, as criptomoedas representam uma tecnologia ecologicamente correta, com 15% afirmando que elas não são, mas estão melhorando, e 8% dizendo que elas não são ecologicamente corretas e nunca serão. Além disso, 48% dos entrevistados defendem uma "forte regulação" do setor, enquanto 32% defendem uma regulação que incentive uma "participação responsável" e 8% avaliam que a regulamentação deveria ser evitada.

A pesquisa da Consensys mostra ainda que 25% dos brasileiros investiram nas criptomoedas por curiosidade, 13% para negociar retornos de curto prazo e 13% para diversificar a carteira de investimentos. O bitcoin e o ether lideram os investimentos, sendo citados por 72% e 42% dos 398 entrevistados que adquiriram criptoativos.

Outro ponto relevante do levantamento é que 46% dos entrevistados afirmaram que cogitam investir em criptomoedas nos próximos 12 meses, com 38% descartando a possibilidade. Atualmente, 17% dos brasileiros possui alguma criptomoeda, enquanto 24% compraram e venderam e 59% nunca investiram.

Avanço da Web3 no Brasil

Em entrevista à EXAME, Barbara Schorchit, gerente de produto sênior responsável pela MetaMask, uma carteira digital da Consensys, destacou que a pesquisa a surpreendeu em dois resultados: "O primeiro foi a quantidade de entrevistados brasileiros que já tinham ouvido falar sobre criptomoedas. Eu já esperava que seria alto, mas superou as expectativas. E o segundo foi que 8 entre cada 10 deles se preocupam com privacidade, eu esperava um número significativo mas não imaginava que seria tão alto".

Para ela, a pesquisa mostra que os brasileiros estão valorizando a privacidade e proteção de dados: 68% dizem que gostariam de ter mais controle sobre a identidade na internet, e 55% afirmam que deveriam ter parte do lucro de empresas que obtêm seus dados. Os dados apontam uma oportunidade para o avanço da Web3 no Brasil, já que o conceito é exatamente de empoderar e remunerar usuários na internet.

"As pessoas estão conscientes que existem criptomoedas, mesmo que o número dos que realmente entendem seja menor, as pessoas se preocupam com dados e privacidades, então estão mais abertas com o status quo da Web2, mais abertas a adotar soluções de Web3. Eles deveriam ser melhor recompensados, e isso sinaliza o caminho, a oportunidade a ser aberta, essa mudança de paradigma", afirma.

Ao mesmo tempo, ela acredita que um dos principais desafios para o avanço dos projetos de Web3 é a usabilidade. "É uma questão muito séria, tem um mundo de pequenas melhoras a serem feitas ainda, porque melhorar isso vai permitir uma adoção ainda maior. Mas envolve também uma melhor educação sobre as diferenças da Web2 e da Web3", avalia.

Na visão dela, a transição da atual geração da internet para a próxima "acontece organicamente e naturalmente", mas é preciso ter um esforço do segmento para criar soluções e tecnologias de modo que, quando essa adoção ganhar escala, "a tecnologia esteja pronta para receber essa massa de usuários. Isso envolver melhorar segurança, usabilidade, casos de uso".

"Hoje existe um desafio de educação tecnológica da população brasileira. Inúmeras soluções existem, e eu acho que é algo que começa a ser replicado no cenário de Web3 no Brasil, com comunidades promovendo mais essa adoção, tradução de conteúdo, conferências em português, o que só adiciona tudo isso. Mas a Web3 vai encontrar um desafio similar ao da tecnologia em geral, de como tornar as soluções mais escaláveis", opina Schorchit.

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