Bored Ape da imagem foi criado em parceria da coleção com a Adidas (Twitter/Reprodução)
Basta abrir um site de notícias e lá estão os Bored Apes, mais falados que um bando de celebridades por aí. Sejam eles citados com admiração ou desdém, tipo “falem mal, mas falem de mim”, os macacos bilionários dos NFTs me parecem um dos cases de marketing mais explosivos dos últimos 20 ou 30 anos.
Entre 30 de janeiro e 5 de fevereiro deste ano, eles atingiram o pico de popularidade no Google Trends, provavelmente impulsionado pela adesão de Neymar, Justin Bieber e de alguns grandes executivos do setor cripto ao “clube”. Como acontece nos ciclos de mercado, a alta foi seguida de uma queda na procura, que, no entanto, na última semana, já deu sinais de recuperação.
Com essa baixada de bola, tem gente por aí sinalizando a morte precoce dos NFTs, espalhando fúria em torno da coleção da Yuga Labs. Mas, independentemente do que eu e você achamos, se gostamos ou não, precisamos admitir que os criadores conseguiram se organizar de forma a transformar meras ilustrações de macacos em raros must-haves.
A macacada rockstar não seria tanta coisa assim, é fato, se não tivesse as celebridades por trás, famosos que abraçaram a causa e são responsáveis por liderar uma comunidade gigantesca de entusiastas dos Apes. Até Madonna entrou essa semana para o bando.
A comunidade é o combustível dos NFTs, aliás do mundo cripto todo, é ela quem decide se um projeto vai ser uma explosão ou apenas uma faísca. E ela decidiu, para a alegria do grupo envolvido em todo o ecossistema do empreendimento, alçar a coleção a ícone da cultura pop contemporânea. As vendas dos tokens superam a marca de US$ 1 bilhão.
Se você é dono de um Bored Ape, quem está de fora do “planeta dos macacos” te vê como uma pessoa próspera, como aquele que se deu ao luxo de pagar centenas de milhares de dólares em uma ilustração sem muita função. É o status dando as cartas. Fazer parte do clube acaba sendo um desejo amargurado pela maioria e a vontade geral de pertencer só aumenta.
O jogo psicológico da escassez é muito bem jogado pelos NFTs e, nele, o Yuga Labs tem demonstrado maestria. O FOMO, ou o medo de ficar de fora, como falamos em português, é nosso calcanhar de Aquiles, portanto, para nós, a sensação é de que custa mais caro não estar no grupo do que desembolsar os muitos milhares de dólares para fazer parte dele.
A @madonna é a mais nova celebridade a entrar para a @BoredApeYC!
🐒Em parceria com a Moon Pay, a diva pagou R$2,6 milhões por essa Bored Ape. Realmente é bem o estilo dela, né?
👉“Finalmente entrei no metaverso... minha própria Ape! Como eu deveria chamá-la?", publicou. pic.twitter.com/DXpyKkWseQ
— Future of Money (@futofmoney) March 25, 2022
Na linha do tempo, os requintes de atratividade parecem ter sido muito bem alinhavados pelos criadores. Na semana passada, a estratégia de encantamento do BAYC (Bored Ape Yacht Club) avançou a um novo capítulo, com a estreia no mercado da ApeCoin, a criptomoeda inspirada no projeto. O time de relações públicas responsável pela divulgação do lançamento se esforçou para deixar bem claro que o ativo não havia sido desenvolvido pela Yuga Labs, mas, sim, que seria resultado de uma iniciativa da organização autônoma descentralizada ApeCoin DAO. Se todo mundo captou isso, fica a dúvida…
Mas também não importa, porque a novidade adicionou mais combustível para inflamar o círculo do pertencimento. Com a ApeCoin, todo o “ecossistema” dos Bored Apes, complementado pelos Mutant Apes e os cachorrinhos do Kennel Club, sofreu mais uma segmentação, virou uma espécie de “cebola NFT”. Agora, ficou ainda mais fácil para quem estava se mordendo de FOMO manter viva a esperança de ser um membro desse clube. E, ainda assim, a chama da escassez continua acesa.
Vamos descascar esse legume. De repente, quem não pode comprar um Bored Ape, que tem floor price de 110 ETH, é capaz de bancar um Mutant Ape a partir de 22 ETH. Já aqueles que não têm cacife para arcar com nenhum dos dois, por sua vez, podem “optar” por um Kennel, que custa, por baixo, 8 ETH. Por fim, para quem estava chupando o dedo, a hora da virada chegou: pode acessar a corretora de criptomoedas preferida e adquirir a sua ApeCoin por cerca de 11 USD.
O mais intrigante é que, mesmo agora com todo mundo devidamente satisfeito e em seus respectivos lugares de pertencimento, ainda não se sabe quase nada sobre o projeto no qual a ApeCoin terá utilidade. A não ser por um teaser em vídeo.
Nele, as imagens mostram um macaco pescando à noite, mas que, em vez de peixe, fisga uma garrafa de bebida com os dizeres “Me beba”. O Ape obedece e, quando toma um gole, vê uma erupção vulcânica, o mundo começa a tomar formas apocalípticas e mudar. Ele é, então, carregado pelos ares para um metaverso. Lá, encontra outros personagens de coleções NFTs famosas como CryptoPunks e World Of Women.
Toda a capitalização feita pela ApeCoin até agora, na verdade, é fruto de um marketing bem estruturado desde o início da história dos macacos. Resulta apenas da imaginação coletiva. No lançamento, a criptomoeda saiu de 1 USD para 39 USD, uma valorização astronômica em cima do que se espera ser um projeto grandioso. Aquele que ninguém viu e nem sabe quando verá.
A lição que o mercado cripto pode tirar do sucesso incontestável do Bored Ape Yacht Club é que o universo tecnológico em blockchain precisa se mostrar mais e melhor para o público. Existem empreendimentos interessantes que estão no limbo porque não sabem conduzir sua comunidade e, na contramão, há os que não possuem tantos fundamentos assim e estão surfando excelentes ondas.
Mas, como tudo na vida, a magia acontece e também se perde. O desafio está em engatar processos que a transformem em novos encantamentos e assim sucessivamente.
O BAYC terá que abusar de seu espírito vanguardista para manter o fogo ardendo, de modo que o fã e investidor continue tendo fé no caminho. Acredito que um dos pontos-chave para cumprir essa tarefa laboriosa será desbravar novas formas de integração com outros projetos. Será que eles são capazes?
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube | Telegram | Tik Tok