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Bored Ape Yacht Club decepciona e deixa investidores sem NFTs de metaverso

Apesar de ter movimentado R$ 2,7 bilhões em menos de um dia, lançamento do metaverso da Bored Ape Yacht Club decepciona investidores com transações falhas e criadores pedem desculpas

Bored Ape Yach Club é a coleção de NFTs mais popular do mundo; tokens agora poderão virar avatares no metaverso (Yuga Labs/Divulgação)

Bored Ape Yach Club é a coleção de NFTs mais popular do mundo; tokens agora poderão virar avatares no metaverso (Yuga Labs/Divulgação)

O lançamento dos terrenos do metaverso da Bored Ape Yacht Club foi um tanto quanto caótico no último final de semana. A coleção mais valiosa do mundo provou a que veio e reuniu milhares de investidores interessados em garantir seu pedaço de terra no metaverso chamado “Otherside”, que movimentou R$ 2,7 bilhões em menos de um dia, mesmo sem divulgar maiores detalhes sobre como ele será.

Na noite do último sábado, 30, usuários disputaram entre si pelos NFTs da coleção “Otherdeeds” sem ao menos ter certeza do que se tratavam, já que eram tokens “surpresa”. A especulação no universo cripto era de que seriam “escrituras” para os terrenos do “Otherside”, ou “O outro lado” em português. O argumento era de que a palavra “deed” em inglês significa “escritura”. E eles estavam certos. Pouco tempo depois da venda pública dos tokens, cada terreno foi revelado, e consigo, suas características que os tornariam únicos.

Os terrenos funcionam como pequenos ecossistemas e além de contar com uma temática própria, que pode ser “mineral”, “psicodélico”, “vulcânico”, entre outros, cada terreno contém recursos diferentes. Habitantes de aparência primitiva também podem existir no terreno, o deixando ainda mais raro. Eles são chamados de “Kodas”.

(Otherdeeds/62E5DC)

Embora muitos possam considerar o lançamento que movimentou R$ 2,7 bilhões um sucesso, uma grande parcela dos usuários saiu insatisfeita. Isso porque apesar do preço fixo de 305 APE, o equivalente a R$ 37.640, as taxas de transação bateram recordes surpreendentes na noite do sábado.

A Ethereum, blockchain escolhida para abrigar o ecossistema BAYC, possui as famosas taxas de Gas. Elas são necessárias para a confirmação de transações na rede e é comum que os mineradores selecionem as transações que pagam mais taxas de Gas para confirmar primeiro. Isso gerou uma verdadeira competição entre os investidores que, com medo de perder a oportunidade de garantir seu terreno, ofereciam taxas cada vez maiores para ter sua compra confirmada. Com isso, muitas pessoas que não tinham valores tão altos quanto R$ 25 mil em carteira apenas para as taxas acabaram perdendo sua oportunidade de comprar.

Para piorar a situação, quando uma transação não é confirmada na Ethereum, isso não significa que o valor pago em taxas de Gas irá retornar ao investidor. Por isso, muitos ficaram sem seus NFTs e ainda perderam o dinheiro investido nas taxas. O pico nas taxas de transações da Ethereum foi tão grande que se tornou o maior da história da rede, e aproximadamente R$ 737 milhões foram gastos só com isso na ocasião, de acordo com dados do CoinMetrics.

Um dos criadores da Bored Ape Yacht Club lamentou o ocorrido no Twitter. Gargamel, o pseudônimo por trás da coleção, reconheceu que a mecânica utilizada no lançamento não foi a ideal e pediu desculpas aos que tentaram entrar para a comunidade e não conseguiram.

“Não preciso dizer que esta noite não saiu do jeito que queríamos. Gostaria de pedir desculpas para os macacos, e para todo mundo que tentou entrar para o projeto [e não conseguiu]. É especialmente um momento ruim, já que o Otherside é um projeto que me traz satisfação há tanto tempo”, publicou.

Além disso, a Yuga Labs reembolsou o valor gasto em taxas de Gas pelos investidores que não conseguiram completar a transação e confirmar a compra dos NFTs nesta quinta-feira, 4.

“Reembolsamos as taxas de Gas para todos que não conseguiram completar suas transações por conta das más condições da rede geradas pelo lançamento. As taxas foram retornadas às carteiras utilizadas para fazer a transação”, escreveu a Yuga Labs no Twitter.

No entanto, isso não parece ter acalmado os investidores frustrados. A maioria das respostas à publicação da Yuga Labs são de usuários informando que não querem o reembolso, e sim o terreno o qual tentaram comprar. Outros comentam a posição da empresa diante da situação. “Acho que a irresponsabilidade da Yuga Labs em não ter pensado na comunidade em relação ao Gas deixou uma visão bem negativa da empresa”, publicou o usuário alextnetto.eth.

(Mynt/Divulgação)

Em entrevista à EXAME, o especialista Caio Vicentino comentou o caso. Caio possui dois NFTs da Mutant Ape Yacht Club, e por isso tem direito a terrenos gratuitos. “Não gostei da dinâmica porque a equipe não pensou direito nas alternativas para evitar o Gas Wars, eu mesmo paguei 4,5 ETH em 2 transações. Mas no geral as terras entraram na fase de descobrimento de preços, ainda não temos tantas informações sobre o que cada item vai fazer no ambiente, mas está gerando muito volume de negociação, já passam de 200 mil ETH”, disse. O termo “Gas Wars” faz referência a espécie de competição onde investidores se dispõem a pagar taxas cada vez maiores para ter sua transação aprovada antes das outras.

O ocorrido no último sábado, 30, joga luz à discussão sobre as oportunidades no metaverso, que já ocorrem no mundo cripto. Apesar de pregarem a igualdade em um universo online e livre de julgamentos, o acesso ao metaverso ainda não é democrático. Para garantir seu pedaço de terra no Otherside, um usuário poderia acabar desembolsando mais de R$ 60 mil no lançamento, levando as taxas de Gas em consideração. Depois disso, o valor mínimo de cada terreno chegou a custar R$ 99 mil, e opções mais raras podem custar em média R$ 14 milhões.

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