Paul Brody é líder global de blockchain da EY (EY/Divulgação/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 30 de agosto de 2024 às 18h49.
A adoção da tecnologia blockchain nas empresas "não está avançando tão rapidamente", mas o processo é natural e as vantagens trazidas por ela deverão torná-la cada vez mais atraente para as organizações. É o que avalia Paul Brody, líder global de blockchain da EY, em uma entrevista exclusiva à EXAME durante sua passagem pelo Brasil.
Além de ter falado sobre o Drex e seus desafios, o executivo também compartilhou uma análise sobre a adoção de blockchains nos últimos anos. Ele pontua que "apesar da vasta maioria do mundo de blockchain estar focado nos serviços financeiros, acho que a maior vantagem é tornar o comercio mais eficiente e justo".
Ele pontua que, hoje, as empresas ainda interagem de uma forma que é "complicada e consome muito tempo". "Cerca de 5% a 15% de toda a receita das companhias é gasta para administrar essas questões", pontua. E é exatamente para reduzir esses custos que a tecnologia teria um potencial de adoção.
"O blockchain torna isso mais eficiente criando contratos que funcionam automaticamente. Um sistema de gerenciamento de contratos nosso foi implementado na Microsoft e foi capaz de reduzir os custos em 50% e aumentou a eficiência em 99%", ressalta.
Para ele, a tecnologia pode "tornar o mundo mais eficiente, o que gera mais dinheiro. O blockchain é importante porque consegue fazer o mundo do comércio mais justo. Os marketplaces digitais, como Uber, Amazon, Airbnb, tornam os processos de conexão mais eficientes, mas são naturalmente monopolísticos. Estamos vivendo em uma era de ouro dos monopólios por causa disso".
"Quanto mais compradores essas plataformas têm, mais vendedores atraem, e mais compradores atraem. É uma extração de valor ao aproveitar o poder de monopólio deles. Mas os blockchains são abertos, descentralizados e, portanto, resistentes aos monopólios", explica.
Nesse cenário, ele acredita que é possível usar a tecnologia para criar ecossistemas em que o valor gerado pela digitalização "não fica no agente intermediário e vai para os usuários".
Brody comenta que a adoção da tecnologia começou no sistema financeiro, algo natural já que "é onde o dinheiro está", mas também porque o setor já é mais digitalizado, facilitando o processo. Em outras frentes de negócios, também surgiram desafios como o da privacidade, o que atrasou a adoção.
"Os consumidores tomam decisões mais rápido que empresas no ciclo de adoção de tecnologia. Do ponto de vista pratico, a adoção de tecnologia por consumidores demora 10 anos, por empresas demora de 25 a 30 anos. É algo que ocorre de forma mais devagar, mas a adoção de blockchain está ocorrendo", afirma.
Na visão do executivo da EY, o movimento atual que o mercado de inteligência artificial enfrenta é semelhante ao que o blockchain enfrentou há alguns anos: "Agora que IA é muito legal, todo mundo que fingia ser especialista em blockchain finge ser especialista em IA".
Por outro lado, ele avalia que "tem coisas legais acontecendo, mas essa integração de tecnologias demanda uma maturidade e adoção maior. Blockchain nos dá uma ferramenta de execução extremamente confiável, muito eficiente e verificável para transferir dados. Já IA é uma ferramenta de julgamento, de recomendação".
Brody vê um potencial concreto de união dessas tecnologias em áreas como o gerenciamento de inventário de empresas, em que, na prática, a inteligência artificial "tomaria as decisões, e o blockchain as executaria. É uma simbiose possível e que pode ser incrivelmente poderosa".
Porém, ele diz que essa união "ainda é muito desafiadora na prática. As empresas precisam estar confortáveis com as duas tecnologias, e isso ainda não atingiu um nível de escala necessário. São dois riscos distintos hoje que precisam ser superados".
"Dá para pensar em muitas coisas legais pra fazer, mas as empresas querem evitar riscos, não vão simultaneamente integrar blockchain e inteligência artificial. É um processo em que elas vão ser adotadas uma de cada vez, e apenas quando estiverem funcionando serão integradas", projeta.