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Redação Exame
Publicado em 23 de março de 2024 às 10h06.
Quando conversamos com clientes sobre adicionar uma alocação estratégica em bitcoin (BTC) aos seus portfólios, a discussão não se concentra apenas no desempenho excepcional do ativo nos últimos dez anos. Além dele, sempre enfatizamos o papel do bitcoin como um diversificador de portfólio, dado o seu histórico de baixa correlação com ativos tradicionais.
Com um mercado de alta se formando para cripto, agora é um bom momento para dar um passo atrás e entender melhor essa dinâmica, entendendo para onde as correlações podem estar indo.
Quatro anos se passaram desde os eventos de 13 de março de 2020. Naquela data, o bitcoin despencou abaixo de US$ 4 mil após uma queda de 39% desencadeada pela Covid-19. Este evento ocorreu em meio a um período de significativa turbulência de mercado, provocando medidas de estímulo monetário sem precedentes pelos bancos centrais ao redor do mundo.
Como resultado, vários ativos — incluindo o bitcoin, o ouro e as ações — dispararam para máximas históricas ao final de 2021.
À medida que essa dinâmica se desenrolava, o histórico de baixa correlação do bitcoin com ativos tradicionais começou a ser questionado. Tanto apoiadores quanto céticos do ativo alegavam que os movimentos de preço do bitcoin haviam passado a ser influenciados completamente pela política monetária e pela liquidez global, tornando-o altamente correlacionado, por exemplo, com ações de tecnologia.
Essa afirmação foi reforçada quando a inflação americana subiu acima dos 9% em junho de 2022, seu maior patamar em décadas, obrigando o Federal Reserve a responder com uma das altas de juros mais intensas na história recente dos EUA, o que acoplou ainda mais o movimento de preço do bitcoin a ativos de risco.
Avançando para 2024, tanto o bitcoin quanto as ações de tecnologia não apenas recuperaram suas máximas históricas anteriores, mas começaram o que parece ser um novo período de descoberta de preços. Neste momento, é válido se questionar se o "efeito Covid" persiste.
Podemos começar a responder isso analisando a correlação entre o bitcoin e o Nasdaq 100 (o benchmark de ações de tecnologia). Fazemos isso calculando correlações rolantes de 30 dias entre os dois ativos ao longo dos últimos 10 anos, o que inclui as eras pré e pós-covid. Utilizamos a definição usual de correlações moderadas a muito fortes se forem maiores que 0,40, e anti-correlações moderadas a muito fortes se forem menores que -0,40.
FIGURA 1: Bitcoin e Nasdaq 100 nos últimos 10 anos, e correlações em janelas rolantes de 30 dias. Azul representa anti-correlações moderadas a muito fortes (menores que ou iguais a -0,40), enquanto vermelho indica correlações moderadas a muito fortes (maiores que ou iguais a 0.40).
Conforme mostra a Figura 1, do início de 2014 até março de 2020, o bitcoin realmente teve baixas correlações com o Nasdaq 100. Quando os programas de estímulo à Covid começaram, o bitcoin e o Nasdaq 100 se recuperaram rapidamente de suas respectivas quedas e se moveram juntos até que o primeiro ultrapassasse sua máxima histórica de 2017.
As correlações enfraqueceram nos primeiros três trimestres de 2021, notavelmente durante a proibição de cripto na China — um evento que abalou o mercado de ativos digitais por algumas semanas. Conforme o BTC se recuperava para atingir novas máximas em novembro de 2021, o Nasdaq 100 também disparava antes de alcançar um topo histórico logo em seguida.
Alguns meses depois, o Federal Reserve começava um novo ciclo de aperto monetário para combater a inflação. Pelo restante de 2022, as correlações permaneceram muito mais altas do que o usual, alimentando os argumentos de que o bitcoin se comportava como uma ação de tecnologia.
Chega, então, o início de 2023 e, com ele, a fase de recuperação do bitcoin. Nela, historicamente, o ativo parte de seu valor mínimo após um ano de baixa (como em 2022) e inicia um movimento de alta até atingir sua máxima histórica anterior. Enquanto o bitcoin e o Nasdaq 100 iniciaram novas tendências de alta, os níveis de correlação, com pouquíssimas exceções, voltaram ao seu "antigo normal", sugerindo que o efeito Covid parece ter ficado no passado.
Se compararmos o bitcoin com o ouro usando o mesmo racional, descobrimos que os períodos de maior correlação entre os dois ativos foram muito mais localizados, como refletido na Figura 2. O ouro se moveu em consonância com sua contraparte digital em três momentos: (i) quando o estímulo monetário começou em 2020, (ii) quando as taxas reais nos EUA se aproximaram do território positivo no final de 2022, e (iii) durante a falência do Silicon Valley Bank (SVB) e a crise dos bancos regionais americanos em março de 2023, quando o ouro e o “ouro digital” se valorizaram em uma evidente fuga para a qualidade.
FIGURA 2: Bitcoin e ouro nos últimos 10 anos, correlações em janelas rolantes de 30 dias. Azul representa anti-correlações moderadas a muito fortes (menores que ou iguais a -0,40), enquanto vermelho indica correlações moderadas a muito fortes (maiores que ou iguais a 0.40).
A conclusão que podemos tirar desta análise é clara: nos últimos 10 anos, o bitcoin só exibiu correlações sistematicamente mais fortes com tech após os dois grandes choques monetários que a economia mundial vivenciou.
Primeiro, durante o afrouxamento monetário sem precedentes decorrente dos estímulos da Covid. Depois, em meio ao ciclo de aperto monetário mais forte da história recente.
Embora correlações mais altas com as ações de tecnologia tenham sido o "novo normal" para o bitcoin de março de 2020 até o final de 2022, e tanto o bitcoin quanto o Nasdaq 100 atualmente estejam em novas máximas históricas, essa análise mostra que o maior ativo digital esteve na faixa de correlação moderada a forte com tech em apenas 10 dos últimos 262 dias.
Este exercício destaca a importância de ampliar nosso campo de visão e avaliar o comportamento do bitcoin em horizontes de tempo mais longos. Enquanto as expectativas de mercado projetam cortes de juros pelo Federal Reserve no segundo semestre deste ano — o que poderia momentaneamente reacoplar o bitcoin a ativos tradicionais — o enorme sucesso dos ETFs de bitcoin nos EUA, o próximo halving em abril e outros fatores criam um ambiente para o que o ativo permaneça desvinculado de ações de tecnologia e outros ativos tradicionais.
Em resumo, as tendências recentes fortalecem o papel do bitcoin como uma ferramenta poderosa de diversificação de portfólio para o longo prazo.
*Lucas Santana é Analista de Research na Hashdex. Possui bacharelado e doutorado em Física Teórica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e grande interesse por tudo relacionado com cripto, conduzindo análises detalhadas sobre Bitcoin, Ethereum, Layer-1s e soluções de escalabilidade.
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