Gean Guilherme é morador da comunidade do Santo Amaro, no RJ (joao Gurgel / 500px/Getty Images)
Cointelegraph Brasil
Publicado em 8 de agosto de 2022 às 14h27.
Gean Guilherme já era um artista visual quando descobriu o universo dos NFTs durante a pandemia do COVID-19 e resolveu transformar os seus trabalhos em tokens não fungíveis de forma experimental. Aos poucos, suas obras começaram a ganhar a atenção dos colecionadores e os NFTs e as criptomoedas tornaram-se os alicerces de um projeto coletivo de ação social com foco nas favelas e periferias do Rio de Janeiro, onde Guilherme mora.
Guilherme afirmou ao UOL que os NFTs abriram uma nova perspectiva de exploração comercial dos seus trabalhos que até então era inexistente:
"É um jogo sinistro, mas é maneiro, porque deu independência para muitos artistas. Basicamente eu só usava meus 3Ds para postar no Instagram e ganhar like. Hoje em dia coloco nas plataformas e consigo tirar uma grana".
Guilhemre conta que a venda do NFT "Menor Portando" foi a mais expressiva que realizou até hoje. Rendeu-lhe aproximadamente US$ 2.000 em Tezos (XTZ), token nativo da blockchain em que estão hospedados seus trabalhos.
Já o NFT do qual mais se orgulha foi inspirado na capa do álbum "Sobrevivendo no Inferno", da banda de rap paulistana Racionais MC's. Os recursos obtidos com a venda deste colecionável específico foi doada para o Instituto Ademafia de Cultura e Esporte, localizado no bairro da Glória, na zona sul do Rio de Janeiro.
Inicialmente, no auge da pandemia, metade do dinheiro arrecadado com as vendas de seus NFTs era destinada à compra de cestas básicas para distribuição entre os moradores do morro do Santo Amaro, comunidade onde Guilherme mora, na zona sul do Rio de Janeiro:
"A primeira ação foi para a compra de alimentos. A gente conseguiu arrecadar em criptomoedas e transformar em cestas básicas. Foi aí que percebi que era possível fazer alguma coisa com aquilo."
Além da distribuição de cestas básicas e do apoio a instituições que oferecem assistência a comunidades carentes, o SocialCryptoArt promove iniciativas educacionais para incentivar a adoção de criptoativos entre jovens da periferia.
O projeto tomou proporções maiores à medida que o jovem artista reuniu seus NFTs em uma plataforma digital e a administração do tempo e dos recursos passou a tomar parte do tempo ao qual ele se dedicava à própria produção. Para que o SocialCriptoArt pudesse continuar crescendo de forma sustentável, Guilherme resolveu convidar outros artistas e designers para dividir a plataforma virtual com ele:
"Se eu não tiver tempo para fazer as artes, não vai ter venda e não vai ter dinheiro para projeto algum. Aí eu pensei em transformar: ao invés daquilo vir só de mim, poderia surgir de várias outras pessoas para descentralizar essa responsabilidade social que eu estava agarrando."
A partir da colaboração de outros criadores, surgiu a oportunidade de produzir novas séries de NFTs, arrecadando mais recursos e possibilitando a ampliação do projeto para atender também a outras comunidades periféricas da capital fluminense.
Um dos projetos mais ambiciosos de expansão do SocialCryptoArt é a criação de um marketplace próprio para comercialização de tokens não fungíveis de artistas brasileiros e estrangeiros. A ideia é que parte das receitas geradas pelo marketplace sejam destinadas a projetos sociais, assim como já ocorre com os NFTs do projeto.
O outro foco do projeto é investir na educação para desmistificar o universo dos NFTs e das criptomoedas para os jovens de comunidades periféricas, afirma:
"Nosso maior objetivo é a educação, porque a galera nem imagina o que é NFT e acaba colocando muita coisa na cabeça. Eles não têm um olhar para esses usos da tecnologia, um olhar social."
Guilherme idealiza formar novos artistas que possam trazer um olhar periférico e original ao espaço cripto. Ele cita como exemplo a sua própria obra, que se apropria de recursos 3D para criar novas perspectivas de enxergar a favela:
"O foco é criar perspectiva nesses lugares que a gente nem sempre sabe se vai ficar vivo. A criação do futuro da favela com sensibilidade pode movimentar o morro".
Em maio deste ano, o projeto Gerando Falcões lançou o game "Missão Favela X" para levar a periferia ao metaverso e contribuir para transformar a realidade de comunidades carentes através dos novos ambientes virtuais emergentes.
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