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AOL de cripto? Especialistas avaliam se Ethereum pode seguir gigante símbolo da bolha pontocom

Analista influente no mercado cripto publicou avaliação polêmica de que blockchain líder no setor pode ser eclipsada por concorrentes

Ethereum é um dos principais projetos do mercado cripto (Reprodução/Reprodução)

Ethereum é um dos principais projetos do mercado cripto (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 9 de fevereiro de 2024 às 16h51.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2024 às 17h04.

O analista Anthony Pompliano, famoso no mercado de criptomoedas, criou uma polêmica nesta semana ao afirmar em uma publicação que a Ethereum pode se tornar a "AOL do mundo cripto". A expressão faz referência à America Online, que surgiu na década de 1990 como um gigante da internet mas acabou falindo e se tornando um símbolo da chamada "bolha pontocom".

Para Pompliano, há indícios de que o blockchain pode passar por um processo semelhante, conforme surgem novos concorrentes que buscam explorar os pontos falhos do projeto, em especial a sua dificuldade em oferecer escalabilidade e velocidade de processamento de dados.

Nesse sentido, a Ethereum pode acabar perdendo investidores e usuários, em um movimento semelhante ao que ocorreu com a AOL. Pompliano afirma ainda que é natural que a pioneira no uso de uma nova tecnologia passe por esse processo, mas ele considera pouco provável que isso ocorra com o bitcoin — o primeiro projeto envolvendo o uso da tecnologia blockchain e que vêm se consolidando como reserva de valor digital.

Por isso, o analista avalia que é a Ethereum, a pioneira no segmento de contratos inteligentes em blockchains, que deverá "sofrer" com essa sina. À EXAME, porém, especialistas ponderam que a avaliação de Pompliano ainda possui poucos indícios que confirmem a previsão.

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Colapso da Ethereum?

Bruno Diniz, professor de inovação voltada para o mercado financeiro na USP, considera que a avaliação de Pompliano é "extrema em alguns níveis". Primeiramente, porque na prática ela envolve a comparação de coisas diferentes. "A AOL era uma empresa provedora de internet. A Ethereum é uma infraestrutura nova para o sistema financeiro".

"Ela pode se tornar obsoleta, mas não parece ser o caso, porque tem um ecossistema forte, de desenvolvedores e soluções baseadas na infraestrutura, está sempre em evolução, melhorando aspectos", opina o especialista. Diniz avalia que a comparação tem mais um "propósito midiático", servindo como uma sinalização que o projeto enfrenta concorrentes e alternativas, mas isso "não tira o mérito da rede".

Ele lembra ainda que "a Ethereum é absurdamente relevante". Outro ponto favorável para o blockchain é que especialistas consideram que o ether seria o "próximo na fila" para obter a autorização da SEC e ganhar ETFs, após o bitcoin receber o sinal verde em janeiro. Isso mostra que "a própria indústria entende a importância do ativo em uma escala hierárquica na criptoeconomia".

Diniz concorda que a rede possui alguns riscos, em especial em torno de velocidade e custos de transação, que têm sido melhor endereçados por concorrentes. É o caso da Solana, que disparou em 2023. Entretanto, a própria Solana voltou a ter problemas técnicos neste ano, indicando que "é cedo para falar em uma perda de espaço".

"Há um esforço do mercado em apresentar soluções, e isso é positivo porque é assim que você tem inovações, novas tecnologias, mas não cravaria que já podemos afirmar que é a Ethereum é a AOL", ressalta. Diniz diz que o projeto ainda é a referência no mercado devido ao próprio esforço de concorrentes de garantirem a compatibilidade com a rede.

"O ecossistema não está parado, não dá sinais de crise. Se em algum momento isso parar, não convencer o próprio ecossistema, aí sim pode falar que está em um momento de mudança. Mas hoje tem espaço para todos esses players também que estão surgindo, a menos que chegue em um momento muito crítico, mas sou cético em relação a isso", pontua.

João Zecchin, sócio-fundador da Fuse Capital, lembra ainda que Pompliano é conhecido no mercado por ser "muito maximalista em bitcoin", ou seja, por acreditar que a criptomoeda e sua rede seriam as únicas verdadeiramente eficientes e com futuro no mercado.

Por isso, é natural que ele acabe "empurrando" a visão de que a primeira versão de uma tecnologia é substituída por algo melhor para a Ethereum, cuja computação descentralizada "enfrenta vários competidores". Porém, Zecchin diz que tanto o bitcoin quanto a Ethereum "têm seus pontos fortes, são incontestáveis no mercado".

Ele avalia que, após um processo de atualização de mais de dois anos, a rede do ether é hoje uma das mais descentralizadas e seguras no mercado. Ao mesmo tempo, projetos com potencial para substituir o blockchain também enfrentam seus desafios em termos de centralização, custo e estabilidade.

Zecchin afirma que vê "um crescimento muito maior na linha de aproveitar o que foi construído na Ethereum, de segurança e descentralização, e criar inovação em uma segunda camada. Não acho que esse argumento de ser a AOL  é feito de forma muito imparcial".

Já Diniz avalia que todas as redes "são projetos, baseados em fundação, é uma forma diferente que operam, é um novo jogo. A AOL era um prevedor de internet, não era a internet. A Ethereum é a própria rede, com seus vários dApps, um ecossistema, desenvolvedores". "É uma referência para redes que suportam contratos inteligentes, e aí tem também um componente de não ser só algo tecnológico, uma questão de adoção também que determinará seu futuro".

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