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A nuvem pode ser tão segura quanto pilotar um superesportivo

Mas como dizia o antigo slogan de um fabricante de pneus: “potência sem controle não é nada”

A BYD Co. Yangwang U9 electric vehicle in Shenzhen, China, on Tuesday, Jan. 16, 2024. BYD debuted its most expensive car on Sunday, a 1.68 million yuan ($233,450) high-performance fully-electric supercar pitted against luxury gas-guzzling options offered by rivals such as Ferrari NV and Lamborghini. Photographer: Qilai Shen/Bloomberg via Getty Images

A BYD Co. Yangwang U9 electric vehicle in Shenzhen, China, on Tuesday, Jan. 16, 2024. BYD debuted its most expensive car on Sunday, a 1.68 million yuan ($233,450) high-performance fully-electric supercar pitted against luxury gas-guzzling options offered by rivals such as Ferrari NV and Lamborghini. Photographer: Qilai Shen/Bloomberg via Getty Images

MZ
Marcello Zillo Neto

Líder de segurança LatAm na Amazon Web Services

Publicado em 30 de março de 2024 às 10h00.

Como tenho feito nos artigos anteriores, trago a seguir uma situação fora do âmbito da cibersegurança e tecnologia com o objetivo de gerar um paralelo que permita esclarecer conceitos importantes de uma forma mais palatável. No artigo de hoje explico que de nada adianta a tecnologia mais avançada se você não conhece e não sabe controlar os recursos disponíveis.

A grande maioria de nós (inclusive eu) aprendeu a dirigir em carros que aqui chamaremos de tradicionais. Carros esses que não conseguem ir de 0km/h a 100km/h em menos de 5 segundos. Sinceramente, o carro que eu aprendi a dirigir com certeza levava minutos para ir de 0 km/h a 100 Km/h - e não era em alguns segundos.

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Quando estamos aprendendo a dirigir, temos medo, erramos e aprendemos. Quando passamos a dirigir com frequência, adquirimos mais confiança e tiramos melhor proveito do recurso (nesse caso, o carro). O que antes era traumático passa a ser prazeroso e a percepção de risco muda, pois passa a ser menor, mesmo sendo o mesmo carro.

Afinal, agora dominamos melhor o carro, sabemos como usar os recursos certos, e quando usar, aplicamos regras importantes, como por exemplo sinalizar com seta e olhar os retrovisores. Aprendemos também que frear na chuva demanda mais atenção. Enfim, várias lições vão sendo aprendidas e nos sentimos muito mais seguros pilotando o mesmo carro tradicional.

Carro superesportivo x carro tradicional

Agora imagine uma situação em que você ganha um carro superesportivo e logo de primeira tenta dirigir da mesma forma que dirige o carro tradicional, usando as mesmas premissas, regras, conhecimentos e práticas. Antes de sair acelerando e entrando em alta velocidade nas curvas seria ideal você entender que existem formas específicas de obter a melhor performance com segurança, desde que você use os recursos corretamente e adapte a forma de pilotar.

Caso não aprenda como usar os recursos do carro corretamente, no melhor cenário você não vai utilizar toda a capacidade que um superesportivo oferece, ou ainda no pior caso, pode sofrer um acidente ao tentar acionar o acelerador com a mesma intensidade que faria em um carro tradicional.

Veja que no melhor cenário você estará desperdiçando a possibilidade de usar todo o potencial da tecnologia disponível, como o motor mais potente, freios mais eficientes, maior quantidade de marchas, um câmbio mais ágil e resistente, recursos de controle de tração, pneus mais largos, mais aderência e uma aerodinâmica otimizada.

E tudo isso por não reconhecer que deveria reaprender a dirigir. Já no pior caso você corre o risco de sofrer um incidente fatal pelo simples fato de não se preocupar em readequar a sua forma tradicional de pilotagem, partindo da premissa equivocada que é tudo a mesma coisa, basta ligar, acelerar, dirigir e frear.

No entanto, se você reconhecer que precisa reaprender e adequar suas práticas de pilotagem, conhecendo e utilizando os recursos existentes no carro, com certeza poderá extrair o potencial máximo do veículo sem perder o controle e com muito mais segurança que em um carro tradicional.

O que um supercarro tem a ver com serviços de nuvem?

Bom, a essa altura do artigo você deve estar se perguntando qual a conexão dessa história de dirigir um supercarro com o uso seguro de serviços de nuvem. Então vamos lá, depois de tudo o que falamos até aqui, se eu perguntasse para você: Existe mais risco ao dirigir um carro superesportivo adotando as mesmas práticas que você adotaria ao dirigir um carro tradicional ? O carro superesportivo é menos seguro que um carro tradicional?

Agora se eu fizesse a mesma pergunta depois de você receber o devido treinamento, ter aprendido a usar todos os recursos do supercarro, com certeza sua resposta seria diferente.

O que eu quero dizer é que no caso da nuvem é a mesma coisa. Se você tentar “pilotar” a nuvem do mesmo jeito que “pilota” o ambiente tradicional de tecnologia, das duas uma, ou você não vai obter todos os benefícios que a nuvem oferece, portanto não vai obter a performance esperada com toda a segurança, ou vai “capotar” na primeira curva com um incidente de segurança que poderia ser facilmente evitado se você tivesse usado o recurso da forma correta.

Trouxe essa analogia no artigo pois é praticamente irresponsável dizer que usar a nuvem traz mais riscos do que usar ambientes de tecnologia tradicionais. Infelizmente vejo empresas, e até mesmo notícias adotando essa narrativa, assustando, causando medo, incertezas e paralisias desnecessárias, sem fundo de verdade, gerando mais dúvidas que esclarecimento e soluções.

Grandes provedores de tecnologia de nuvem investem bilhões de dólares na implementação de controles de segurança, cibersegurança, e possuem times gigantescos dedicados ao tema, pesquisando continuamente como tornar a nuvem ainda mais segura. Para esses provedores não existiria o negócio de nuvem sem segurança. Segurança e privacidade são fatores inegociáveis.

Além disso, os grandes provedores precisam atender a centenas de regulações e inúmeros padrões de segurança em todo o mundo a fim de garantir o alto nível de privacidade e segurança esperado por governos e indústrias diversas em escala global. Adicionalmente, a presença e escala global permite aos provedores de nuvem obter muito mais sinais e inteligência sobre novas tendências, ameaças e ataques cibernéticos que assolam o mundo.

A título de curiosidade, a AWS processa 1 Quatrilhão de eventos de segurança mensalmente, o que permite identificar de forma muito mais abrangente as possíveis ameaças e tendências globalmente. Isso mesmo, quatrilhões (10ˆ15). E clientes de todo o mundo se beneficiam dessa segurança, afinal ao detectar um comportamento anômalo na Ásia, o provedor de nuvem pode criar medidas para proteger os demais clientes do globo, onde quer que estejam.

Vale destacar que a falta de conhecimento de como usar corretamente a nuvem e seus recursos por parte de usuários e administradores são a causa raiz da maioria esmagadora de eventos de (in)segurança que ocorrem na nuvem.

Em resumo, se você está saindo de um ambiente tradicional de tecnologia para a nuvem, isso pode ser comparado a deixar de pilotar um carro tradicional para um superesportivo. Não adianta tentar pilotar o superesportivo considerando os mesmos recursos do carro tradicional. O superesportivo foi projetado para andar em alta velocidade, com performance e segurança, assim como a nuvem.

Portanto quando ouvir alguém dizendo que usar a nuvem é menos seguro que usar um ambiente de tecnologia tradicional, lembre-se do que deve ser considerado para obter melhores resultados ao dirigir um carro superesportivo:

Não adote como premissa que é apenas “dirigir”. Não é a mesma coisa, a forma de fazer as coisas muda.
Reconheça que terá que reaprender como usar melhor os recursos mais modernos, a fim de obter o máximo resultado possível.
Lembre-se que há uma curva de aprendizagem e não existe algoritmo de compressão para a experiência. Comece o mais rápido possível e aprenda com os erros.
Acelere o aprendizado da nova máquina com a ajuda de um piloto experiente.

Caso tenha interesse em se aprofundar em temas relacionados ao uso da nuvem, tecnologia e cibersegurança, não deixe de visitar os artigos anteriores.

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