Mercado de criptomoedas teve 2023 positivos, mas com surpresas negativas (FabrikaPhoto/Envato/Reprodução)
Repórter do Future of Money
Publicado em 27 de dezembro de 2023 às 11h50.
O ano de 2023 chega ao fim para o mercado de criptomoedas com um saldo positivo, marcado por uma resiliência do mercado, lançamento de novos projetos e, principalmente, uma forte recuperação de ativos. Um dos melhores exemplos é o próprio líder do setor, o bitcoin, que valorizou mais de 150% em 12 meses.
Mas, como em qualquer outro segmento da economia, nem tudo foi positivo. O mundo cripto também teve que lidar com um conjunto de surpresas, acontecimentos e cenários negativos para o setor ao longo de 2023, em especial na esfera regulatória.
À EXAME, especialistas apontam quais forma as cinco principais surpresas negativas para as criptomoedas em 2023. Confira:
Theodoro Fleury, gestor da QR Asset, acredita que o maior destaque negativo para o mercado ocorreu em março de 2023. Naquele mês, a economia global foi atingida pela falência de várias bancos regionais norte-americanos, incluindo o Silicon Valley Bank. No mercado cripto, o ativo mais afetado foi a stablecoin USDC, pareada ao dólar.
Após a falência, a Circle - que emite o ativo - informou que uma parte das suas reservas de garantia de paridade estavam depositadas no banco e indisponíveis temporariamente para resgates. "Isso causou um certo pânico e teve um descolamento da paridade da USDC com dólar. A USDC chegou a ser negociada, em alguns momentos naquele fim de semana, abaixo de 90 centavos. Assim com um descolamento de mais de 10%", lembra Fleury.
"Olhando assim parece parece pouco, mas o estrago é muito grande porque uma stablecoin não pode desviar em nada do valor do dólar. E ela estava com uma capitalização de mercado muito grande nessa época", diz. Apesar do ativo ter conseguido recuperar a paridade, o estrago acabou permanecendo.
"Depois disso, o mercado de stablecoins voltou a migrar todo para o Tether, a USDT. A capitalização da USDC despencou e vimos uma migração fortíssima do USDC para o USDT, que voltou a ser de longe a maior stablecoin do mercado", pontua.
Beto Fernandes, analista de criptomoedas da Foxbit, afirma que outra surpresa negativa em 2023 foi o Worldcoin, um projeto liderado por Sam Altman - CEO da OpenAI - e que foi lançado neste ano junto com uma criptomoeda própria, a WLD. Apesar de estar ligado a um nome de peso, a iniciativa tem uma "tensão no ar".
"O projeto, encabeçado por Sam Altman, da OpenAI, teve um hype gigantesco no início, com a promessa de se criar uma identidade digital universal. Porém, muitas críticas se formaram em torno da segurança desses registros, gerando dúvidas sobre vazamentos e usos mal-intencionados dos cadastros individuais", comenta o analista.
Para ele, essa preocupação também "criou uma turbulência e uma famosa pulga atrás da orelha por parte de alguns reguladores em relação aos blockchains e criptomoedas, mesmo que este caso específico não seja capaz de resumir essas duas tecnologias". No fim, o projeto teve uma performance aquém do esperado neste ano.
Outra surpresa negativa para Fernandes foi a intensificação do "cerco regulatório" promovido pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) contra as empresas de criptomoedas que atuam no país. Com destaque para o primeiro semestre, o regulador abriu diversos processos contra as companhias.
A SEC pressionou a Paxos a encerrar a emissão da stablecoin pareada ao dólar BUSD, acusando o ativo de ser um valor mobiliário e ameaçando processar a empresa. Além disso, a corretora Kraken aceitou pagar uma multa bilionária e encerrar seu programa de staking de ativos para evitar um processo.
"A pressão atingiu não só a Binance, uma corretora estrangeira, mas também plataformas locais, como a Coinbase. De fato, é preciso que as exchanges sigam determinadas regras e foi justamente nisso que a SEC pegou no pé. Porém, é compreensível o lado das corretoras em se questionar quais são essas regras, já que não há uma regulamentação formal para este mercado", pondera.
Fabrício Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin, acredita que uma das principais surpresas negativas do mercado em 2023 foi a situação da corretora de criptomoedas Binance. O episódio foi um desdobramento do cerco regulatório nos Estados Unidos, envolvendo uma investigação da companhia que ocorria há anos.
Como resultado, as autoridades concluíram que a Binance violou leis de prevenção à lavagem de dinheiro no país. Para evitar um processo e novas investigações, a Binance admitiu a culpa, aceitou pagar uma multa de R$ 10 bilhões e ainda perdeu seu CEO e fundador, Changpeng Zhao.
"A situação da Binance em 2023 destacou um problema crítico no setor cripto: a negligência de grandes empresas em práticas essenciais como a prevenção à lavagem de dinheiro. A admissão de culpa da Binance confirmou suspeitas da indústria sobre suas falhas em compliance, ressaltando a necessidade de regulação mais rigorosa", afirma Tota.
Para você que adora ler notícias de crypto, a Mynt é o aplicativo ideal para você. Invista e aprenda sobre crypto ao mesmo tempo com conteúdos descomplicados para todos os públicos. Clique aqui para abrir sua conta.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube | Telegram | Tik Tok