Volume em queda, pressão de custos e concorrência: cenário está mais amargo para a Ambev, diz BTG
Rótulos premium aumentam preços médios, mas não devem ser suficientes para impulsionar desempenho da companhia, avalia banco
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 17:09.
Última atualização em 21 de janeiro de 2025 às 17:32.
A Ambev está com menos razões para brindar nesse começo de 2025. Depois de as vendas escalarem nos últimos anos, a dona da Brahma e da Skol começa a ver os volumes caírem enquanto os custos continuam pressionando.
O mercado competitivo e as condições macroeconômicas não dão trégua, levantando dúvidas sobre o ritmo de crescimento sustentável da empresa, observa a equipe de Thiago Duarte, à frente do time de analistas de alimentos e bebidas e head de equity research do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
No quarto trimestre, pelos cálculos do time do BTG, a empresa deve reportar uma receita de R$ 25,8 bilhões, EBITDA de R$ 8,4 bilhões (margem de 33%) e lucro de R$ 4,5 bilhões. O tom do relatório é de cautela, refletindo um ambiente de mercado desafiador.
SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT pelo Whatsapp
O principal destaque desta temporada de resultados será a queda nos volumes, um movimento que marca uma inversão da tendência de crescimento constante observada em 2023.
Embora a estratégia de premiumização da Ambev contribua para um aumento nos preços médios, esses não devem ser suficientes para impulsionar um desempenho mais forte. “A Ambev enfrenta um mercado altamente competitivo, onde a capacidade de aumentar preços sem comprometer a participação de mercado é limitada”, aponta o relatório.
No Brasil, principal mercado da companhia, o cenário é particularmente complexo. O ambiente competitivo preocupa. A expansão da capacidade de produção da Heineken e especulações sobre um possível investidor externo adquirindo participação no Grupo Petrópolis, dono da Itaipava, podem aumentar a pressão sobre a Ambev.
O setor já é bastante maduro e, como líder, o crescimento de longo prazo da Ambev depende de sua capacidade de manter o poder de precificação de forma sustentável.
E, mesmo que demonstre capacidade de adaptação e os números do balanço ainda sejam fortes, potenciais motivos para alta dos papéis no curto prazo parecem limitados, avalia o BTG.
O banco projeta uma queda de 1,3% no volume anual de cervejas no quarto trimestre, em linha com o desempenho da indústria, considerando a expressiva contração de volume da Petrópolis.
Fatores como condições climáticas desfavoráveis—mais frias e chuvosas—e a acirrada disputa por participação de mercado prejudicaram o desempenho. Ademais, a estratégia de premiumização da Ambev continua, mas os aumentos de preços ficaram abaixo da inflação (+3,3%).
Outro desafio foi o impacto do aumento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em 2024, que a companhia optou por não repassar integralmente aos consumidores.
Isso, aliado a maiores despesas de marketing, limitou a expansão das margens no período. Para o segmento de cervejas no Brasil, espera-se um EBITDA de R$ 4,2 bilhões (+5% ano contra ano) e margem de 36%.
Nos demais mercados onde atua, a Ambev também enfrenta desafios variados. Na região LAS (Latin America South ou Sul da América Latina na tradução), espera-se uma queda de 5% nos volumes, embora essa retração seja menor do que a registrada em trimestres anteriores. A receita deve atingir R$ 6,1 bilhões, com EBITDA de R$ 1,8 bilhão (+128% ano contra ano), influenciado positivamente por ajustes cambiais.
Já na região CAC (Central America and Caribbean ou América Central e Caribe), espera-se uma recuperação gradual dos volumes, mas aumentos de impostos no Panamá podem limitar o crescimento. Ainda assim, a lucratividade deve permanecer sólida, com previsão de crescimento de 17% no EBITDA ano contra ano.
No segmento NAB (bebidas não alcoólicas), o BTG projeta um leve crescimento de 2% nos volumes, mas margens pressionadas por custos mais altos de matérias-primas, como o açúcar. O EBITDA no segmento deve crescer 6% na base anual, com margem de 24,1% (-1,90 pontos percentuais).
O perfil de risco-retorno das ações da Ambev melhorou, com expectativas de consenso mais realistas e um rendimento de FCF (fluxo de caixa livre) de 9% projetado para 2025, escreve o time do banco.
Ainda assim, Duarte e sua equipe mantêm a recomendação Neutra para a companhia. “Os resultados do quarto trimestre dificilmente mudarão o sentimento do mercado”, avaliam os analistas, citando como principais motivos a desaceleração dos volumes e a pressão nos custos.
A companhia divulga seus resultados do quarto trimestre de 2024 no dia 26 de fevereiro, antes da abertura do mercado.
Em 12 meses, as ações da Ambev caem 16% em 12 meses.
Saiba antes. Receba o Insight no seu email
Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado