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Via Varejo

Via: provisão trabalhista dobra, para R$ 2,5 bi, e vendas físicas caem 14%

Expansão de market-place ajuda a segurar vendas, mas mesmo assim receita cai 6%, para R$ 7,4 bilhões no terceiro trimestre

Via: cartões co-branded totalizam 5,2 milhões ao fim de setembro (Nadia Sussman/Bloomberg)
Via: cartões co-branded totalizam 5,2 milhões ao fim de setembro (Nadia Sussman/Bloomberg)

Publicado em 10 de novembro de 2021 às 20:55.

Última atualização em 11 de novembro de 2021 às 11:06.

Mini-trator, fritadeira industrial, saxofone, chocadeira automática. Esses são apenas alguns exemplos de produtos que foram vendidos por funcionários da Via, dona das Casas Bahia e do Ponto Frio. Mas isso só foi possível porque agora a companhia conta com um market-place com 108 mil sellers, ou seja, outros varejos abrigados dentro de seu canal digital — o chamado 3P. Esse grupo adicionou nada menos do que 34 milhões de itens ao canal de vendas. “É sortimento infinito”, ressalta Roberto Fulcherberguer, presidente da companhia, em entrevista ao EXAME IN. “Importante ressaltar que 49% vem da tal da cauda longa, ou seja, estão distantes daquilo que era o nosso core original.”

Essa expansão — eram 10 mil sellers no fim de 2020 — foi o que ajudou a Via o GMV total, venda total da empresa, a mostrar um leve crescimento de 6%, para R$ 11,1 bilhões no terceiro trimestre. As vendas no market-place aumentaram 133% e somaram R$ 2 bilhões, ou 30% de todas as vendas digitais da empresa. Com isso, as vendas digitais totais aumentaram 35%, para R$ 6,6 bilhões, representando cerca de 60% do GMV da Via. “Quando nós entramos na companhia, no quarto trimestre de 2019, essa fatia era de 29%”, relembra Fulcherberguer.

Apesar de já estar mostrando ganho de tração, o 3P da Via ainda não agregou grande diferença ao resultado para além do volume do GMV. O motivo é o esforço de atração de vendedores feito pela empresa, que isentou os novos parceiros do chamado take rate, ou seja, a fatia que fica no bolso da companhia, no segundo e no terceiro trimestre.

Mesmo com tudo isso, não deu para fugir do cenário macroeconômico de inflação e juros em alta, simultaneamente. Algo que historicamente sempre atingiu Via, Magalu e suas concorrentes no coração do negócio. A receita líquida da companhia caiu 5,9%, para R$ 7,35 bilhões, de julho a setembro, na comparação com igual período do ano passado. De outro ângulo: as vendas nas lojas físicas recuaram 14,3%, para R$ 5,2 bilhões, de julho a setembro. Ou seja, caiu mesmo em relação ao período da pandemia de 2020.

A margem bruta, porém, subiu de 29,6% para 31,0%. O Ebitda ajustado a eventos extraordinários teve leve alta, de 6,7%, para R$ 669 milhões, o que fez a margem subir de 8% para 9,1%. Na comparação anual, o lucro líquido ficou praticamente estável, em R$ 101 milhões.

A expectativa do presidente da Via é que a partir do quarto trimestre o market-place da Via comece a contribuir mais com o balanço, uma vez que acabam as promoções de isenção para os sellers e também começam mais forte os serviços nos quais a empresa compartilha sua logística com os vendedores da plataforma e também suas soluções financeiras. “Haverá também a venda de adds (publicidade).”

Provisão trabalhista

Esses são os números, porém, sem a surpresa negativa do trimestre. A Via ampliou as provisões para perdas com ações trabalhistas. O total separado para essas contendas dobrou, passando de R$ 1,2 bilhão em junho para quase R$ 2,5 bilhões ao fim de setembro. Com isso, o Ebitda contábil do trimestre é negativo em R$ 342 milhões, com prejuízo de R$ 638 milhões. Essa informação, certamente, vai ofuscar qualquer dado outro do balanço.

As ações da Via (VIIA3, ex-Via Varejo) caem mais de 10% na manhã desta quinta-feira, após a companhia apresentar aumento de mais de 100% nas provisões trabalhistas, de 1,2 bilhão para 2,5 bilhões de reais.

Orivaldo Padilha, vice-presidente financeiro da Via, explica que essa alta é fruto de um aumento da ordem de 32% nos tíquetes das ações trabalhistas. “Tínhamos 75 mil funcionários em 2011 e hoje são 46 mil”, relembra.

Ele afirma que esses desligamentos ao longo do tempo refletem a terceirização de diversos serviços, como transporte, montagem de móveis e até a automatização da análise de crédito, que já demandou o esforço de um time com 5 mil pessoas. “Estão chegando agora as execuções de processos de pessoas que foram demitidas e tinham muito tempo de casa. São os mais caros”, diz o executivo, lembrando que são casos abertos principalmente entre 2014 e 2015.

Para lidar com a novidade nada agradável, a Via montou até mesmo um vídeo didático — especialmente preocupado com sua grande base de investidores pessoas físicas.

A companhia, entre outras coisas, quer demonstrar que isso não deverá ter grande impacto sobre sua liquidez e nem haverá risco ao negócio. Para enfrentar esse salto, Padilha lembra que a empresa também tem direito a R$ 9,5 bilhões em créditos tributários, dos quais R$ 6,2 bilhões são devoluções de impostos sobre a receita. “Estamos ampliando nossos esforços para transformar esses direitos em caixa, e conseguir de fato receber esses pagamentos.”

Como o ditado já diz que “o bem se faz aos poucos e o mal, de uma só vez”, a Via também há informou aos investidores que se transformou em um alvo recorrente de ações trabalhistas, fruto do esforço organizado de profissionais especializados em captar causas. Muitas vezes, esse trabalho conta com call centers e até mesmo o adiantamento de pagamentos. O número de processos abertos neste aumentou 82%. Foram mais de 10 mil novos processos. “Esses são mais ligados à pandemia e tem tíquetes bem menores.” A companhia está estruturando uma resposta a essa questão.

Padilha afirma que, neste ano, até setembro, o líquido entre recuperação de impostos e pagamento de ações está positivo em R$ 90 milhões. A expectativa é que em 2022 as duas contas se anulem e, em 2023, que a cada R$ 1 pago, R$ 3 serão recuperados em impostos passados.

A reação à novidade virá no pregão de amanhã, quinta-feira. A companhia está avaliada hoje em R$ 11,3 bilhões, com a ação cotada em R$ 11,30, após um tombo de 6,5%. Pelo visto, os investidores já pressentiam.

BanQi

Vão ficar escondidas as novidades da empresa na frente financeira. A abertura de contas no BanQi se acelerou e quase 1 milhão de novos clientes ingressaram na plataforma somente no terceiro trimestre, elevando o total a mais de 3,6 milhões. O ritmo aumentou substancialmente frente ao segundo trimestre, quando a adição foi de 596 mil usuários.

O total de pagamentos transacionados (TPV) somou R$ 595 milhões, de julho a setembro, comparado a um número quase inexistente no ano passado e a R$ 399 milhões no segundo trimestre. A alta, portanto, foi de quase 50% em apenas três meses.

A plataforma da Via mostra o maior engajamento de clientes do que qualquer outro neobanco do mercado, segundo relatório do Bofa Merrill Lynch, de 65%, seguida por Ame Digital (58%), Banco Pan (49%) e Nubank (44%), nessa ordem

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