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Sem pechincha e com boas escolhas: as lições de Bartunek e Behring em investimentos (e na vida)

Na Brazil Conference, CEOs da Constellation e da 3G Capital explicam por que a visão de longo prazo e a escolha de boas companhias valem mais que a busca por barganhas

Behring e Bartunek: na carreira, o mais importante são aqueles com quem você anda (Brazil Conference/Divulgação)
Behring e Bartunek: na carreira, o mais importante são aqueles com quem você anda (Brazil Conference/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 13 de abril de 2025 às 18:38.

Cambridge, Massachusetts* — “Ganhei mais dinheiro com coisas boas do que com coisas baratas.” A frase resume a lógica de investimentos de Florian Bartunek, CEO e fundador da Constellation Asset, mas, também, uma lição que se tornou ainda mais relevante em tempos de crises recorrentes e ciclos de mercado cada vez mais curtos.

Para o gestor, a tentação de investir em ativos depreciados pode ser forte, mas o verdadeiro retorno costuma estar nos ativos de alta qualidade — ainda que pareçam caros no momento da compra. “O que aprendemos é que para ganhar dinheiro tem que fazer investimento em longo prazo. O compounding ajuda”. Entre os investimentos da Constellation estão a Natura e a Raia Drogasil.

Numa conversa de uma hora, estudantes brasileiros reunidos em um dos auditórios do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) saíram com lições de carreira e do jeito de investir de Bartunek e Alex Behring, cofundador da 3G Capital, na edição de 2025 da Brazil Conference.

Na plateia, também estavam o chairman do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) André Esteves, Luiz Carlos Trabuco Cappi, chairman do Bradesco, Jorge Paulo Lemann e Henrique Dubugras, fundador da Brex.

Bartunek reforçou a tese ao explicar que oportunidades raras aparecem para quem tem paciência: “O mercado privado dificilmente te dá a chance de comprar barato uma empresa boa. Já na Bolsa, a cada cinco anos, vem uma crise e a oportunidade aparece”, disse.

Para ambos, o que distingue as empresas que resistem ao tempo é a obsessão pelo cliente e a presença de um acionista ou liderança com visão de longo prazo. Bartunek citou exemplos como Mercado Livre, Nubank e Weg para mostrar que negócios amados pelos clientes tendem a construir valor consistente — mesmo que o preço de entrada pareça elevado. "Quem te disrupta é o cliente", afirmou. "Se você não tratar bem o cliente, ele vai embora."

Behring reforçou que a existência de um dono ou de uma liderança que se comporte como tal é determinante para o sucesso duradouro. O modelo da 3G Capital se diferencia do private equity tradicional justamente por não buscar uma saída a curto ou médio prazo e por se envolver na gestão dos negócios.

Expandir o Burger King em mercados emergentes, por exemplo, só foi possível porque a gestão olhava além dos resultados trimestrais. “Muitas decisões têm benefício só no futuro. Se você pensa apenas no curto prazo, você não as toma.” A 3G Capital é acionista de referência na RBI, dona da rede de fast food globalmente.

Segundo Bartunek, essa é uma vantagem estrutural: “O dono toma decisão difícil, toma risco. Uma corporation é muito difícil de tomar risco. O dono pensa no longo prazo que, às vezes, a corporation não toma”, afirmou.

Lições, também, de carreira...

A conversa também abordou a importância de coragem nas mudanças de carreira. Para Bartunek, muitas vezes o maior desafio não é encontrar o caminho certo, mas ter disposição para dar o primeiro passo. “Vejo muita gente ótima em diagnóstico e solução, mas poucos têm coragem de agir”, disse.

Outro ponto de convergência foi a escolha de parceiros e equipes. Quando jovem, as pessoas costumam ter muitas dúvidas: o que fazer, onde fazer, quanto vou ganhar e deixar de ganhar. “Mas o que tem um peso muito grande é o com quem, porque é uma fase de desenvolvimento muito grande”, diz Bering, que destacou o trabalho próximo ao trio 3G, Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, foi o que mais acelerou seu aprendizado e deu segurança para assumir riscos maiores no futuro.

“Evite babacas”, acrescentou Bartunek em tom de brincadeira. "Achar sócio é uma coisa difícil. Mas se você for gente boa, vai atrair gente boa. As pessoas querem estar com gente ética. Tem que ter as pessoas que têm os mesmos valores que você.”

Os dois também falaram sobre o envolvimento com projetos de educação. Bartunek atua em iniciativas como o Instituto ProA e a Fundação Estudar, enquanto Behring dedica esforços à formação de talentos na área digital por meio da Fundação Behring. “Filantropia não é caridade, é resolver problemas grandes”, resumiu Bartunek.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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