Rio Tinto oferece US$ 7 bi por Arcadium e faz aposta alta no mercado de lítio
Oferta vem em momento de desaceleração da demanda por veículos elétricos, o que está derrubando o preço do material usado nas baterias
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 9 de outubro de 2024 às 17:07.
A Rio Tinto chegou a um acordo para comprar a Arcadium Lithium, uma mineradora baseada nos Estados Unidos e especializada em lítio, num movimento que deve colocar a anglo-australiana como a terceira maior produtora do mundo do material crítico para a eletrificação.
A aquisição de US$ 6,7 bilhões vem num momento em que em que a demanda por veículos elétricos está desacelerando, o que está derrubando o preço do lítio.
A mineradora aposta, porém, que o excesso de oferta de lítio vai se reverter no final da década.
O fornecimento de lítio é uma das incertezas para a indústria automobilística, uma vez que a projeção é de escassez do material conforme a frota global migra para o uso de baterias.
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Mas o preço não chega a ser exatamente uma barganha – ao menos para parte do mercado.
“Nossa avaliação inicial sugere que um múltiplo premium foi pago, a menos que a Rio Tinto consiga demonstrar sinergias significativas e/ou expectativas de preços futuros do lítio consideravelmente mais altos”, escreveu a equipe do banco de investimento canadense BMO Capital Markets.
Ao valor de US$ 5,85 por ação, a oferta traz um prêmio de 90% sobre o fechamento anterior às notícias de negociação entre as duas companhias. Também é mais do que o dobro do preço médio do papel nos últimos três meses.
Mas o CEO, Jakob Stausholm , defende que adquirir a Arcadium Lithium é um passo significativo na estratégia de longo prazo da Rio Tinto em meio à transição energética. “Esta é uma expansão contracíclica alinhada com nossa estrutura disciplinada de alocação de capital, aumentando nossa exposição a um mercado atrativo e de alto crescimento no momento certo do ciclo.”
É o maior M&A da Rio Tinto desde 2007, quando a mineradora comprou o grupo canadense de alumínio Alcan por US$ 38 bilhões, operação da qual ainda guarda um gosto amargo.
Na esteira da Rio Tinto, já tem um projeto de lítio próximo preste a começar a produção na Argentina. Outro projeto previsto na Sérvia está paralisado por conta de protestos.
Formada pela fusão da Allkem e Livent no ano passado (quando foi avaliada em US$ 10,6 bilhões), a Arcadium foi projetada para ser o terceiro maior produtor de lítio do mundo até 2027, atrás apenas da Albemarle e da Chile’s SQM.
Produz lítio na Argentina, Austrália e Canadá, e possui instalações de processamento na China, Estados Unidos e Japão. Seus clientes incluem montadoras como Tesla, BMW, Toyota e General Motors.
A Arcadium deve contribuir com uma produção anual imediata de cerca de 75.000 toneladas de equivalente de carbonato de lítio, mas tem planos de expansão para dobrar a capacidade até o final de 2028.
As ações da Arcadium subiam mais de 30% nesta quarta-feira, na Nyse, a Bolsa de Nova York. Os papéis da Rio Tinto fecharam estáveis na Bolsa de Londres, mas acumulam perda de 6% nos últimos cinco dias, com a queda acentuada desde o anúncio das negociações.
A aquisição ainda depende da aprovação de pelo menos 75% dos acionistas da Arcadium, mas um investidor já disse ao Financial Times que deverá votar contra o negócio, pois está buscando um valor mais próximo de $8 bilhões.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado