Logo Exame.com
bolsas-de-valores

“Que vença o melhor”: nova bolsa no Rio quer trazer de volta competição no mercado de capitais

Em gestação há mais de uma década nova plataforma que começar a operar no próximo ano e ser mais rápida e mais barata que a B3

Bolsa do Rio: objetivo é começar com o “básico”. Ou seja, mercado à vista, aluguel de ações e negociação de cotas de fundos
Bolsa do Rio: objetivo é começar com o “básico”. Ou seja, mercado à vista, aluguel de ações e negociação de cotas de fundos

Publicado em 8 de julho de 2024 às 11:39.

Última atualização em 12 de julho de 2024 às 19:52.

Pé na areia, copo Stanley e... coletinho puffer? O Rio de Janeiro está mais perto de ter, de novo, uma bolsa de valores, o que vem gerando uma série de memes nos grupos e canais de redes sociais voltados para o mercado financeiro.

SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT pelo Whatsapp

O próprio prefeito da capital Eduardo Paes aproveitou para, em vídeo, fazer uma caricatura debochada e bem-humorada ao melhor jeito carioca bonachão do lifestyle dos Faria Limers ‘uns puta cara legal’.

Piadas à parte, ele falou sério quando sancionou uma lei que reduz o ISS de serviços de liquidação da clearing e de bolsa de Valores de 5% para 2%.  

O projeto é um sonho de longo tempo da Americas Trading Group (ATG), que por quase uma década tenta abrir uma nova bolsa, com o entendimento de que há, sim, espaço para competição com a B3.

Num momento em que o mercado de renda variável anda um tanto chocho no Brasil, sem um IPO há quase três anos, pode parecer uma premissa esticada.

Mas o argumento é de que, para todos os produtos do mundo, de academias de ginástica a venda de água, as pessoas competem pelo mesmo público consumidor. E sempre tem mercado, diz Cláudio Pracownik, CEO da ATG.

“Seja qual for o mercado que existe, cabe competição. Competição gera eficiência. Eficiência gera redução de preço. E isso traz mais volumes.”, diz.

Advogado de formação, Pracownik diz que “não conseguiu fugir do mercado financeiro”, onde atua desde o começo de sua carreira. Em 1989 entrou no antigo Pactual, desde então passou por diferentes instituições, como Santander, Bradesco e Genial Investimentos.

Mais recentemente estava à frente da Win The Game, uma joint venture criada por ele e o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) para conectar clubes de futebol com o mercado financeiro.  

Em fevereiro deste ano, a convite do Mubadala, passou a comandar a ATG. A chegada da gestora de um dos principais fundos soberanos de investimentos de Abu Dhabi foi o ponto de virada para a nova bolsa.

Os árabes se tornaram acionistas de referência da ATG no início de 2023, garantindo recursos para que ela tivesse sua própria clearing.  

Quando tentou abrir uma nova bolsa anteriormente, a ATG enfrentou muita resistência da então Bovespa, que vetou o acesso à central depositária e clearing.

Isso gerou um processo de arbitragem e com a compra da Cetip, em 2017, a mediação do Cade determinou a assinatura de um contrato entre a B3 e a ATG, tornando obrigatória a prestação de serviço de depositária.

“Foi uma luta que não contava com o apoio da Bovespa à época. Mas não há mais Bovespa. Hoje é a B3, uma empresa de companhia aberta, que tem boas práticas de governança. Temos tido deles todos os sinais de que vão colaborar na instalação da nossa bolsa”, diz Pracownik.  

A instalação de uma nova bolsa também só é possível pela edição, em 2022, da resolução 175 da CVM, que prevê condições, documentos e o cronograma para sua criação.

A expectativa é de que a plataforma esteja tecnologicamente pronta para operar no fim deste ano. A partir daí, o Banco Central e a CVM testarão o sistema por cerca de seis meses, numa simulação real, com corretores, investidores e depositária conectados.

Testes validados, a ATG tem seis meses para colocar a operação para rodar em definitivo ou terá que começar tudo de novo.  

Mais rápido e mais barato

O tamanho do bolso do investidor estrangeiro deu novo fôlego ao projeto, que pretende conquistar participação de mercado oferecendo soluções mais ágeis e econômicas para o serviço de negociação de ações. 

“Nós queremos apresentar nossos diferenciais e entrar para o jogo com as mesmas regras e mesmo juiz. É só isso que a gente está pedindo. E que vença o melhor – não necessariamente o maior”, diz.  

Um desses diferenciais, diz a ATG, está na capacidade operar a custos mais baixos. Hoje a empresa tem 105 funcionários, mas em breve terá 200 pessoas. A B3 tem em torno cerca de 4 mil.

“Eles têm imóveis, data centers, enquanto tudo nosso é na nuvem, com tecnologia totalmente proprietária. É um custo muito menor: temos tudo para ser uma bolsa mais rápida, eficiente e barata”, afirma.    

Um exemplo prático é o tempo de negociação das ações, que, segundo Pracownik, será mais ágil que o atualmente praticado no Brasil.

“E tão importante quanto a rapidez, é que ela seja constante. Hoje, muitas vezes, quando uma ordem é enviada e depois cancelada, o cancelamento chega antes do próprio envio. Com a concorrência, a B3 vai correr para ser mais rápida. E quem ganha é o mercado.”   

Sem listagens

A nova bolsa da ATG, no entanto, não pretende “roubar” as empresas da B3, mas oferecer uma segunda opção de negociação que aumente o volume do mercado.

Ela irá começar com o “básico”: mercado à vista, aluguel de ações e negociação de cotas de fundos. Um segundo passo serão os derivativos. A expectativa é que a empresa supere 4% de participação de mercado já em seu ano de estreia – o suficiente para atingir o breakeven.  

Mas a ambição da ATG é maior, e tem o tamanho do mercado brasileiro. A meta é atrair todas as ações hoje negociadas na B3 para que também estejam disponíveis na concorrente.

“As pessoas se confundem e acham que o mercado é a B3, mas a B3 é uma prestadora de serviços para o mercado. Nos EUA, ninguém sabe em qual das 16 bolsas você negociou a ação: a escolha da corretora é pelo melhor preço.”   

A nova bolsa brasileira não pretende atuar em listagens – ao menos no primeiro momento.

A ATG deve anunciar em breve o nome oficial, mas Pracownik já adianta que não será a “bolsa do Rio” e, sim, um novo ambiente de negociação nacional, como a B3.

Além do incentivo público, a escolha da cidade veio com a proximidade do Mubadala, que está localizado no Leblon. Entra na conta ainda a disputa por mão de obra qualificada, que é mais acirrada em São Paulo que na capital fluminense.  

Dentro do Rio de Janeiro, a localização da nova bolsa ainda está em estudo. A prefeitura ofereceu sem custo o prédio do Automóvel Clube, um ponto histórico onde o presidente João Goulart fez seu último discurso no cargo em meio à pressão dos militares e que está sendo restaurado.  

Deve atender, porém, a dois critérios principais: proximidade com o aeroporto e uma boa vista da cidade maravilhosa. “É um dos grandes diferenciais do Rio”, brinca Pracownik, acrescentando que “no Rio, tem o Flamengo”, seu time de coração. “Temos que lutar com as armas que temos.” 

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

Beatriz Quesada

Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Jornalista na cobertura de negócios e mercados há seis anos, é repórter na EXAME desde 2020. Tem passagens pela Rádio Band News FM e revista Capital Aberto.

Continua após a publicidade
Dejà vu: JBS bate (de novo) o consenso, puxada por Seara

Dejà vu: JBS bate (de novo) o consenso, puxada por Seara

ENTREVISTA: Com excessos no crédito, "pessoa física virou o novo BNDES", diz Bruno Garcia, da Truxt

ENTREVISTA: Com excessos no crédito, "pessoa física virou o novo BNDES", diz Bruno Garcia, da Truxt