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Agronegócio

Pink Farms busca R$ 4 mi e embaixadores para marca com crowdfunding

Fazenda vertical urbana fará terceira rodada de capital semente via crowdfunding aberto ao público, em busca de investidor-consumidor

Pink Farms: produção de folhosas de 1,7 tonelada ao mês em plena Vila Leopoldina (@danmagatti/Divulgação)
Pink Farms: produção de folhosas de 1,7 tonelada ao mês em plena Vila Leopoldina (@danmagatti/Divulgação)

Publicado em 31 de janeiro de 2021 às 17:09.

Última atualização em 31 de janeiro de 2021 às 19:02.

A Pink Farms não se chama assim por acaso. Não é moda, militância ou marketing. A operação da startup, que é uma fazenda vertical urbana fundada em 2017, é toda rosa. E rosa fica quem a visita. A tonalidade vem da mistura das cores azuis e vermelhas, perfeitas para produção de folhosas, e se espalha pelo galpão localizado em plena Vila Leopoldina, na capital paulista. Investida da SP Ventures e da Capital Lab, em duas rodadas de R$ 2 milhões cada, a empresa quer agora mais R$ 4 milhões.

Os recursos vão ajudar a pavimentar o caminho para o projeto da companhia, que é ganhar São Paulo e, então, conquistar o Brasil. E, depois do país, a América Latina. Sim, o sonho grande.

Atualmente, a produção é de 1,7 tonelada de folhas por mês — sim, por mês — comercializadas para 35 pontos de varejo da cidade, de restaurantes a supermercados. Tudo isso ocupando 25% da capacidade de um galpão que equivale a 500 metros quadrados de área para cultivo. Com o dinheiro novo, a ideia é dobrar a produção nesse ponto — e deixar o restante do espaço para pesquisas — e ter fôlego para buscar mais um galpão. Na mira, dessa vez um terreno com 5 mil metros quadrados, em outro bairro da cidade.

Mas, no lugar de recorrer à sua base de sócios para essa rodada, a empresa decidiu ir por outro caminho: o do crowdfunding. Longe da conhecida vaquinha virtual apenas por uma boa causa, em que os recursos são praticamente doados, aqui estão atrelados a uma fatia de 14,9% da companhia, por meio de uma debênture conversível (dentro de dois anos).

O objetivo desse formato, porém, é buscar muito mais do que o dinheiro. “Acreditamos que dessa forma vamos conseguir atrair investidores-consumidores que atuam como verdadeiros embaixadores da marca”, explica Geraldo Maia, sócio-fundador e presidente da Pink Farms. “Desde que criamos o negócio, em 2017, eu e meus dois sócios sempre tivemos muito claro que vamos apostar na marca. Não é só abastecimento. É produto.”

Antes da pandemia, a abertura da produção para visitação fazia parte dessa estratégia de posicionamento. Com cerca de 8 mil seguidores no Instagram, entre 5% e 10% dessa base já foi pessoalmente ver os prédios cor-de-rosa de verduras. A ideia é reabrir as portas quando possível e seguro.

Fora do Brasil, o crowdfunding é cada vez mais usado e por aqui vem ganhando adeptos, enquanto o venture capital não é acessível ao público geral. Uma das principais fintechs da Inglaterra, a Monzo, avaliada em quase US$ 2 bilhões, nunca usou outra modalidade. Nada de fundos de capital semente ou de risco, nem mesmo oferta pública inicial (IPO) em bolsa.

Entre os motivos do sucesso dessa estrutura, está a relação direta criada entre quem investe e as companhias e suas causas. É uma nova comunidade que se forma. É quase um marketing reverso. No lugar de pagar para se divulgar, os negócios atraem sócios que atuam na sua divulgação.

A captação é organizada por uma plataforma regulada e registrada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que, além de promover a oferta, investe junto e ainda estrutura toda a parte informacional para os investidores — trata-se da SMU, a primeira plataforma de crowdfunding do Brasil, fundada em 2013. A captação abriu ao público — sim, qualquer público — na semana passada. O investimento mínimo é de R$ 5 mil.

Em agosto do ano passado, o regulador brasileiro do mercado flexibilizou a instrução justamente para facilitar captações por empresas de pequeno porte por meio dessas plataformas.

De acordo com Geraldo Maia, a avaliação implícita do negócio nessa rodada varia de R$ 18 milhões a R$ 22,5 milhões. Mas conta de startup não é assim tão linear. A fatia no capital relacionada a atual captação está atrelada à captação série A que a companhia fizer no futuro, quando alcançar uma avaliação de R$ 30,5 milhões.

Pink Prédio

Pink Farms: tonalidade é resultado da mistura de luzes vermelhas e azuis, perfeitas para desenvolvimento das folhas (@danmagatti)

Quem investe via crowdfunding, coloca dinheiro em uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) aos cuidados da SMU. Essa sociedade, por sua vez, compra os títulos da Pink Farms.

A startup foi criada por três sócios engenheiros — dois elétricos e um de produção — apaixonados por cultivo. Aliás, essa paixão pelo negócio e seu propósito é algo que Maia volta e meia deixa evidente em meio às suas explicações sobre a operação ou sobre a história da empresa.

A companhia é a clássica startup. A receita é grande para quem viu a operação crescer e pequena para quem olha de fora. Em 2021, sem contar as expansões planejadas, deve totalizar R$ 1,5 milhão.

A vida nesse tipo de negócio tem outra lógica. Quando questionado sobre break-even e lucratividade, Maia manda logo a real: “não é o objetivo agora.” Depois do papo reto, explica melhor: “se eu só fizer a produção e venda, dá resultado, mas agora é hora de investir forte em pesquisa e desenvolvimento. E ainda tem uns 10% em automação que precisam ser melhorados.”

Atentas a formas de estar perto do consumidor — o transporte para abastecimento dos grandes centros gera um nível de perdas da ordem de 40%, isso sobre aquilo que não foi perdido durante a própria produção —  as fazendas urbanas estão se multiplicando pelo mundo. Entre os projetos globais de destaque estão AeroFarms, Plenty, Bowery Farming, 80 Acres e InFarm. Ao longo dos últimos cinco anos, esse modelo já movimentou perto de US$ 1,3 bilhão em captações.

Os motivos para chamar tanta atenção são os índices de produtividade absurdamente maiores que do campo e a proximidade com o mercado consumidor, além da economia de recursos naturais e insumos. Maia explica que a produtividade é 100 vezes superior por área, o consumo de água é 95% menor e o uso de fertilizantes, 60% mais baixo. O resultado são verduras sem insetos, limpas (não precisam sequer de lavagem antes do consumo ou transporte) e crocantes — e livres de sazonalidades e efeitos de intempéries.

Nesse momento, a Pink Farms tem uma lista de 50 a 60 variedades que podem ser produzidas dessa forma, mas a produção propriamente está concentrada em 15 tipos — todas folhosas. Na lista do que será acelerado, estão pesquisas para dar a largada na produção de tomate, morango e outras variedades.

Mas, tanta tecnologia, tem preço. Isso para não falar no próprio custo urbano mesmo, de espaço e mão-de-obra. Vencer a escala do campo e o conhecimento milenar da agricultura tradicional ainda está longe de ser uma tarefa trivial. Ainda mais no Brasil, o país do agronegócio. Mas a Pink Farms está disposta a mostrar que a operação, mais do que viável, é melhor para as cidades.

Para quem decide. Por quem decide.

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